Produção artesanal de cerveja vira moda





Amantes da cerveja, a bebida alcoólica mais consumida no país, descobriram no fermentado de cereais um novo hobby: a produção artesanal. No ano passado, o número de produtores caseiros aumentou na cidade.

O estudante de engenharia de produção Guilherme Vitor dos Santos produz cerca de 40 litros da cerveja em casa. A paixão pela bebida artesanal teve início em 2011, entretanto, ele só começou a produzir dois anos depois, após um curso na casa de um mestre cervejeiro.

“Fiz o curso em Boituva, com o cervejeiro da Hoffen, de Votorantim. É em um dia só. Aprendi o básico, os processos, os tipos de cerveja, as leveduras. Para aprender mesmo, é colocando a mão na massa, não tem muita teoria, não”, comentou.

A produção de cerveja caseira demanda tempo e paciência do cervejeiro iniciante. Os ingredientes, antes escassos no mercado nacional, são facilmente encontrados em sites especializados na internet.

“Os ingredientes, hoje em dia, estão fáceis de comprar. A maioria deles é importada. Já temos malte de cevada nacional. Os maltes que vou usar na próxima receita são da Argentina e Alemanha. Os lúpulos são da Nova Zelândia e Inglaterra”, contou.

Para fazer a bebida, Santos comprou equipamentos, improvisou panelas e gastou cerca de R$ 200 com o básico. Todas as etapas de fabricação são feitas pelo estudante: a brassagem (“cozimento” do malte), filtragem, resfriamento, fermentação e maturação, a mais demorada do processo.

“O período de maturação dura mais ou menos uns 30 dias. Depois, eu engarrafo e a cerveja fica em temperatura ambiente por uma semana, para carbonatar (gaseificar). Aí, pode tomar”, explicou.

As garrafas usadas pelo estudante são reaproveitadas de cervejas artesanais compradas. Um amigo de Santos é dono de loja de cervejas importadas e fornece garrafas usadas para o cervejeiro.

“Eu tiro o rótulo, limpo, faço a sanitização e reutilizo a maioria. Nunca precisei comprar garrafas. Uso ácido peracético para a higienização, mas tem gente que usa o álcool hospitalar”, afirmou.

Cada receita concretizada por Santos produz aproximadamente 20 litros da bebida, que são envasados em embalagens de 600 mililitros.

Um diferencial de se fazer cerveja em casa é que o produtor pode deixar a imaginação tomar conta e colocar os ingredientes que quiser — desde que não estrague o produto final. Uma das cervejas feitas pelo estudante teve no preparo hortelã e cevada defumada com bacon.

“Eu falo para meus amigos pararem de frescura e fazerem cerveja em casa. Não pode ter medo de errar. Até hoje não tive nenhuma que não ficou boa, eu gostei de todas”, contou.

Santos afirmou que sempre tenta mudar as receitas, e garante que nunca repetiu. Mesmo que tente fazer igual a outra, qualquer diferença no preparo terá como resultado uma cerveja única, com características que a destacam das demais.

Entre as variações já feitas pelo estudante, estão o “India Pale Ale”, conhecida como “IPA”, “Dry Stout”, “India Pale Larger”, “Berliner Weisse” e a “pilsen”, esta última conhecida pelos brasileiros. Entretanto, Santos garante que a pilsen artesanal é bem diferente da industrializada, encontrada em supermercados e bares.

Uma das cervejas mais diferentes é a Berliner Weisse, conhecida como “champanhe de Napoleão”. A receita, produzida com lactobacilo e ácido láctico, tem o paladar diferenciado pela acidez e por parecer que leva suco de limão na composição.

“A Berliner Weisse tem uma característica que é o sabor de limão. O pessoal que tomou me perguntou se eu coloquei a fruta na receita, mas não coloquei”, contou.

A graduação alcoólica das cervejas artesanais varia conforme o processo de brassagem, que extrai diferentes tipos de açúcares do malte, e a levedura usada.

“Para cada quantidade de açúcar que você terá na receita, você tem um tipo de levedura específica. Tem leveduras que chegam a 12% de álcool, tem outras que chegam a 8%, e por aí vai”, explicou.

De modo geral, a graduação alcoólica das cervejas produzidas por Santos varia entre 4% e 6% de álcool. A mais fraca, a Berliner Weisse, tem 4,2%, enquanto a India Pale Larger, 5,6%.

“Nunca fiz cerveja muito forte. Agora que está frio, estou pensando em fazer uma “Russian Imperial Stout”, que é mais forte e carregada no álcool, um pouco mais lupulada, uma característica de café, chocolate”, planeja.

A produção de cerveja aproximou Santos de novos amigos, que também produzem. Nos encontros, os cervejeiros levam meia dúzia de garrafas e experimentam um a cerveja do outro.

Com a produção própria, o cervejeiro praticamente abandonou as cervejas industrializadas, que toma somente em festas de amigos. “Tomo Heineken, mas é difícil. A gente vai ficando ‘frescurento’ e, com o tempo, vai criando uma aversão às cervejas comerciais”, declarou.

O estudante afirmou que o número de pessoas que faz cerveja em casa aumentou no último ano. “Antes, eu conhecia dois ou três, hoje, conheço uns dez só de Tatuí. Parece que teve um ‘boom’ no ano passado”.

Um dos colegas de Santos que faz cerveja é Patrick Sarnighausen, profissional da informática. Sarnighausen começou a fazer cervejas em casa há três anos.

“Não sigo muito as receitas, faço do meu jeito, com os ingredientes que gosto. Se ficar focado muito na teoria, perde a graça de fazer em casa”, afirmou Sarnighausen.

O técnico aprendeu a fazer cerveja pela internet. O começo foi difícil e exigiu assistir e ler materiais em inglês, pois havia pouco conteúdo disponível em língua portuguesa. “Um dia resolvi encarar e fazer em casa eu mesmo a cerveja, e deu certo”.

Com a experiência e alguns trocados para investimentos, Sarnighausen automatizou algumas etapas do processo. A recirculação da mistura é feita com bomba hidráulica e o arrefecimento, com resfriador de placas. “Algumas partes, por preguiça, eu facilitei”.

A produção mensal de Sarnighausen é de 20 litros, a qual varia conforme o consumo. Os tipos ficam entre IPA e pilsen, a preferida da esposa.

“Eu bolo a receita e faço. O tipo de cerveja que vou fazer depende muito dos ingredientes que estão mais baratos nas lojas da internet. Geralmente, uso o malte base nacional”, explicou.

Como dica para os iniciantes, os cervejeiros afirmam que o foco deve ser a “mão na massa”, ao invés da teoria, que pode confundir o novato.

“Aconselho a pegar e fazer. Comprar os equipamentos, que basicamente é uma panela de alumínio de 20 litros. Meta a cara e faça, não precisa ter medo. Só aconselho a pegar as mais simples e ir aumentando o grau de dificuldade aos poucos”, orientou Sarnighausen.