Perícia recolhe “estojo” na porteira do sítio do empresário morto dia 4

Vicente Antônio Elias Júnior

Na manhã de terça-feira, 11, uma semana depois da morte do veterinário Vicente Antônio Elias Júnior, 31, a perícia técnica voltou ao local da ocorrência e recolheu um projétil de revolver deflagrado.

O objeto, chamado “estojo”, foi encontrado pelo advogado Anderson Rodrigues Elias, primo da vítima, e estaria na estrada de terra, próximo da porteira do sítio – local onde o empresário foi baleado por policiais civis à paisana.

O advogado informou que estava indo ao sítio com o irmão mais velho de Júnior para buscar alguns pertences e teria pedido que o primo lhe mostrasse onde estava o carro no momento em que a família fora comunicada da morte.

“Eu queria tentar entender mais ou menos como tudo aconteceu, até para poder passar para os advogados que vão cuidar do caso. Ele (o irmão da vítima) estava me mostrando, eu fui ver onde estava o carro e acabei encontrando a cápsula. Estava no chão, no meio da estrada, na frente do portão do sítio”, assegurou.

O primo da vítima disse acreditar que a equipe que realizou a primeira perícia possa não ter visto a “casca” da bala no chão, ou que alguém possa ter deixado o projétil ali por algum motivo. “Tudo isso vai ter que ser investigado. Por que foi parar lá esta cápsula deflagrada?”, questiona.

Os familiares acionaram a perícia técnica ainda no período da manhã, e uma equipe esteve no local por volta das 15h. “Eles não falaram nada, só tiraram foto, colocaram uma fita métrica do lado para medir a cápsula, coletaram e foram embora. Eu não estava no local nessa hora. Liguei para o meu primo, e ele me disse que tinham passado lá”, contou.

Júnior morreu durante uma operação da Polícia Civil, na terça-feira, 4, na vicinal que liga Tatuí ao município de Alambari, no Jardim Nossa Senhora de Fátima. O veterinário estava na frente da porteira do sítio da família, acompanhado de um funcionário e de um adolescente de 16 anos, quando foi abordado.

Conforme constado em boletim de ocorrência pela Polícia Civil, seis policiais à paisana – sendo quatro investigadores e dois delegados -, distribuídos em três viaturas descaracterizadas, realizavam uma operação, por volta das 19h, a partir de suspeitas de que o local seria usado para receptação de caminhões e carga roubada, quando encontraram o carro da vítima na estrada de terra.

De acordo com a polícia, os agentes teriam se identificado e um deles desceu para falar com os homens. Contudo, o motorista do veículo teria atirado contra a equipe. Com isso, no BO, é descrito ter ocorrido uma troca de tiros.

Ainda segundo o boletim de ocorrência, durante a ação, o motorista tentou fugir. Ao acionar a marcha à ré, ele teria atingido uma das viaturas descaracterizadas e, após outra manobra, acabou capotando o carro.

Segundo a polícia, mesmo após o acidente, a vítima teria continuado os disparos de dentro do veículo, permanecendo parcialmente com os membros inferiores para fora, ocasião em que os agentes teriam revidado, efetuando disparos.

Por sua vez, diferentemente da versão dos policiais, a irmã da vítima, Mariah Roberta Camargo Elias, 24, sustentou à imprensa que o irmão não teria atirado.

“Ele tinha a arma regulamentada e estava com ela, mas não atirou. Não foi isso que realmente aconteceu”, reiterou.

Segundo a irmã, o veterinário estava indo para o sítio do pai, para tratar do gado, como fazia costumeiramente. Naquela oportunidade, decidiu levar junto o funcionário da família e o adolescente.

No caminho da chácara, a vítima teria percebido três carros atrás dele, mas continuou o trajeto. As testemunhas teriam contado que os veículos seguiram atrás da vítima até o sítio e abordaram-no na entrada do local.

“Quando chegaram, o funcionário saiu do automóvel para abrir a porteira e, do nada, viu o Júnior dando ré. Foi quando começaram o tiroteio, mas a testemunha disse que não viu meu irmão atirando”, acentuou.

Mariah ainda contesta a informação de que os policiais se identificaram durante a abordagem. Segundo ela, as testemunhas garantiram que nenhum dos agentes teria se identificado. Por isso, ela disse acreditar que o irmão se assustou e tentou fugir.

De acordo com a irmã, a vítima estava sendo ameaçada e estaria com a arma para se proteger. “Ele estava com a arma no carro porque andaram roubando o sítio, e ele estava com medo. Ele até já tinha procurado a polícia para registrar um boletim de ocorrência sobre a ameaça. Estou indignada! Ao invés de protegê-lo, o mataram”, declarou a irmã.

Mariah ainda afirma que o funcionário foi agredido pelos policiais. “Ele está em choque, e o filho dele, também”, afirmou.

A familiar ressalta querer justiça pela morte do irmão. “Não entendo porque fizeram isso. O Júnior era uma pessoa tão boa. É muito doloroso, dói muito. Mas, dói muito mais as pessoas não saberem a verdade e acharem que foi tiroteio, falarem que ele atirou na polícia. Quem conhece meu irmão sabe que ele não faria isso”, completou.

Na data da morte, a Corregedoria e a perícia técnica estiveram no local. As armas utilizadas pelos policiais e pela vítima foram apreendidas e um boletim de ocorrência de homicídio em legítima defesa foi registrado.

Conforme a Secretaria de Segurança Pública informou em nota, o caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil. “A ocorrência foi registrada como morte decorrente de oposição à intervenção policial no plantão da Delegacia de Tatuí, e todas as circunstâncias do caso estão sendo apuradas”, declarou o serviço estadual.

As testemunhas e os policiais envolvidos no caso foram ouvidos na Delegacia Seccional de Itapetininga, durante a manhã de quinta-feira da semana passada, 6.

Na sexta-feira passada, 7, a O Progresso, o advogado, primo da vítima, explicou que está assessorando a família para a contratação de peritos e advogados de fora da cidade, para acompanharem o processo.

Nesta quinta-feira, 13, ele confirmou que a equipe já foi contratada, mas que ainda não pode divulgar o nome dos profissionais. No mesmo dia, no período da manhã, o advogado havia se reunido com os contratados para estabelecer as diretrizes do processo.

“Na Corregedoria, eles só informam que todos os fatos estão sendo apurados, de forma genérica. Não falam sobre afastamento dos policiais nem nada. Eles continuam trabalhando, e nós vamos cobrar respostas”, afirmou.