Mostra compila seis décadas do Conservatório





AI COnservatório / Kazuo Watanabe

Painéis instalados no Centro Cultural Municipal exibem 170 fotos de eventos, colaboradores e de músicos que estiveram no palco do Conservatório ao longo de seis décadas

 

“Rever o passado é sempre uma forma de a gente dar uma olhadinha para o futuro, para projetar como é que a gente quer ser”. As palavras do diretor executivo do Conservatório de Tatuí, Henrique Autran Dourado, sintetizam o objetivo da exposição aberta no Centro Cultural Municipal na noite de quinta-feira, 7.

Composta por 170 fotos, programas de eventos, cartazes e vídeos, a mostra especial faz parte das comemorações dos 60 anos da maior escola de música da América Latina. Montada em parceria com a Prefeitura, ela também integra a programação da “Semana Paulo Setúbal”, que marca os 188 anos de Tatuí.

“Essa é a exposição oficial do aniversário da cidade”, destacou o diretor do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, Jorge Rizek. A mostra havia sido pré-programada no final do ano passado, integrando a série de ações que o Conservatório de Tatuí prepara por conta de sua efeméride.

O evento é fruto de “mais uma parceria” firmada entre a municipalidade e o Conservatório. Rizek explicou que a exposição é realizada anualmente como forma de preservar a memória e evidenciar personagens e instituições da cidade. “Todo ano, temos uma mostra que é uma homenagem comemorativa. Em 2014, o tema é o Conservatório, pelos seus 60 anos”, comentou.

Para o presidente do Conselho de Administração da AACT (Associação dos Amigos do Conservatório de Tatuí), Cristiano Guimarães de Camargo, a exposição visa enriquecer a história da escola de música. “Vejo isso como algo muito importante, tanto na parte musical como na de artes cênicas”, declarou.

Segundo ele, ao recontar a história do Conservatório, a mostra também exalta o trabalho dos funcionários. O presidente do conselho da AACT, por exemplo, completa neste ano 20 anos dentro da instituição. “Os que já pertenceram e os que pertencem também dedicaram uma parte da vida deles ao Conservatório. Então, ver esse trabalho é muito gratificante”, comentou.

Por trazer parte do acervo mais significante, a exposição dos 60 anos do Conservatório exalta, também, o esforço de personagens que contribuíram para que a escola se tornasse realidade em Tatuí. “Traz à tona como se deu a formação. Temos de ter, cada vez mais, essa memória viva”, ressaltou Rizek.

Os objetos em exposição remetem o espectador a diversos momentos e fases do Conservatório. Parte das fotos mostra cantores famosos e festivais realizados em Tatuí.

“Nós conseguimos o acervo com apoio do Departamento de Comunicação do Conservatório. As 170 fotos encaminhadas para a Cultura foram refeitas (retocadas e reimpressas). Também agregamos cartazes e programas”, contou.

Quem passa pela mostra pode conferir, ainda, uma peça de uniforme utilizado por alunos da escola de música e uma arca (parte de cenografia produzida pelo artista plástico, cenógrafo e professor, Jaime Pinheiro). Há, também, um monitor que exibe vídeos institucionais de eventos promovidos pelo CDMCC.

“São objetos que fazem o espectador entrar no mundo do Conservatório”, disse Erik Heimann Pais. O assessor artístico do Conservatório de Tatuí destacou que a mostra comemorativa ressalta uma das muitas características – senão a mais marcante – da escola de música: a colaboração.

“Vendo as fotos e os materiais que estão aqui, temos a sensação de quantas pessoas passaram pelo Conservatório, deram sangue, suor e lágrimas para ele ser o que é hoje. A sensação que eu tenho, e que muitas pessoas também têm, é de que ninguém faz as coisas sozinho. Nada é fruto de uma pessoa só”, disse.

Pais também citou que a abertura da exposição realçou a “atmosfera do Conservatório”, uma vez que contou com participação de alunos bolsistas do VIII Curso de Férias. A ação integra o Coreto Paulista, programa do governo do Estado realizado pelo Conservatório com apoio da TV Tem e CCR SPVias.

“É um privilégio para todas as pessoas que moram aqui. Eu não me recordo de ter entrado no Conservatório e de, pelo menos, não ter ouvido uma nota musical no ar”, disse.

Antonio Ribeiro, assessor pedagógico do Conservatório de Tatuí, acrescentou “outro olhar” ao evento. Para ele, a parceria com a Prefeitura é importante no sentido de divulgar a escola de música para um público “externo”.

Ribeiro considerou a exposição muito interessante, principalmente, porque ela permite que um público “não interno” conheça mais sobre o Conservatório.

“Acima de tudo, há um olhar inovador. Os eventos ‘indoors’ (dentro da escola) envolvem a comunidade do Conservatório falando dela mesma. Essa exposição permite que as pessoas que não estão no Conservatório o enxerguem de outra forma. Serve para mostrar as duas faces da mesma moeda”, disse.

Ainda segundo ele, a mostra integrante das ações comemorativas dos 60 anos do Conservatório traz notoriedade à escola de música. Ribeiro também destacou que a exposição reforça o papel do Conservatório no cenário local.

“Sermos lembrados nesse aniversário (dos 188 anos do município) é ótimo. Também é muito bom que a Prefeitura esteja participando dessa celebração (dos 60 anos da escola de música), porque o Conservatório se confunde com a história de Tatuí, e com a comunidade em que ele está inserido”, comentou.

Presente à cerimônia, o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, disse que ceder o espaço para receber a exposição é uma honra para o município. Manu afirmou que o Conservatório é “o maior patrimônio da cidade” e ressaltou a notoriedade da escola de música no âmbito estadual, nacional e internacional.

“Quem está sendo presenteado é a cidade. Nessa nossa parceria, quem mais ganha é Tatuí. E, nesta ‘Semana Paulo Setubal’, temos um duplo aniversário”, falou ele, referindo-se aos 188 anos de Tatuí e aos 60 do Conservatório.

Além de visitar a exposição, o prefeito acompanhou a apresentação de parte dos grupos de bolsistas que participaram do Curso de Férias. Manu disse que ficou encantado com a performance de músicos que tocaram harpa. “Nunca tinha visto alguém com esse instrumento. É emocionante”, relatou.

O prefeito também elogiou a organização da mostra e do concerto de abertura do Coreto Paulista. “Acompanhei a apresentação, no domingo, 3, e tudo estava maravilhoso. Achei que estava dentro de um filme, daqueles que ganham Oscar de trilha sonora. É uma emoção imperdível e impagável”.

Fragmentos da história

Com acervo mais “encorpado” que usualmente as mostras do Centro Cultural costumam apresentar, a exposição busca, basicamente, retratar a história do Conservatório. Entretanto, por limitação de espaço – ou falta de registros –, ela se apresenta como um resumo dos acontecimentos mais marcantes dos 60 anos.

“A mostra reconta a história dentro do que a gente consegue de memória. Agora, felizmente, nós temos modernos meios de arquivar e armazenar. Entretanto, muito do passado se perdeu, infelizmente. Aí, não se trata de culpa. São 60 anos num país que não tem muito costume de lidar com memória”, argumentou o diretor executivo do Conservatório, Henrique Autran Dourado.

Mais importante que os objetos que compõem a exposição, Dourado destacou que a mostra dá uma noção para os visitantes do trabalho desenvolvido anteriormente para que o Conservatório se tornasse realidade em Tatuí.

“A história não começou, obviamente, em 1951, quando foi aprovada emenda do então deputado Narciso Pieroni. Tem fatos anteriores, de luta para conseguir fazer, construir e para manter, porque houve discordâncias”, lembrou.

Para Dourado, apesar de árduo, o trabalho desenvolvido por abnegados do município é o que fez do Conservatório de Tatuí o “que ele é hoje”. “Essa trajetória coloca o Conservatório conhecido fora daqui. Acabei de chegar de fora (ele esteve em Londres, recentemente) e ouvi falar dele. Então, é algo que se consolidou com o tempo e que se propaga com os meios modernos”, disse.

Superando os desafios dos tempos em que a escola “iniciou caminhada”, Dourado afirmou que o Conservatório passa por um novo momento. Citou, ainda, que com a projeção internacional e a facilidade dos meios de comunicação, a instituição tem a obrigação de registrar a história atual. Seja por meio de concertos, masterclasses ou workshops, seja por meio da exposição.

“Quando a escola tiver um campus próprio, quando chegar aos cem anos, quando tudo isso acontecer, todos nós seremos parte do passado. E o passado vai ficar, também pelo menos, aqui nessa exposição”, disse o diretor executivo.

Também como os demais convidados que passaram pela exposição na noite de abertura, Dourado disse que as peças integrantes da mostra remetem ao trabalho das pessoas que ajudaram a fazer a história do Conservatório de Tatuí. “É maravilhoso, é fascinante como a gente pode perceber pelas fotos que elas faziam as coisas mais artesanalmente, mas com grande amor e carinho”, falou.

Mais que celebração, o diretor executivo considerou que a mostra evidencia o “amadurecimento” do Conservatório e projeta um desafio: o de manter a qualidade do ensino. Conforme ele, o CDMCC está em sua fase adulta, consolidado e tem ganhado, cada vez mais, as atenções de músicos do Brasil e do mundo.

Prova disso são os testemunhos obtidos pelos convidados estrangeiros que passam pela instituição nos muitos eventos. “Eles falam que é maravilhoso andar pelos corredores e ficar ouvindo música o tempo todo”, contou Erik Heimann Pais.

Conforme ele, os festivais internacionais integram reunião de ações especiais preparadas especialmente por conta da comemoração dos 60 anos. Desde fevereiro, o Conservatório abriga espetáculos quase que diários. Segundo Pais, a média é de 25 por mês e deve ser mantida até dezembro.

“Quase todo dia tem um espetáculo no Conservatório. Isso é, realmente, uma coisa ímpar. Só existe em megacidades e nas quais é preciso pagar. Aqui (em Tatuí), a grande maioria tem entrada franca ou preços acessíveis à comunidade”, comentou. “Isso é raro, uma coisa que temos que se orgulhar muito e valorizar para que nunca acabe”, adicionou o diretor artístico.

Formação de público

Os concertos gratuitos e promovidos fora do ambiente do Conservatório são ações que visam ampliação de público. Para Henrique Autran Dourado, a exposição dos 60 anos também reforça essa característica, somando-se aos muitos eventos que a escola de música desenvolve como ampliação de seu trabalho.

“Temos feito um grande trabalho no sentido de formação de público, especialmente, a partir das crianças. Eu creio nisso”, afirmou o diretor executivo.

Conforme ele, o progresso nesse sentido está ligado à parte pedagógica. Em especial, aos trabalhos via banda sinfônica e música de câmara. “Elas trazem as crianças que são o futuro do nosso projeto. Os adultos gostam, são comunicativos, mas as crianças, principalmente de periferia, devem participar”, disse.

Nesse sentido, o Conservatório de Tatuí promove o “Torneio de Cururu”. O evento fomenta a vinda de um novo público à instituição ao mesmo tempo em que reconhece – e reforça – a importância de uma das manifestações culturais da cidade.

“Tem gente que nunca pisou no Conservatório e isso é muito comum. Então, temos de convencer o povo a conhecê-lo. É dinheiro do povo. O povo contribui com impostos. Então, tem que vir e usufruir, não basta pagar”, disse.

Livro e permanência

Além da exposição, o Conservatório de Tatuí prepara para as comemorações de seus 60 anos um livro. A obra está a cargo da gerente de comunicação da instituição, a jornalista Deise Juliana de Oliveira Voigt. “É um trabalho bem extenso, que está sendo conduzido maravilhosamente bem pela Deise. Ele vai falar sobre a trajetória do Conservatório”, antecipou Dourado.

A intenção é que o livro possa ser utilizado como material de consulta e referência para futuras gerações. “É algo que todo mundo deverá ter em casa, para que isso faça parte da vida de todo mundo durante um bom tempo”, disse.

Outra novidade – e possibilidade vislumbrada por Erik Heimann Pais – é tornar a exposição sobre a história do Conservatório permanente. “Eu acho que o evento de hoje é um primeiro passo. Quem sabe um dia, ela não faça parte do Museu da Música, um projeto de muitas pessoas”, disse o assessor artístico.

A exposição “60 anos do Conservatório de Tatuí” pode ser visitada até o fim do mês, no horário de funcionamento do Centro Cultural. O espaço fica na praça Martinho Guedes, 12, no centro, e abre de segunda a sexta-feira das 8h às 21h. Aos sábados e domingos, a mostra poderá ser visitada das 18h às 22h.