Praça da Matriz inspira espetáculo teatral em SP

Espetáculo segue em cartaz todos os sábados às 21h e domingos às 20h, até o dia 26 de maio (foto: Divulgação)

Os costumes e histórias de Tatuí inspiraram o ator e dramaturgo paulistano Ari Willians a escrever o espetáculo “Praça da Matriz”. A obra, do gênero comédia de costumes, estreia neste sábado, 4, às 21h, no Teatro Escola Macunaíma, em São Paulo.

De acordo com o autor, que reside na capital paulista, a peça nasceu depois de conversas com uma amiga que passou a infância em Tatuí, a arquiteta e urbanista Yara Baiardi. Segundo ele, a profissional deu detalhes do passado envolvendo a praça e, em tom nostálgico, lembrou de mudanças ocorridas ao longo do tempo.

Durante o diálogo, a amiga lembrou que, quando criança, conhecia todas as famílias que moravam em torno da praça e que, naquela época, as crianças brincavam enquanto os adultos punham cadeiras nas calçadas, onde passavam horas nos finais de tarde conversando.

Contudo, pouco a pouco, com o crescimento da cidade, as famílias foram substituídas por bares, empresas, igrejas e as cadeiras e as crianças desapareceram, aponta o encenador, a partir das conversas com a arquiteta.

“Essa observação ficou em minha cabeça durante um bom tempo e foi se transformando em história na minha imaginação, até que sentei e comecei a escrever, imaginando um casal em que a mulher é toda nostálgica, luta para que as coisas voltem a ser como eram, e, em contraponto, o marido é mais realista e não liga muito para o passado”, revelou Willians.

“Sinto que estamos ficando mais solitários e individualistas. Falo que, agora, as pessoas estão criando a sua própria praça, cada um com seu celular e com suas telas, onde as pessoas convivem consigo mesmas. Decidi falar sobre isso em uma peça”, conta Willians.

“Hoje, o pessoal está muito voltado às redes sociais, a tecnológica e tudo mais. Então, a gente vem com a proposta de falar de outra coisa, de amizade, de nostalgia, dos valores sociais que foram se perdendo, nos abraçar e ir além dos textos tradicionais de teatro”, acrescentou o diretor.

O espetáculo foi escrito em dois anos e está sendo ensaiado há três meses. “Por acaso, passei pelo Macunaíma onde eu já estudei, e aí eles me ofereceram o espaço. Então, montei a peça, escolhi os atores que vão representar e iniciamos os ensaios”, contou do diretor.

Segundo ele, em meio à concepção, a relação entre as personagens do marido e da esposa foram “tomando ares” de comédia. Aos poucos também, foram surgindo diversas características que fizeram com que o espetáculo, praticamente, se tornasse uma homenagem a Tatuí.

Espaços como o clube 11 de Agosto, a Fábrica São Martinho, o Parque “Maria Tuca” e personalidades como Manoel Guedes, Paulo Setúbal e Vera Holtz fazem parte do cenário e da trama, assim como as páginas do jornal O Progresso. “Não conheço Tatuí, mas pesquisei sobre a cidade e coloquei diversos elementos históricos no texto”, pontuou Willians.

O diretor destaca, inclusive, o poema “Alma Cabocla”, de Setúbal, recitado durante o espetáculo. Além disso, enfatiza que a peça, mesmo sendo cômica, leva uma mensagem aos espectadores.

“Eu poderia ter feito sobre outra cidade, mas acabei me apaixonando por Tatuí. O resultado ficou muito interessante e, ao final, fica um questionamento sobre o que nós estamos fazendo com as nossas vidas, com as nossas tradições e com o nosso tempo”, acentuou.

O dramaturgo ainda enfatiza que quem assistir à peça vai sentir vontade de conhecer Tatuí.  “No início, não era essa a intenção, mas ela aborda tantos elementos da cidade que a gente mesmo quer muito conhecê-la. Até os atores ficaram apaixonados pela história do município”, garante.

Willians ainda acrescenta que o espetáculo poderá ser apresentado em Tatuí no final da temporada de São Paulo. “Queremos muito nos apresentar em Tatuí, que, afinal, é a cidade que inspirou a história. Estamos fazendo contatos. Já soube do teatro ‘Procópio Ferreira’ e, quem sabe, temos um convite para apresentar a peça na cidade”, comentou.

O elenco é formado por seis atores: Bia Almeida, Deise Soares, Luíza Hungria, Nícolas Linguanotti, Pinnk Almeida e Wagner Ferraz. A peça também tem direção de Willians e segue em cartaz todos os sábados, às 21h, e domingos, às 20h, até o dia 26 de maio.

O Teatro Escola Macunaíma fica rua Adolfo Gordo, 238, bairro Campos Elíseos, em São Paulo. Os ingressos podem ser adquiridos por meio do www.ingressorapido.com.br, ou na bilheteria do teatro, por R$ 20. Estudantes com comprovante e idosos com RG pagam meia-entrada. Mais informações pelo (11) 3217-3400.


Cidade Ternura

Além de Capital da Música, o segundo título pelo qual Tatuí é conhecida nacionalmente, “Cidade Ternura”, aconteceu por iniciativa de um escritor que, como o ator e dramaturgo Ary Willians, também não conhecia o município.

A alcunha nasceu a partir de um artigo escrito pelo jornalista Osmar Pimentel, publicado no jornal O Progresso de Tatuí em 14 de outubro de 1934.

O texto, intitulado “Uma visão da Tatuí que não conheço”, foi redigido também por meio de uma “impressão” da cidade, obtida por Pimentel em conversas com o amigo Maurício Loureiro Gama.

Principal expoente do jornalismo tatuiano, Gama nasceu em Tatuí e começou a carreira profissional justamente em O Progresso, do qual partiu para ser o primeiro apresentador de telejornal do Brasil.

Mesmo residindo em São Paulo, Pimentel acabou “apaixonando-se” pela cidade. Os comentários de Gama estimularam o amigo a produzir o artigo no qual o jornalista relata “um sonho e compara a cidade a uma noiva”.

Tatuí é descrita no texto como “Cidade Ternura” e “uma promessa de felicidade”. A observação “encheu o povo de orgulho”, ressaltando a característica hospitaleira local.

Alcançou tamanha repercussão que, em 10 de agosto de 1964, transformou-se em lei. Na data, a Câmara Municipal aprovou projeto que estabelecia a música “Tatuí, Cidade Ternura” como “Hino do Município”.

A proposta foi apresentada pelo então vereador Aido Luiz Lourenço. O hino tem composição de Maria Ruth Luz e Paulo Cerqueira Luz, ambos já falecidos.

Em solenidade, o prefeito Paulo Ribeiro promulgou e sancionou a lei, no dia 11 de agosto de 1964, no salão nobre da Etec (Escola Técnica) “Sales Gomes”.