Nas ondas do radio





Este texto foi pesquisado, rascunhado e escrito originalmente em 1982. E, em 11 de setembro de 1983 (lá se vão 32 anos), foi publicado novamente no jornal Integração. Ele nasceu tendo em vista que, nessa época, só havia na cidade a ZYL-5 Rádio Difusora de Tatuí, e por problemas que desconheço ela ficou “fora do ar” por um longo tempo.

Foi vendida para um grupo de Jundiaí (SP) e, após uma duradoura negociação, comprada por empresários tatuianos e, graças a Deus e a eles, ela voltou para Tatuí. Durante todo aquele tempo em que a Rádio ficou muda, eu senti como se a cidade estivesse “calada” e comecei a conversar com pessoas ligadas àquele universo radiofônico, entrevistas, conversas etc., e acabei conhecendo um pouco da sua história.

Para minha surpresa, em 1984, fui trabalhar na Comissão Municipal de Turismo e Cultura e, em 1985, fui convidado a estrear um programa na Rádio Notícias de Tatuí, que ia ao ar de segunda a sexta-feira, das 13h às 16h, e pela proposta de ser bem diversificado, tocando desde brega até sucessos, anos 60, 70, 80, country, rock, new wave, etc., de tudo um pouco.

Batizei-o de “Salada Mista!”. Eu tinha uma responsabilidade pesada, pois após a minha “Salada”, entrava no ar o inesquecível Teixeira, “O Coronel do Sertão”, mas essa história é outra história, que vai ficar para uma próxima oportunidade, aguardem!

Nestes últimos anos, passou a ser administrada pela Alessandra Vieira de Camargo Teles, que é a responsável pelo grupo Central de Rádio, que engloba: Rádio Notícias de Tatuí, Ternura FM, FM Vale Verde e a 107 FM, levando notícias, entretenimento, músicas, diversão a milhares de ouvintes de nossa região, também de todo o sudoeste e, principalmente, levando o nome de Tatuí para milhares de pessoas e cidades!

Também, quero aproveitar para homenagear os meus ouvintes da época e amigos que trabalharam e trabalham fazendo a alegria e ajudando a passar o tempo mais rápido e alegre.

Cada um na sua época e no seu estilo, lá estavam: Finfele, Zé Roberto, Carlinhos Nunes, Juraci Oscar, Milton Pires, Altamiro Vieira, Zé Vicente, Ari Pereira Borges, Costa Neves, Ademir, José Carlos Ferreira, Edmur Pires, Módena, Guarugy, Genimar, João Bueno “Furacão”, o Barth, Gleisson, Guilhermo Tierra, Sérgio Mascarenhas, Valter Leite “Carioca”, Abel da Viola, Jóca “Yázigi”, José Antonio Santos, Camilo Perez, Eliana Coca-Cola, Paulo e Sandro Sotero, Adilson Rippa, Claudinei “Cebolinha”, Célia Marteleto, Barão Vermelho, Sílvia Franco, Euclides Ferreira, Mário Eduardo Da Coll, Jairo Pires, Rizek, Vera Holtz, Lineu Voss Avalone, Joaquim Roberto Neves, Marquinhos 2 (Eletrola Digital), Sérgio Caetano, JB, Macgaule, Cassianinho, Parahilio, Nicola Caporrino, Roberto Rosendo, entre outros.

E, atualmente, aí estão “no ar”: Bossolan, Marcelo Revoredo, André Aguiar, Bolão, Luizinho dos Esportes, Hélinho Beijo-Frio, Manoel Donizetti, Mayara, Vlademir, Rogério Lisboa, Renato “Cabeça”, Wilson Bertrami, Figueiredo e outros.

A todos, o meu abraço e, se por acaso, me esqueci de alguém, me desculpem e sintam-se representados no texto acima. Quem quer que seja, você faz parte dessa história!

E, agora, vamos voltar no tempo mais precisamente há 32 anos, apertem o cinto e boa viagem no “Túnel do Tempo”, ou no “Vale a Pena Ler de Novo”.

“A cidade calada”

Estamos no ano de 1941 ou 42, a cidade continua silenciosa e calma. Tudo é calmo. Às vezes, o silêncio é quebrado pelo barulho do motor pipocante de um Fordinho ou de qualquer outro, “dos antigos”. Depois tudo volta a seu lugar.

A cidade não tem muitos divertimentos a oferecer e os que podem sair à noite, vão até a Praça da Matriz e ficam conversando, “flertando” (paquerando da época), enquanto de um alto-falante despejam-se músicas da moda.

A televisão dá seus primeiros passos já, mas, na verdade mesmo, é mais uma promessa, para quando for possível.

Cinema? Ah! O cinema mostra filmes musicais, comédias tipo pastelão, com Charlie Chaplin e o Gordo e Magro, e o fundo musical, sempre, é feito por músicos de Tatuí, como: o seu Juca Fonseca, João Del Fiol, Bimbo Azevedo e outros.

Os inventos eletrônicos ou elétricos começam a sofrer modificações, melhorias; sua fabricação é lenta e sem muitos retoques ou acabamentos. Um desses inventos que começam a ocupar o seu lugarzinho nas casas é a Rádio, aqueles “caixões de abelhas”, ou “capela”, cheios de válvulas, com botões enormes e que ao redor dele, sentavam-se todos após o jantar para ouvir, entre estalos e chiados, as músicas da época, como Francisco Alves, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Gilberto Alves, Nelson Gonçalves e outros, como também a “Hora do Brasil”, ou as ferrenhas campanhas políticas do tempo de Getúlio Vargas. E as radionovelas, então? Ah, temos como a mais formosa e interminável “O Direito de Nascer”, televisionada também algumas décadas depois… Na sala de estar, com móveis da época, o porta-chapéus, cadeiras de palhinha, o pai com um vasto e bem tratado bigodão, a mãe de óculos (enfeitando o rosto), aro dourado, e perto dela a filha com seus cabelos em cachos, o vestido em alva renda, o namorado com polainas alvas, gomalina, colete, palheta, conversam sob o olhar fumegante do pai dela, e, nesse tempo, era bem empregado o ditado que dizia “toda donzela tem um pai que é uma fera”.

Tatuí teria nesse tempo, aproximadamente, uns 25 a 30 mil habitantes, e os serviços de alto-falantes continuam aliados aos ditos “Rádios”, sua missão de comunicar e informar!

Esses serviços de alto-falantes tiveram, em Tatuí, dois pioneiros: Osório de Camargo e Eudóxio Xavier da Silva, que pelos seus microfones ofereciam músicas, davam notícias da Cidade Ternura, faziam suas transmissões, mas sem muita seriedade.

Por questão de preços e outros problemas, os dois proprietários (cada um tinha o seu serviço de alto-falante), começaram a entrar em desentendimentos, acabando por paralisarem por completo as suas atividades.

Estes resolveram, então, procurar o senhor Oscar Oliveira da Mota e propor-lhe a compra dos aparelhos. O senhor Oscar, como já tinha fundado uma série de coisas aqui na cidade – a ver: Escola de Comércio, Escola Remington, Cooperativa de Crédito Agrícola e outros -, resolve aceitar esse novo empreendimento, pois, ao seu ver, Tatuí já necessitava de uma transmissão sonora séria.

Comprou-os e os reorganizou e, depois de algum tempo, notou que a coisa ia surtindo efeito, resolveu puxar extensões de fios para alto-falantes para o largo do Mercado, bairro 400, Praça da Matriz e também praça Antonio Prado (Concha Acústica), local este onde também existiam alguns aparelhos de medição metereológica, distribuindo, dessa maneira, uma melhor forma de sonorização pela cidade.

No total haviam sido instalados uns cinco ou seis alto-falantes por Tatuí, uma verdadeira “estaçãozinha radiofônica”, como definiu-nos o senhor Oscar Mota. O movimento estava melhorando, pois, tinham nas suas programações, propagandas de Itapetininga, Sorocaba, São Paulo e outras.

Em vista disso, ele chegou à conclusão que, em Tatuí, já poderia ter uma rádio emissora. Convidou, então, uns amigos, e todos estes aderiram à ideia, sendo que, na primeira tentativa, a coisa falhou, mas, na segunda, surtiu efeito.

Decidiu-se pela formação de uma sociedade que foi encabeçada por três elementos: Oscar Silveira da Mota, Eudóxio Xavier da Silva e doutor Itagyba Santiago.

Constituíram-na em 13/12/1946 e, em 16/12/1946, foi expedido o despacho do senhor ministro da Viação (atualmente, comunicações), Clóvis Pestana, autorizando o funcionamento da Rádio Difusora de Tatuí (R.D.T.).

Ela ganhou o prefixo ZYL- 5 R.D.T., com potência de 100 watts e frequência de 1.580 kilociclos.

Como não havia prédio próprio, o seu funcionamento optou-se, então, por uma casa de esquina, onde antes funcionava uma pensão e ficava entre a rua 15 de Novembro e a travessa Pracinhas de Tatuí (atualmente, é um prédio que fica defronte à Caixa Econômica do Estado de São Paulo – atualmente, Banco do Brasil)

A tal pensão sofreu uma série de remodelações e passou a ser o primeiro estúdio da R.D.T., e tal imóvel pertencia à Santa Casa de Misericórdia de Tatuí. Foi feito um contrato por cinco anos entre aquela entidade e os três sócios.

Compraram novos equipamentos e começaram a ser montados os transmissores, causando grande expectativa por parte dos nossos ouvintes e donos.

Após grande propaganda para a data da inauguração, são abertas as portas do seu auditório, sendo que as poltronas ali existentes foram poucas para a acomodação da grande massa humana que para lá se dirigiu, transformando tudo numa grande festa.

Era dia 7 de julho de 1947, e a primeira voz a ecoar pelos ares tatuianos, já na Rádio Difusora de Tatuí, foi a do doutor Itagyba Santiago.

Com o passar do tempo, as cotas de participação foram sendo transferidas para novos sócios, entre os muitos temos: Francisco Vieira de Campos, Silvestre Segundo Nazário Xavier da Silva, Armando Minghini, Simeão José Sobral, Milton Stape, Martinho Ribeiro, José Celso de Mello, Cesário Franco e outros.

Haviam na R.D.T., cursos para o ingresso de novos locutores, série de treinamentos, cuidados médicos, recomendação de leitura de bons livros, e, após uma série de “testes”, o candidato apto “entrava para o ar”.

No seu palco-auditório, havia shows, concursos de calouros ao vivo e outras atividades.

Nos tempos de “política brava”, havia transmissões, mas foram interrompidas por causa do grande atrito que gerava entre as facções políticas, e, para evitar maiores problemas, decidiram os diretores encerrar esses “amistosos debates”.

Muitas vozes, passaram pelos seus microfones o já famoso e exclusivo locutor das ofertas do Mappin e Jumbo, o conhecido Antonio Del Fiol, entre outros.

O estúdio situado à rua 15 de Novembro aí permaneceu desde 1947 até 1960, sendo de lá transferido para a praça Paulo Setúbal, no Teatro Rosário, sendo que tal local possuía cerca de 200 poltronas e um bom palco, onde, aos fim de cada mês, eram mostradas peças teatrais dirigidas pelo senhor Vessa Araújo, além de programas de calouros e outras atividades.

No final de 1960, ficaram só três sócios: Oscar Silveira da Mota, Milton Stape e doutor Simeão José Sobral.

Depois do Teatro Rosário, foram transferidos os estúdios para a praça Manoel Guedes (largo da cadeia velha, ou “Museu”), e, em 1970, a Fundação Manoel Guedes comprou as cotas restantes e passou a administrá-la.

No ano de 1976, a R.D.T. passou a ter novo prefixo: Z Y E-411, sua potência foi aumentada de 100 para 1.000 watts e sua frequência passou de 1.580 para 1.530 kilocyclos.

Em todos esses anos, quanta informação, quantos avisos, quantos jogos, enfim, desde a sua fundação (1947/1987), eis que, passados 40 anos, já faz parte do coração de Tatuí.

Hoje, sofre a concorrência desleal de altas e poderosas FMs, que transmitem, com vantagens várias vezes superior, mas ela continua firme, não deixando a cidade calada.

Depois de ser administrada por vários grupos, passou a pertencer ao Grupo Notícias de Jundiaí/SP, sendo que depois de “sai, volta, oscila, some, chia”, volta aos ares tatuianos e adjacentes, a Rádio Notícias de Tatuí-ZYK-699,1530 kilohertz , com uma nova diretoria, composta pelos senhores Luiz Gonzaga Vieira de Camargo e José Francisco Delarole Mendes, os quais, aliados a uma nova equipe, voltam com força total, apta a transmitir tudo o que seja de utilidade para o povo de Tatuí e região.

Este artigo é apenas uma amostragem do que foi a história do Rádio na nossa cidade. Deixo aqui o meu abraço a todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que ela pudesse permanecer até hoje no cantinho direito do nosso rádio, transmitindo alegria, tristeza, enfim, fazendo parte do nosso dia a dia.

Alguma vez você imaginou Tatuí sem Rádio, para transmitir coisas nossas, das gentes?

É, imagine e sinta como seria triste!

E, apenas mais um lembrete: cidade sem rádio é uma cidade calada.

Tatuí, 11 de setembro de 1983.

Luiz Antonio Voss Campos

PS.: Este trabalho só foi possível com a ajuda das seguintes pessoas, a quem são deixados os meus mais sinceros agradecimentos: senhores Oscar Silveira da Mota, Walter Silveira da Mota, José Antonio dos Santos, e ao meu pai, professor Diógenes Vieira de Campos, e à minha irmã, professora Maria Eugênia Voss Campos.