Nova ortografia





Desde o dia 1º não mais coexistem duas normas ortográficas no Brasil. Enfim, a Nova Ortografia, cuja assinatura se deu em 1990, a vigência internacional em 2007 e, pelo decreto da Presidência da República, número 6.583, produz seus efeitos no Brasil a partir de janeiro de 2009, é a única norma ortográfica a ser respeitada.

Importante, porém, além de todos os aspectos linguísticos e gramaticais que já foram discutidos, é entender em quê essa ortografia é nova, ou melhor, inova.

Pra começar, vamos entender que ortografia – grafia correta – é um conjunto de regras arbitrárias e convencionais, em sua maioria irregulares. Ou seja, poucos princípios se aplicam a todas as palavras. Poucos mesmo. Um bom exemplo das poucas regularidades é que em língua portuguesa nenhuma palavra começa com “rr” e sempre, antes de “p” e  “b”, usamos a letra m para marcar nasalidade. Mas é possível contar nos dedos, de uma mão, outras regularidades como as citadas. Quero dizer que não há uma lógica (intrínseca e inquestionável) no registro escrito: há tendências e influências, sobretudo etimológicas.

 

Aquela desesperada procura de todo falante da língua pela (“lógica”) correspondência entre a sonoridade e a grafia, é uma ilusão tremenda. Não existe correspondência absoluta entre letra e som nem no alfabeto da língua portuguesa e, por consequência, nem nas palavras, frases, textos!! Uma única letra pode representar vários sons – letra “x”: xícara, tóxico, exagero -, um único som pode ser representado por várias letras – som (s): suave, assalto, acento, discente, criança, expectativa. Por quê? Porque a língua é um organismo vivo e incontrolável cuja evolução tentamos bravamente frear.  Assim, sempre haverá mudanças, especialmente, na língua falada. Na escrita, há regras que contribuem para a conservação. Nessa tensão – inovação/conservação – vivemos.

O esforço de conservação do registro escrito de uma língua  não a prejudica, mas a favorece possibilitando que, por um tempo, todos os usuários reconheçam os signos de uma língua. Ou seja, embora na sonoridade haja diferenças, na escrita o registro será sempre o mesmo: porta. Por isso, para textos é fundamental que se dominem as regras de ortografia porque escrita é um espaço onde variações não são admitidas. Não dá pra usar de um jeito no primeiro parágrafo e de outro no último. Ou hoje com um “s”, amanhã com dois “s”; já na fala, variações não causam espanto algum.

Então, mudanças ortográficas como retirada de acentos, ainda que “novas”, não indicam liberdade, continuam sendo regras de conservação. A norma gramatical, como a ortográfica, é instrumento de uniformização. Perdoem-me a rima, mas, mesmo assim, houve inovação?

Havia ou não necessidade de mudança? Houve avanço, retrocesso? Tais discussões hoje são inúteis. Fundamental, sem dúvida, é mudar o foco para alcançar o que importa: aprender as regras ortográficas.  E para a aprendizagem, sim, a inovação das estratégias e métodos é absolutamente necessária.

* Doutoranda em “Innovation in Engineering Education”, na Unesp de Guaratinguetá-SP e mestre em língua portuguesa.