Mota diz não ver caminho para convênios





Arquivo o Progresso

Ronaldo José da Mota visa à melhoria da saúde para trabalhadores

 

“O sindicato está encontrando grandes dificuldades na relação com a Santa Casa e não vê outros caminhos. Há uma pressão muito grande das indústrias sempre que há qualquer tipo de negociação envolvendo benefícios”.

A declaração do presidente do Sidmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Ronaldo José da Mota, diz respeito a um projeto antigo da entidade classista. Em entrevista concedida na tarde de quarta-feira, 4, o sindicalista afirmou que tenta trazer para o município novos convênios médicos há décadas.

Conforme ele, o principal empecilho era o não credenciamento para atendimentos na Santa Casa. O único hospital filantrópico do município mantinha convênio, até o mês passado, com a Unimed. A empresa deixou de prestar atendimento para conveniados na Santa Casa com a inauguração de hospital próprio.

Desta forma, “o caminho ficou livre” para planos de saúde que estão de olho no mercado tatuiano. O único entrave ficaria a cargo da provedoria. Mota disse que a direção do hospital ainda não se posicionou sobre a possibilidade de credenciar duas empresas para a ampliação do atendimento em Tatuí.

Em janeiro, a diretoria do sindicato reuniu-se com a provedora da Santa Casa, Nanete Walti de Lima, com o vice-provedor, Máximo Machado Lourenço, e com o tesoureiro da instituição, João Prior. Desde então, aguarda resposta da diretoria para saber se duas novas empresas poderão operar no hospital.

O projeto interessa diretamente ao sindicalista por conta das indústrias. Mota disse que a base sindical conta com mais de 7.000 associados e que esse número representa uma cartela de mais de 21 mil vidas. A multiplicação é feita por conta do titular do convênio ter, pelo menos, dois dependentes.

Também há a pressão das empresas sobre o sindicato pela vinda de novos planos de saúde. O presidente da entidade classista alega que o aumento do número de convênios deve facilitar as negociações sindicais e desonerar os trabalhadores.

Com mais concorrência, Mota disse que as empresas não precisarão ficar “reféns” de uma única operadora. “Hoje não existe mais negociação. As empresas não têm opção. Tanto faz como tanto fez para o funcionário ter plano empresarial ou ter o plano pessoal. Os valores são os mesmos”, argumentou.

Como os convênios médicos não são direitos trabalhistas, mas classificados como benefícios, Mota explicou que os trabalhadores acabam sofrendo mais. Isso porque os reajustes propostos pela única operadora da cidade são repassados para eles. As diferenças de valores não são bancados pelas indústrias.

“Daí que entra o papel do sindicato, de tentar trazer mais convênios para atender funcionários das indústrias. A luta para entender o posicionamento da Santa Casa e de querer saber o motivo pelo qual não se tem novos planos de saúde em Tatuí. Quem está sendo afetado diretamente é a população”, disse.

Além de melhorar as condições de atendimento, Mota afirmou que a vinda de novas operadoras vai reduzir o impacto sofrido pelas indústrias na questão trabalhista. O acesso amplo a consultas, exames e cirurgias deve implicar em melhoria da saúde do funcionário e em menos faltas por atestados.

Conforme Mota, a questão dos planos de saúde em Tatuí é antiga. Somente o Sindmetal discute soluções com as indústrias, com o poder público e com a Santa Casa há mais de dez anos.

“Os planos de saúde são um grande problema desde que eu entrei no sindicato. No início tinha só uma operadora que negociava direto com as empresas e elas descontavam da folha de pagamento quem aderia”, recordou.

Em função da baixa adesão, o sindicato precisou intervir para melhorar as condições de atendimento. Pela “falta de concorrência”, as indústrias ficaram sujeitas a aumentos anuais e maiores que a inflação por conta de reajuste por sinistralidade (a relação entre os custos sobre as receitas de uma operadora).

Na tentativa de minimizar o problema, o Sindmetal trouxe três empresas, sendo a primeira, a LAM e, a segunda, a Mediplan. Por conta da baixa adesão dos médicos, para atendimento de consultas, essas duas “não vingaram”.

O sindicato viabilizou, ainda, a vinda da Intermédica. Mota afirmou que pressões atribuídas a médicos ligados ao convênio mais antigo da cidade também contribuíram para que esse terceiro plano não conseguisse sobreviver.

Em 2013, a entidade classista tentou trazer para o município a Amil, que retomou negociações com a Santa Casa. A operadora negocia juntamente com a MediSanitas um convênio para poder atender urgências e emergências em Tatuí.

Ao todo, Mota disse que quatro empresas estão negociando. Duas delas não tiveram os nomes informados. No ano retrasado, a Amil propôs reformar a ala da antiga maternidade para que ela fosse transformada em PA (Pronto Atendimento).

Entretanto, Mota alegou que o acordo do hospital com a operadora anterior teria impedido o avanço das negociações. O sindicalista afirmou, ainda, que a Santa Casa só aceitou voltar a discutir a possibilidade por ter perdido receita.

Conforme ele, a Unimed respondia por 80% do faturamento do hospital. Mota afirmou que o SUS (Sistema Único de Saúde) gera apenas 20% de receita. Os valores não são os mesmos apresentados pela provedora (matéria nesta edição).

Mota afirmou, ainda, que o hospital está estudando a possibilidade de implantar um modelo sugerido pelo sindicato há quatro anos, denominado “Santa Casa Saúde”. “Seria uma pessoa jurídica para ir atrás dos convênios. E, essa pessoa jurídica, com diretoria própria, é que iria gerir os planos”, comentou.

A Santa Casa Saúde prestaria serviços para a Santa Casa e ficaria responsável por receber os dinheiros dos convênios e repassar para os médicos do hospital. Mota alegou que esse modelo é considerado seguro. De acordo com ele, haveria garantia para os médicos de que o dinheiro repassado ao hospital seria utilizado para pagamento de vencimentos e não de despesas.

“Parece que agora a Santa Casa vai começar a fazer isso. Mas nós estamos brigando desde 1994. Estamos lutando para ver o que pode ser feito”, disse o sindicalista.

A ideia do sindicato é que as empresas comecem a operar inicialmente por meio da Santa Casa. No hospital, os conveniados teriam direito a atendimento de urgência e emergência, que são os serviços mais complicados.

Num último estágio, elas venderiam serviços para as empresas. “Aí, a concorrência ficará a cargo delas. Aliás, a melhor coisa que existe é a concorrência”, disse.

De antemão, Mota afirmou que todas as empresas que estão negociando com o hospital têm planos de construir um pronto atendimento próprio. Exames laboratoriais e atendimentos clínicos seriam credenciados à parte, junto com médicos do próprio município, para melhorar a qualidade do serviço.

Conforme o sindicalista, o credenciamento da Santa Casa representa uma espécie de seguro para as empresas. A partir do hospital, é que as operadoras poderão criar a rede de atendimento, credenciando médicos. O prazo desse processo é de um mês após o início dos atendimentos junto ao hospital.

As propostas das empresas inclui a disponibilidade de um helicóptero, uma vez por mês, para transferência de casos mais complexos, graves e urgentes. As empresas aguardam resposta da Santa Casa até o final deste mês.