Polí­cia suspeita que mãe tenha sido enterrada por filho ainda com vida





Laudo da perícia técnica do IML (Instituto Médico Legal), de Itapetininga, vai esclarecer uma dúvida levantada pela Polícia Civil. O delegado titular do município, Francisco José Ferreira de Castilho, informou a O Progresso que há indícios de que uma mãe assassinada pelo filho pode ter sido enterrada ainda com vida.

A desconfiança deve-se à ausência de marcas no corpo de Maria Inês Tezotto Molina, 68, quinta vítima de homicídio do ano em Tatuí. O cadáver dela foi localizado seis dias depois da notificação do desaparecimento, na propriedade em que ela morava, na divisa com Cesário Lange.

O crime teria sido cometido pelo filho da mulher, José Fernandes de Oliveira Júnior, 36. Ele recebeu voz de prisão na tarde de quarta-feira, 2.

Júnior prestou depoimento em Itapetininga, a policiais da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), no mesmo dia. Durante a remoção do corpo e a realização de perícia, ele conversou com o delegado do município e investigadores. “Na verdade, quem conseguiu a confissão dele fui eu”, revelou Castilho.

O titular disse que não precisou de muito tempo para convencer o suspeito a relatar o que havia ocorrido. “Com um pouco de experiência, conseguimos bons resultados”, afirmou.

Castilho usou uma “velha tática” de investigação: perguntou ao filho de Maria Inês se a morte não havia sido de propósito. “Ele respondeu que não. Bastou uma palavrinha para que ele confessasse”, observou. Até então, Júnior mantinha a versão de que não sabia do paradeiro da mãe, localizada no quintal.

Júnior procurou a Central de Flagrantes da Polícia Civil na quinta-feira, 27 de agosto. Na ocasião, limitou-se a dizer aos investigadores que não encontrara a mulher na residência.

Num primeiro momento, o delegado disse que os investigadores passaram a desconfiar da versão do filho. “Havia uma forte suspeita em cima dele, só que não tínhamos dados”, comentou.

Ainda em agosto, no dia 31, investigadores realizaram diligências na chácara da família. Os policiais vasculharam a propriedade, mas não encontraram nada suspeito.

Também chegaram a conversar com vizinhos e concentraram buscas no final da propriedade, uma vez que ela tem como fundos o rio Sorocaba. “Imaginava-se que o corpo tivesse sido jogado nas águas, mas, dois dias depois, veio a surpresa”, afirmou Castilho.

Na quarta-feira, vizinhos de Maria Inês decidiram fazer buscas pela região. O delegado contou que eles passaram a escavar áreas da propriedade. “Eles acharam o corpo porque desconfiaram da terra que estava mais fofa”, detalhou.

O corpo havia sido enterrado numa vala aberta ao lado da chácara. Assim que localizaram o cadáver, os vizinhos acionaram os policiais. Os investigadores do setor de homicídios de Tatuí chegaram primeiro ao local. “Conversando, o filho acabou se contradizendo em alguns pontos”, disse o delegado.

Preliminarmente, o suspeito não revelou o motivo do assassinato. Castilho relatou que ele disse apenas que estava bastante alterado por conta de consumo de álcool e drogas.

A informação é de que ele teria discutido com a mãe, depois de ter se desentendido com a esposa e um filho. A mulher do acusado e o filho dele teriam deixado a propriedade antes do homicídio.

A PC conseguiu apurar que todos moravam na mesma chácara. Segundo o titular, Maria Inês teria discutido com o filho por conta da separação. Testemunhas relataram que a vítima queria que o filho reatasse o relacionamento. A cobrança teria feito o filho brigar com a mãe.

Júnior declarou ao delegado que se desentendeu com a mãe na noite do crime. “Ele disse que discutiu e que não lembra o que mais aconteceu”, contou.

O homem alegou, ainda, que “recobrou a consciência” horas depois. Naquele momento, percebeu que a mãe estava morta e decidiu enterrar o corpo.

Castilho disse que o suspeito não soube esclarecer como ocorreu o assassinato. “Ele afirmou que estava enlouquecido e que, depois que começou a discutir, apagou. Sustentou que não se lembra de mais nada”, citou o titular.

Após a remoção, o corpo da mulher seguiu ao IML para a elaboração de laudo necroscópico a respeito da causa da morte. Castilho adicionou, ainda, que os peritos devem determinar se Maria Inês foi enterrada viva. “A polícia tem essa desconfiança por dois motivos”, informou o delegado.

Primeiro, porque o próprio suspeito alega não saber como assassinou a mãe; segundo, por conta da posição em que o corpo estava enterrado. Durante a averiguação, os peritos cogitaram que a mulher pudesse ter morrido asfixiada pela terra.

Outra possibilidade é que ela poderia ter sido esganada e desmaiado. Como não recobrou a consciência, pode ter sido dada como morta. “O filho pode ter achado que ela faleceu e enterrado”, disse Castilho.

Além disso, os peritos não detectaram – à primeira vista – outros sinais de violência. Como o corpo estava inchado, não foi possível realizar uma pré-avaliação. O laudo do instituto deve ficar pronto dentro de 30 dias e ser anexado ao processo.

Júnior responderá ao crime em Itapetininga, apesar de o homicídio ter ocorrido em Tatuí. Ele também foi ouvido pela DIG, por conta de o inquérito ter sido instaurado lá.

A razão é a determinação da SSP (Secretaria de Segurança Pública) que destina a DIG como responsável pelo esclarecimento dos casos de desaparecimento de pessoas.

“Nós não conseguimos dar sequência aqui, em Tatuí, porque pegamos os crimes em tese mais graves. Como a DIG tem uma estrutura um pouco melhor, ela coordena e concentra os casos de desaparecimento”, contou o delegado.

De Itapetininga, o suspeito foi removido para Capão Bonito. Ele deve permanecer detido até o julgamento. “Provavelmente, vai para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Tremembé, pela gravidade do crime”, disse Castilho.