O Quarto Rei Mago

Raul Vallerine

Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram os magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo (Mt2, 1-2).

O Quarto Rei Mago

É comum vermos quadros com os três sábios do Oriente que foram a Belém visitar o Menino Jesus, presenteando-o com ouro, incenso e mirra.

Normalmente, os magos costumam ser representados como reis, embora não conste nos evangelhos que realmente o fossem, e estão diante do Menino que se encontra no colo de Maria. Há muitas lendas a respeito desses sábios.

Mas nem todos sabem a história de Artaban, o quarto mago, que passou a vida à procura de Jesus e só o encontrou quando Ele estava a ser crucificado.

É uma lenda linda que nos revela uma criatura cheia de bondade e fé que também viu a estrela brilhar sobre Belém, mas sempre chegava atrasado aos lugares onde Jesus poderia estar, porque encontrava pobres e miseráveis a precisar da sua ajuda.

Gaspar, Melquior e Baltasar nomes que a tradição popular dá aos três personagens colocaram seus presentes diante do Menino e de sua Mãe.

Maria sentiu-se honrada, mas Jesus não quis sorrir: Não se sentiu atraído pelo ouro luzente; a fumaça do incenso o fez tossir, e desviou o olhar da mirra.

Os três reis magos levantaram-se e partiram. Logo que seus camelos desapareceram entre as colinas, chegou o quarto rei.

Vinha de um país banhado pelo Golfo Pérsico. Também vira a estrela iluminando o céu. Escolheu, então, um presente raro: três grandes pérolas. Saiu decidido a procurar o lugar sobre o qual brilhava a estrela.

Primeiro desencontrou-se de Melchior, Gaspar e Baltasar, porque lhe apareceu um homem meio morto no caminho, a quem o coração lhe pediu para ajudar.

Chegado a Belém, teve de comprar a vida de uma criança que estava para ser assassinada, às ordens de Herodes, dando ao soldado que a encontrara uma das pérolas que levava para oferecer ao Menino Jesus.

Sabendo que José e Maria tinham fugido para o Egito, pôs-se a caminho, mas Jesus já havia regressado a Nazaré. Quis ir lá adorá-lo, mas um escravo ia ser levado à força para as galés e Artaban achou que era melhor oferecer-se para esse trabalho.

Depois de trinta anos de trabalhos forçados chega a Jerusalém. É tarde demais, o menino já se transformou em homem e está sendo crucificado naquele dia.

O rei havia comprado pérolas para Cristo, mas precisou vender quase todas para ajudar as pessoas que encontrou em seu caminho.

Sobrou apenas uma pérola e o Rei Mago pensa com ela comprar a libertação de Jesus. Mas encontra uma mulher aflita a ser levada por uns homens. E salvou-a, oferendo uma pérola aos atacantes.

Agora já nada mais pode fazer. Nem uma pérola lhe resta para resgatar Jesus. Falhei a missão da minha vida pensa o rei mago.

Mas neste momento, escuta uma voz: Ao contrário do que pensas, tu estiveste comigo durante toda a tua vida. Eu estava a morrer e tu me resgataste. Tu me livraste da morte quando acudistes àquelas pessoas necessitadas.

A tua caridade para com os pobrezinhos foi a melhor pérola que me podias dar. Muito obrigado por tantos presentes de amor!

Esta lenda formou-se na Idade Média. E por ela se vê, que se entendia plenamente que amar o próximo é amar o próprio Jesus.

Artaban nunca encontrou fisicamente o Rei de Israel, mas realizou as exigências de seu Reino.

Por isto, por mais vidas que vivesse, faria novamente o que fez: Foi fiel ao sinal que a estrela lhe apontara. O serviço aos homens preencheu a sua fé e a sua esperança. Assim se tornou o protótipo da vida de todo cristão.