Ocupantes improvisam lar e se revezam para necessidade





Cristiano Mota

Maria Aparecida Borges divide moradia improvisada com o marido

 

A rotina dos moradores do acampamento montado na semana passada por ocupantes de terreno na vila Angélica tem sido de improvisos. Cada família montou barraco fixando pedaços de madeira no chão e os cobrindo com lonas ou sacos plásticos.

Conforme Márcia Moreira, os ocupantes sofrem com o calor e dependem de colaboração da população do entorno para se manter no local. As famílias criaram uma cozinha comunitária e tomam banho em um posto de combustíveis.

“O povo tem colaborado, uns trazem pão; outros, leite. A vizinhança dá fralda para a criançada e tem trazido, também, cobertor e colchão”, disse a dona de casa.

Até o momento, os moradores não enfrentaram chuva, mas têm sofrido por conta do calor durante o dia e o frio, à noite. “Como todas as barracas têm mais que três pessoas, deitam todo mundo junto e o corpo de um esquenta o outro”, contou.

Os ocupantes estão tendo de fazer improvisos porque não conseguiram levar todos os pertences para a área. Também temem perder geladeiras, fogões, camas e sofás, caso haja reintegração de posse. Desta maneira, todos optaram por deixar os eletrodomésticos e móveis na casa de vizinhos ou parentes.

Rosineide Maria dos Santos terminou a montagem do barraco que ela ocupa com os filhos no domingo, 7. Dos dez que vivem com ela (entre 12 que ela tem), apenas uma parte está dormindo no barraco improvisado.

Como Márcia, ela também optou por não levar os móveis. Entretanto, tem prazo de 18 dias para retirar os pertences. Rosineide perdeu o emprego recentemente e disse que, por essa razão, a proprietária pediu a desocupação do imóvel.

“Estou contando com isso daqui (com a doação do terreno da Prefeitura). Depois desse prazo, tudo vai ter que vir para cá, até os meus filhos que estão em casa”, declarou.

Foi com a ajuda dos filhos que Rosineide ergueu o acampamento. O trabalho demorou meia hora e representa uma esperança para a desempregada. “Sempre morei de aluguel. E é uma dificuldade, porque, bem dizer, eu vegetava”, disse.

Com o salário de perto de R$ 700, ela disse que pagava o aluguel (R$ 300), as despesas de água e luz (em torno de R$ 200), mais gás, remédio e comida. “Passava dificuldade o mês todo. Mas, tenho fé em Deus”, disse.

Rosineide revelou que sonha em construir uma casa com três cômodos. Contudo, frisou que o espaço não é importante. “Se eu ganhar, já fico feliz. Eu creio que vou ganhar (o direito de propriedade do terreno)”, completou.

José Roberto Galvão da Silva tem situação similar à dos demais ocupantes. Ele também disse que foi despejado – como os demais ouvidos pela reportagem – e que não tem outra solução a não ser tentar a sorte para obter um terreno.

“Fiquei sabendo que o pessoal montou acampamento aqui, na quarta passada. Aí, como moro de aluguel e o dono pediu a casa, vim para cá”, disse.

Silva também mencionou que está desempregado e que não tem condições de pagar o aluguel. Afirmou que não consegue trabalhar por conta da situação de saúde. “Tenho problema do coração, na coluna, pressão alta e diabetes”.

Sem dinheiro sobrando, informou que é praticamente impossível comprar uma casa própria. “Desde que eu casei, estou só pedalando”, declarou.

Maria Aparecida Borges e o marido, Alberto Franco, também querem ter direito a um terreno. Pensando em ser beneficiado, o casal já procurou cartório de registro de imóveis da cidade para obter declaração de que não possuem residência.

“Estou num perereco. Nós moramos na casa de um senhor de idade, um barraco cedido, no Jardim Europa, e o proprietário não nos quer mais lá”, alegaram.

Mesmo com as dificuldades da improvisação, Silva disse que o acampamento é o melhor lugar onde já moraram. “Pagar aluguel é complicado. Aqui, nós estamos no céu. Meus parentes me ajudam e o pessoal traz roupa. Nós mesmos já ganhamos bastantes coisas”, complementou.