‘Pé Vermeio’ segue para o 4º ano de atividades e mira em expansão

Em 10 de junho, o Coletivo Independente Pé Vermeio completa quatro anos de atividade. Fundado a partir da convergência de ideias de músicos de bandas alternativas, o grupo tem, neste ano, novos desafios. O principal deles é expandir a atuação. Para isso, planeja um leque de ações.

A proposta é, em princípio, popularizar o trabalho do grupo. Assim, o coletivo programa uma série de palestras. “Pretendemos ir até as escolas e conversar com os jovens, para mostrar o trabalho desenvolvido, falar de música”, iniciou Thalita Bonalume, estudante do curso de produção fonográfica da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Tatuí e membro do coletivo.

O formato das palestras e os locais a serem atendidos ainda são objeto de estudo, conforme Arlindo Valeriano de Barros Neto, o Neto Silver. Ele é um dos fundadores do coletivo, surgido no ano de 2015, por conta da “inquietação” dos artistas que atuavam em Tatuí, mas no ramo “não popular”.

Inicialmente, o grupo pretende falar com estudantes do ensino médio. São jovens com idades entre 15 e 16 anos. A intenção é contar um pouco do trabalho desenvolvido pelo grupo e, junto, apresentar as perspectivas dos gêneros musicais. O coletivo é conhecido por reunir músicos de rock, punk e heavy metal.

“São gêneros que surgiram há mais tempo, alguns na década de 80, mas pouco difundidos na nossa cidade”, observa Neto Silver. De acordo com ele, na cidade, até então, havia pouca projeção dos estilos. Razão pela qual o coletivo passou a planejar – e a realizar – os próprios eventos. Todos, voltados à divulgação da arte, a maioria com entrada gratuita e em espaços públicos.

“O interessante dos nossos eventos é que todos são realizados com bandas que têm trabalho autoral. São grupos que escrevem as próprias músicas”, acentua.

A primeira ação prática do grupo, no entanto, não foram os eventos. Para o fundador, o marco inicial dos trabalhos deu-se quando os integrantes do coletivo (surgido pela união dele com Ricardo Huss, Cassiano Leme e Rafael José) desvincularam-se do grupo anterior. Até então, eles eram vinculados a um motoclube, pelo qual realizavam apresentações musicais.

Em “carreira solo”, o coletivo se dedicou à produção de eventos. Realizou o primeiro em 26 de setembro de 2015, pouco tempo depois da formação. Na ocasião, promoveu apresentações de bandas de Iperó, São Roque, Itu e Tatuí.

Seis meses depois, o grupo deu vida a uma das ações de maior abrangência: o “Grito Rock”. Por meio dele, também criou o primeiro movimento que permitiu aos representantes de Tatuí estabelecerem uma rede de contatos. Na época, o evento aconteceu em parceria com o Fora do Eixo, coletivo de amplitude nacional.

O “Grito Rock” é um festival musical que acontece em várias partes da América Latina, entre os meses de janeiro e março. Em Tatuí, é realizado pelo coletivo em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude e, neste ano, caminha para a quarta edição.

Também em 2019, o Pé Vermeio promete realizar o 2ª Kapha Festival. Trata-se de um encontro de “consciência, cultura e sustentabilidade”. A ação é promovida em parceria com o Núcleo Vishuddha, Reserva Tatuí, MIND e Fatec.

Seguindo o princípio do coletivo, o festival visa proporcionar opções de cultura que não as tradicionais, como os conhecidos eventos voltados à MPB (música popular brasileira), sertanejo e outros.

“Nosso foco é trabalhar com público alternativo. Somos mais ligados às pessoas que pensam diferente, que curtem veganismo e movimentos nessa linha”, destacou Thalita.

Além de Tatuí, o coletivo promoveu atividades culturais em Cerquilho, Iperó e Quadra. Criou, com isso, uma rede colaborativa para as ações.

Segundo Neto Silver, essa é uma dinâmica que se estabeleceu quase por imposição, uma vez que o grupo não dispõe de recursos para concretizar as ações.

“Quando trazemos grupos de fora para se apresentarem na cidade, conversamos com os nossos parceiros e conseguimos bancar os custos, que são de alimentação, transporte e hospedagem. E fazemos um evento com quase zero”, conta.

Somado às produções próprias, o coletivo dá suporte a outras organizações. Para isso, utiliza como equipamento o projeto Mind, um núcleo de apoio à música independente criado para dar suporte ao estágio dos alunos do curso de produção fonográfica da Fatec “Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”.

Ainda colaboram com o Pé Vermeio: o Coletivo Vitamina e a Apae (Associação de Amigos e Pais dos Excepcionais) de Tatuí. A premissa é de que, unidos, os representantes das entidades podem cobrir eventuais “falhas” do estado com relação à produção cultural direcionada para outros públicos.

Nessa mesma linha de trabalho é que o grupo pretende aproximar-se mais da sociedade. Neto Silver explicou que as palestras nas escolas, além de divulgar as ações coletivas, incentivem o surgimento de novas bandas e a renovação do movimento.

“Em Tatuí, temos uns sete grupos mais tradicionais, mas que já estão na estrada há um bom tempo. E não tem havido o surgimento de novas bandas, com trabalho autoral. Por isso é tão importante irmos até o público”, ressaltou.

Para viabilizar o crescimento do coletivo, os representantes inscreveram o grupo no edital de chamamento de novos pontos de cultura (reportagem nesta edição). A iniciativa premiou 44 coletivos do estado, com base em critérios, como: público atingido, legado deixado e promoção social.

Apesar de não ganhar prêmio, o Pé Vermeio alcançou 90 pontos de cem máximos. “Existiam organizações mais maduras que a nossa. Porém, de 44 prêmios, ficamos na 47ª posição”, destacam os membros.

Os tatuianos disputaram contra mais de 800 projetos inscritos, o que permitiu o credenciamento do grupo como ponto de cultura oficial do estado de São Paulo. Para a equipe que atua no coletivo, o resultado é mais que significativo.

“Colocamos Tatuí na parte da música underground, dentro de um grande calendário estadual, pela primeira vez. Entendemos, então, que essa posição nos dá mais força para continuar, porque estamos no caminho certo”, concluíram.