Nesse tempo de crise hídrica, onde a população foi praticamente obrigada a mudar sua postura em relação ao uso racional da água, lembro-me do ex-prefeito Olívio Junqueira, que governou a cidade em dois períodos, de 1956 a 1959 e de 1977 a 1982. Faleceu em 2010, aos 88 anos.
Reporto-me ao primeiro mandato. Naquela época, Tatuí tinha o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), em que a administração municipal gerenciava o serviço de saneamento (captação, tratamento, distribuição da água, coleta e tratamento do esgoto).
A água era captada no tanque da Maria Tuca e de lá, por gravidade, vinha para o tratamento no bairro de Santa Cruz, para dali ser distribuída às residências. Tempos difíceis. Várias casas tinham poços de furo e fossas nos quintais. A água encanada e tratada, que melhorava as condições sanitárias da população, era uma novidade para alguns bairros da cidade.
A prefeitura tinha que fazer as obras de abrir valas, colocar tubulações nas ruas e instalar as canalizações para a movimentação da água na cidade. Tanto para trazer até a cidade como para distribuí-la nas residências. As obras eram dispendiosas e o prefeito cuidava do serviço com os parcos recursos que dispunha.
Por tudo isso, o senhor Olívio Junqueira, em suas andanças pela cidade como um fiscalizador dos serviços municipais, quando avistava algum munícipe “esbanjando” água lavando calçadas ou molhando plantas, abordava-o e, em muitas oportunidades, aplicava multa pelo desperdício.
Em 1973, surgiu a Sabesp (Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Estimulada pelo governo federal através do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), a empresa recebeu, por concessão pública, inúmeros serviços municipais de saneamento. Em 1976, a prefeitura assinou contrato de concessão com a Sabesp por 30 anos, prorrogado recentemente, em 2010, pelo mesmo período.
Vivemos um período de escassez hídrica muito severo. Há 84 anos São Paulo não sofria uma seca dessa proporção.
Atualmente, a Sabesp administra 366 municípios e enfrenta seu maior problema no abastecimento da região metropolitana da capital, especificamente no sistema Cantareira, que atende cerca de 6,5 milhões de pessoas, predominantemente a população da zona norte e centro.
Em nossa cidade, a situação não chega a ser crítica. A Sabesp tem realizado investimentos na produção de água, nas estações de tratamento de água (ETAs) e nas estações de tratamento de esgotos (ETEs). Temos captação na represa do rio Tatuí e no rio Sarapuí, além de muitos poços artesianos que garantem o abastecimento.
O momento atual fez com que as pessoas voltassem novamente suas atenções para a economia e o uso racional da água. Economizar água e energia entrou na pauta do cotidiano das pessoas, principalmente das crianças nas escolas da rede pública, privada e nas ações desenvolvidas pelas organizações não governamentais.
Novas ações foram desenvolvidas: a captação da água das chuvas, o reuso da água industrial e residencial e a economia das diversas formas de utilização foram colocadas em prática. A população se mobilizou pelo risco de racionamento. A Sabesp e as empresas municipais e terceirizadas de saneamento intensificaram suas campanhas de conscientização sobre a melhor utilização da água.
Por tudo isso que relembro as ações enérgicas e polêmicas do prefeito Olívio Junqueira, que, há quase 60 anos, já mostrava um cuidado especial com a utilização da água em nossa cidade.
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, em 2004, sua Campanha da Fraternidade “Água, Fonte de Vida”, para destacar a importância do tema. Parecia antever o momento atual.
É preciso que façamos nossa parte. Vamos contribuir com as futuras gerações, utilizando a água da melhor forma e promovendo ações que garantam o suprimento para todos.
Enfatizo nesse 22 de março, data que celebra o Dia Mundial da Água, para que tenhamos um momento de reflexão sobre a importância da água para a vida e a nossa contribuição para a melhoria da qualidade de vida de todos nós.
* Presidente Grupo Alerta
