Para conter abuso de menores, ‘CT’ vai promover palestras em escolas

Para Líliam Quevedo de Meira, palestra pode reduzir incidência

Expectativa é orientar pais sobre sinais de violência sexual a crianças


O Conselho Tutelar fará palestras para orientar pais de alunos da rede municipal sobre como identificar supostos casos de abuso sexual e como preveni-los. As reuniões serão realizadas paulatinamente em cada uma das escolas municipais.

A intenção do órgão foi anunciada na semana passada. De acordo com a presidente do Conselho Tutelar, Líliam Quevedo de Meira, a cidade registra dois casos de abusos sexuais envolvendo crianças e adolescentes por mês.

Entretanto, os números podem estar subestimados, uma vez que parte dos casos sequer chega ao conhecimento das autoridades.

“Queremos trabalhar na prevenção, pois não dá para ficarmos aqui esperando que os casos venham até a gente. Então, precisamos ter uma visão macro e passar a orientar as mães sobre como identificar os casos de abuso sexual, de pedofilia”, explicou ela.

Segundo Líliam, são corriqueiros os casos de jovens denunciarem abusos infantis quando chegam à adolescência. Alguns pais, por vezes, acabam não acreditando na seriedade do relato e deixam de denunciar o abuso sofrido pelos filhos.

“Queremos ensinar aos pais como identificar casos, como fazer o diagnóstico. A palestra também vai servir como prevenção para que todos evitem a exposição da criança, como ocorre bastante nas redes sociais”, declarou.

A presidente esclareceu que as palestras terão enfoque diferente das ministradas no ano passado. Em 2016, o foco das conversas nas escolas foram os adolescentes cursando a partir do 6o ano do ensino fundamental.

“Desta vez, queremos conversar diretamente com os pais, pois o assunto é mais delicado. Queremos conversar nas escolas infantis, mostrar que esses casos ocorrem perto de nossas casas, dos nossos filhos”, acentuou.

A ocorrência de abusos sexuais na infância e na adolescência pode causar sequelas nas vítimas pelo resto da vida e “tornar-se um ciclo”, com comportamento repetitivo, conforme Líliam.

Para evitar que os filhos fiquem vulneráveis às investidas de abusadores e pedófilos, ela aconselha os pais a evitarem postar fotos das crianças nas redes sociais. Casos de abuso, segundo ela, por vezes, começam pelo interesse do agressor em fotografias da vítima.

“As mães, hoje, têm o hábito de postar no ‘Facebook’ a foto do primeiro banho do filho, o bebê sem roupa, filho brincando no parquinho. As redes sociais têm algo bom por oferecer informação, mas pode servir de portfólio para pedófilos”, argumentou.

A conselheira ressaltou os sinais comportamentais que crianças e adolescentes “emitem” quando estão sofrendo violência sexual.

Entre as mudanças no comportamento, estão a alteração na fala, evasão escolar, hipersexualização, problemas na autoestima, agressividade, rebeldia, enurese (hábito involuntário de fazer xixi na roupa ou na cama), encoprese (incontinência fecal), medo excessivo, bulimia, anorexia, insônia e transtornos alimentares.

“A criança ou adolescente perde a visão positiva do mundo. Essas são as características que as vítimas de abuso têm. A ressalva é que nem todas as crianças que estão com esses comportamentos são vítimas”, apontou.

Líliam esclareceu que pedofilia é um termo usado exclusivamente em casos de adultos que têm interesse sexual por crianças. O distúrbio psiquiátrico acomete mais frequentemente indivíduos do sexo masculino.

Segundo a presidente, o agressor, por vezes, é íntimo do núcleo familiar, ou mesmo parente da vítima. São pessoas que “fazem questão de ter uma imagem social positiva” e “acima de quaisquer suspeitas”.

“Pessoas que estão sempre disponíveis, como, por exemplo, para ficar com o filho dos amigos, dispõe-se a buscá-lo na escola, propõe a cuidar deles até chegar do trabalho. Eles sempre procuram ter a confiança dos pais”, descreveu.

A conselheira afirmou que, conquistada a confiança dos pais, o abusador passa a dar investidas contra a criança. Na maioria dos casos, o abuso ocorre após ameaça contra a vida da mãe ou do pai.

“Todos os casos que eu atendi de adolescentes que relataram que, na infância, sofreram abuso sexual, os pais não acreditam. Os pais não querem nem falar a respeito do assunto por não darem crédito. Temos casos envolvendo avôs, padrastos, tios e amigos da família”.

Comprovação difícil

De acordo com Líliam, cabe aos pais ouvirem os filhos e denunciarem os casos de violência sexual às autoridades. Quando a comunicação é feita na delegacia, é de praxe ser solicitado exame de corpo de delito na vítima.

Uma das dificuldades enfrentadas, segundo a conselheira tutelar, é a falta de uma unidade do IML (Instituto Médico Legal) na cidade. As vítimas têm de ser levadas até Itapetininga para passarem pelo atendimento especializado.

“Temos um relacionamento bom com a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). Eles nos atendem rapidamente, liberam os exames e até mesmo nos pedem para participarmos de oitiva de alguma criança, trabalhamos juntos”, afirmou.

O tempo pode ser um grande empecilho na coleta de materiais da vítima. Por isso, a conselheira afirma que, quanto antes se levar a criança ou o adolescente até a autoridade policial, melhor para a comprovação do estupro.

“A vítima precisa passar por exame até 72 horas após o estupro para colher material orgânico do agressor. As chances para comprovar e prender em flagrante o autor depois desse tempo são mínimas”, relatou.

Em casos nos quais a vítima não sofre penetração do abusador, é mais difícil a comprovação pericial, pela falta de provas materiais, mesmo que a vítima descreva o que ocorreu. Aí, o criminoso responderia em liberdade.

“Nós queremos evitar que casos ocorram. As pessoas imaginam que esses casos só ocorrem em cidade grande, e não é verdade, pois temos casos aqui na cidade. Todos precisam ter atenção quanto a isso”, concluiu.