Para sobreviver





Conforme divulgado no meio desta semana, entre janeiro e fevereiro, o mercado de trabalho em Tatuí retraiu. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), demonstram que os empregos “despencaram” 141,44% em comparação a 2014.

Na soma entre admissão e demissão, o município teve saldo “muito” negativo em janeiro. Em fevereiro, as contratações superaram as demissões, mas não compensaram a quantidade de desligamentos.

A situação de 2015 é inversa à de 2014. Nos dois primeiros meses desse ano, o Caged registrou 2.597 contratações e 2.445 demissões. Em 2015, houve 2.223 e 2.286, respectivamente.

Em janeiro deste ano, 1.048 pessoas tiveram carteira de trabalho assinada e 1.168 foram demitidas, resultando em menos 120 postos. No mês passado, o sistema do MTE contabilizou 1.175 contratações e um número menor de demissões: 1.118, gerando saldo positivo de 57 novos postos.

O cálculo das variações absolutas (diferença entre os valores das grandezas) gerou número negativo. Em 2015, Tatuí soma menos 63 vagas. No ano passado, a variação ficou positiva em 152.

O registro das admissões mostra que, das 1.048 pessoas contratadas em janeiro, 888 voltaram a trabalhar no mesmo lugar. É o chamado “reemprego”.

Outras 59 foram contratadas por prazo determinado e 101 tiveram a carteira de trabalho assinada pela primeira vez. Além disso, houve, 237 transferências administrativas (mudanças de cargo ou de unidade).

Também em janeiro, dos 1.168 desligamentos, 678 foram por dispensa sem justa causa e 11, com justa causa. Conforme o Caged, 343 trabalhadores deixaram os postos a pedido e 123 pararam de trabalhar com o fim de contrato.

Em fevereiro, houve 1.175 contratações, sendo 65 de primeiro emprego, 1.075 de reemprego e 35 por tempo determinado. No mês, o município registrou, ainda, 65 transferências administrativas.

Dos 1.118 desligamentos, 694 ocorreram sem justa causa, 17 com justa causa, 278 a pedido dos trabalhadores (por acordo), 113 por término de contrato de trabalho, 3 por morte dos empregados e 13 por fim de contrato de trabalho por prazo determinado. Houve, ainda, 83 transferências administrativas.

Os trabalhadores do comércio foram os que mais sentiram o impacto da crise econômica. Nos dois primeiros meses do ano, o setor admitiu 587 pessoas e demitiu 721 (menos 134 vagas). Em segundo lugar, estiveram os serviços, com 817 contratações e 578 desligamentos (menos 239).

A indústria de transformação veio logo atrás, com 575 demissões e 535 contratações. O setor da construção civil também ajudou a “puxar para baixo” o saldo de empregos, com 155 pessoas contratadas e 242 desligadas.

A atividade agropecuária, extração vegetal, caça e pesca contabilizou cem contratações e 153 desligamentos. O mesmo resultado negativo repetiu-se no setor extrativo mineral (duas contratações e cinco demissões – saldo de menos três vagas) e no setor industrial de utilidade pública (que não admitiu ninguém, mas mandou uma pessoa embora).

Dos setores de atividade econômica, apenas a administração pública teve saldo positivo, com 27 contratações e 11 desligamentos.

Somados, os dois primeiros meses do ano passado resultaram em saldo positivo de 152 postos de trabalho. As admissões corresponderam a 51,51% e as demissões, 48,49%. Neste ano, o panorama ficou negativo, com as demissões representando 50,70% e as admissões, 49,30%.

As cinco ocupações que mais admitiram em 2015 foram: vendedor do comércio varejista (174 vagas), alimentador de linha de produção (88), inspetor de alunos de escola pública (85), auxiliar de escritório (81 vagas) e ceramista (73).

O cargo de vendedor do comércio varejista também lidera outra estatística divulgada pelo Caged: as de postos de trabalho que mais desligaram em janeiro e fevereiro.

No período, a função somou 254 demissões. Os demais cargos que desligaram: auxiliar de escritório (110), servente de obras (84), operador de caixa (81) e alimentador de linha de produção (76).

Para o chefe do MTE de Tatuí, Antonio Carlos de Moraes, o panorama já era esperado. Ele considera o saldo negativo como sazonal, especialmente com relação ao setor do comércio.

Conforme Moraes, as lojas costumam aumentar o quadro de funcionários no final do ano por conta das vendas de Natal e Ano-Novo. Em janeiro e fevereiro, costumeiramente, com a queda das vendas, a tendência é o comércio demitir.

Moraes lembrou que, nesta época, há desaceleração da economia. Entre as razões: despesas com impostos no início do ano (que começam a ser pagos em janeiro e recebidos até março), o fim das férias e o início do ano letivo. Neste caso, existem os custos com materiais escolares.

Em 2015, outro fator contribuiu para a redução ainda maior dos postos: o cenário econômico nacional. “Não resta dúvida que ele gera impactos. Posso dizer, até mesmo, que a atividade econômica do país está parada”, disse Moraes.

Com a alta dos juros, a tendência é o consumo diminuir, resultando em “efeito cascata”. Ao produzir menos e pagar mais impostos, as empresas optam por cortar gastos, o que pode tanto reduzir a jornada de trabalho quanto os postos.

Por esse motivo, Moraes explicou que a indústria de transformação também contribuiu para a queda do número de empregos em Tatuí. No ano passado, o setor também teve saldo negativo de menos nove postos; em 2015, ficou em menos 40.

De modo geral, a unidade local do ministério contabilizava maior número de demissões no comércio. “Via-se muito pouco na área industrial e na de serviços. Neste ano, posso dizer que elas ocorreram em todos os ramos”, encerrou.

Moraes também acentuou o fato de que menos de 25% da população do município possui carteira de trabalho assinada. O ideal seria, no mínimo, que mais 25% contassem com esse benefício.

Em Tatuí, dos 115.515 habitantes contabilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 28.398 estão empregados no regime da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Para se chegar ao ideal, seria necessário que mais 29.360 pessoas tivessem registro.

Conforme o responsável pelo MTE, uma parte dos trabalhadores que não constam no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) está no mercado, mas de maneira informal.

Entretanto, observa que os informais não existem em grande quantidade no município. “Que existem, existem, mas eles não são em número muito grande, por não ser algo viável”.

Pelo panorama geral, pode-se concluir não só que a crise nacional atingiu a cidade, como alguns setores estão sendo mais fragilizados, como o comércio.

Torna-se ainda mais preocupante essa realidade, inclusive, pelo fator “emocional” derivado dela. Não é raro se ouvir o clichê: o “comércio está às moscas”, indicando que o consumidor não está consumindo.

De todas as áreas, o comércio influi mais nos ânimos porque sua atividade é evidente. Basta sair às ruas e “dar de cara” com o que está acontecendo. Isso pode assustar, intimidar os demais setores.

Além disso, explicita que os empresários, por consequência, enfrentam problemas. É certo que está na moda o estímulo à luta de classes, em que os empreendedores são postos, todos, como oportunistas exploradores, mas, a verdade é que eles geram emprego.

Portanto, quando vão mal, quando ninguém compra – consome -, muitos “colaboradores” (expressão ridícula, porque dá ideia de que o pessoal trabalha de graça e que é “errado”, “vergonhoso”, ser empregado… – acabam perdendo o emprego – assim, aumentando ainda mais a crise.

Em síntese, a importância do comércio torna-se ainda maior. E, então, um grande desafio aos comerciantes, que precisam investir ainda mais em momento de crise.

(Para sobreviver) Investir na imagem de suas empresas, na qualidade de seus produtos e serviços e, principalmente, no bom atendimento.