Municí­pio poderá se interligar ao Inmet





Cristiano Mota

Ferreira, Tomazela e Rosica apresentam estação que está em fase de implantação

 

Tatuí poderá fazer parte da “rede de dados” do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) se os planos da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” se concretizarem. A instituição iniciou, a partir de janeiro, a instalação de uma estação meteorológica automática.

Ela pretende, por meio do equipamento, fornecer dados que permitirão ao instituto fazer previsões. Todo o projeto está sendo formatado pelo pesquisador José Carlos Ferreira e recebe apoio dos professores Mauro Tomazela (diretor da faculdade), Anderson Luiz de Souza (vice-diretor) e Oswaldo D’Estefano Rosica.

Recém-contratado pela unidade de Tatuí, Ferreira é mestre em ciências atmosféricas pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do Nupe (Núcleo de Pesquisas) da faculdade local. Ele trouxe o projeto ao município depois de iniciar a implantação, em Sorocaba, de uma estação convencional.

Ferreira contou que iniciou a pesquisa na Fatec sorocabana. Depois de se aposentar, ele passou por um processo seletivo, sendo contratado para atuar em Tatuí. Como é o detentor do projeto, decidiu continuar os estudos meteorológicos no município. A partir da estação ele quer incluir a cidade na rede do Inmet.

“O interessante é que o instituto tem estações em todo o Brasil, coletando dados e variáveis para previsões e outros serviços, mas não tem aqui. E é isso que vamos tentar fazer, além de prestar serviços para região”, disse o professor.

A estação meteorológica da faculdade foi adquirida com recursos oriundos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Como Ferreira é quem desenvolve o projeto, ele escolheu Tatuí para instalá-lo.

“O CNPq é do governo federal e o Inme, também. Então, pensei num casamento feliz. Trazer a estação para cá, que é uma cidade que não tem estação, e deixá-la integrada ao sistema nacional de meteorologia”, disse o professor.

O equipamento que está sendo implantado na faculdade é mais moderno que o de Sorocaba. Em Tatuí, a estação será automática, armazenando informações em intervalos de tempo pré-definidos (de minuto em minuto ou hora em hora).

As informações serão transferidas por meio de sensores a um “datalogger”, também conhecido como aquisitor de dados ou registrador gráfico. Trata-se de um equipamento capaz de armazenar leituras de outros instrumentos de medição.

Em Sorocaba, os dados precisam ser coletados manualmente. “Tem que um instrumentador medir a água do pluviômetro, dar corda no relógio, medir os sensores solares, entre outras coisas. Depende muito da pessoa coletar informações”, afirmou Ferreira. Conforme o professor, a estação sorocabana exige que os dados sejam conferidos no intervalo de, pelo menos, três vezes ao dia.

Depois de completamente instalada, a estação meteorológica da Fatec de Tatuí não necessitará de intervenção para processar informações ou transmiti-las. A coleta será realizada de maneira automatizada, com registros sendo feitos em intervalos definidos para cada estudo e acessados via “datalogger”.

A proposta é que o acesso às informações possa ser feita manualmente, com um profissional retirando o “datalogger”, ou automaticamente, por meio de sistema de rádio. Essa segunda opção pode ser utilizada pelo Inmet.

O diretor da Fatec afirmou que a proposta de implantar a estação no município se concretizou no dia 20 de janeiro. Na data, a entidade efetivou o pesquisador como professor. Ferreira passou por um processo seletivo e passa a lecionar na unidade de Tatuí. “Nós estávamos aguardando a vinda dele, por meio de concurso, para que pudéssemos legitimar a iniciativa”, comentou.

Tomazela disse, também, que o corpo acadêmico da instituição estava “namorando” o projeto. Completou, dizendo que a efetivação da estação meteorológica vai permitir que a Fatec dê continuidade a trabalhos já iniciados por meio de professores e alunos em áreas relacionadas ao meio ambiente.

Em princípio, os dados poderão ser repassados ao Inmet. No entanto, a faculdade vislumbra repassá-los para outros órgãos, como o Corpo de Bombeiros, a DC (Defesa Civil) do município e casas de agricultura da região.

Os dois primeiros realizam operação voltada a combate de desastres provocados por chuvas. Já as casas poderão utilizar os dados para elaborar programas de manutenção de ruas, de drenagem rural e de preservação de propriedades.

A estação meteorológica da Fatec está sob os cuidados, atualmente, ao Ceeteps (Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”). Os dados que serão coletados por meio dela permitirão a realização de diversos projetos.

Dentre eles, a continuidade de estudos desenvolvidos pelo próprio pesquisador. Em Sorocaba, conforme informou Tomazela, Ferreira criou um “software” (programa de computador) que permite a previsão de precipitação máxima de chuvas nos próximos 50 anos em qualquer ponto do Estado de São Paulo.

“Quem forneceu os dados necessários para que ele compilasse o programa foi a estação de Sorocaba. Ele pode continuar com os estudos aqui e nós podemos, também, fornecer informações para outros setores”, destacou o diretor.

Tomazela disse que o Inmet, as defesas civis, casas de agricultura e prefeituras serão “clientes” da estação. A intenção é que os dados não gerem custos para quem os solicitar, mas estimulem novas iniciativas de pesquisas.

Para Ferreira, diversas entidades poderão ser beneficiadas com o funcionamento da estação meteorológica. Conforme ele, as informações poderão servir de base para estudos em salas de aula e para ações de educação ambiental.

Também existe a possibilidade de a estação municiar o CBH-SMT (Comitê de Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê) com informações. “Os dados são importantes para o campo, para o dimensionamento de contenção de enxurradas de água de chuva, para estudos de assoreamento. Enfim, há uma infinidade de aplicações que podem ser iniciadas”, disse o pesquisador.

O diretor da Fatec antecipou que a estação deve contribuir “em muito” com os projetos que estão sendo desenvolvidos pela instituição. Entre eles, o de captação de água de chuva. “Ela vai corroborar com as atividades que a gente vem desenvolvendo na Fatec de Tatuí, voltadas às questões ambientais”, falou.

Ainda de acordo com ele, a entidade mantém iniciativas que são interligadas com o meio ambiente. Tomazela citou como exemplo o projeto de cessão de máquinas caça-níqueis viabilizado pelo juiz de direito da comarca, Marcelo Nalesso Salmaso.

Por meio de um convênio, o magistrado cede à faculdade equipamentos que são apreendidos pelas polícias (Civil e Militar) e GCM (Guarda Civil Municipal). As máquinas caça-níqueis passam por um processo de seleção de componentes e são, posteriormente, transformadas em totens de acesso à internet.

Conforme o diretor, o projeto tem “várias finalidades”. Além de cuidar da contravenção, ele garante destinação correta para os equipamentos eletrônicos que, até então, eram descartados. Também evita contaminação do solo e, por consequência, dos lençóis freáticos, preservando mananciais da região.

A montagem da estação está em fase inicial, segundo o pesquisador. Ferreira comentou que ele está realizando uma espécie de “preparação” para a instalação definitiva.

“Temos equipamentos que serão colocados posteriormente. Estamos montando lá (numa área da faculdade) uma estrutura para definir a posição com relação ao eixo de rotação da terra, mas não há medição no momento”, comentou.

Por ser um projeto considerado inovador, a faculdade não tem um prazo definido para a conclusão da instalação. A área em que os equipamentos serão montados deverá ser fechada para evitar contatos de pessoas não autorizadas.