Morre ‘pioneiro’ do ensino superior local

 

Na quinta-feira da semana passada, 29 de dezembro, Tatuí perdeu o pioneiro do ensino superior local. O professor e empresário Acassil José de Oliveira Camargo, 83, morreu devido a um infarto, na casa onde morava.

Camargo foi fundador da Asseta (Associação de Ensino Tatuiense) – Faculdade de Tatuí. O enterro aconteceu no Cemitério Municipal Cristo Rei, na manhã de sexta-feira, 30.

Na mesma semana, o professor e sociólogo havia sido internado na Santa Casa de Misericórdia, por problemas gástricos. De acordo com a família, o empresário reclamava, havia dias, de dificuldade de digerir alimentos.

Entre a internação, ocorrida na segunda-feira, 26, e a alta hospitalar, na quarta-feira, 28, Camargo passou por uma bateria de exames. Uma endoscopia revelou que o professor sofria de gastrite e úlcera estomacal.

Segundo a nora do empresário, Ana Paula de Azevedo Macedo Oliveira Camargo, o professor Acassil, como era conhecido, faleceu durante um cochilo, por volta das 14h de quinta-feira. Ele estava no próprio quarto, deitado na cama. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado, porém, Camargo já estava sem vida.

“A família chamou-o na porta do quarto e ele não atendeu. Morreu após uma parada cardíaca, enquanto dormia. Não sofreu com a morte”, afirmou Ana Paula.

Apreciador da aeronáutica, Camargo recebeu homenagem do ACT (Aeroclube de Tatuí) durante o enterro, ocorrido após funeral no Velório Municipal. Pilotos tatuianos realizaram voos sobre o cemitério onde o empresário e professor foi sepultado.

Casado, Camargo deixa a esposa Eunice Rossi Camargo e os filhos Acassil Júnior, Eunice, Soraya e Silvana, dez netos e um bisneto.

 

Pioneiro no ensino

Filho do também professor Acássio Vieira de Camargo e de Sílvia Sobral Oliveira de Camargo, Acassil nasceu em 6 de outubro de 1933. Lecionou desenho no então Instituto de Educação Estadual “Barão de Suruí”, atualmente escola estadual.

Durante o curso de ciências sociais, o diretor da Faculdade de Filosofia de Itapetininga indagou-lhe se tinha vontade de abrir uma faculdade em Tatuí. Com a ideia em mente, Camargo apresentou o projeto a amigos, e daí surgiu a Asseta, em 1971.

As realizações de Camargo no campo educacional não se restringiram ao ensino superior. Ele também fundou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tatuí, o Colégio “Paulo Setúbal”, que mais tarde passou a ser o Colégio Objetivo.

Camargo lecionou para o próprio Colégio Objetivo em São Paulo, a convite do fundador da instituição, João Carlos Di Genio. No Objetivo paulistano, ocupou o cargo de vice-diretor e diretor pedagógico.

O professor também incentivou a instalação da Faculdade de Educação Física de Tatuí, que funcionou entre os anos de 1971 e 1979, no clube da Associação Atlética XI de Agosto. O entusiasmo pelo ensino também colaborou com a construção do Planetário, instalado no Colégio Objetivo.

Outra contribuição de Camargo à educação local foi o Projeto Alpha. Rebatizado posteriormente como Projeto Ayrton Senna, abrigava crianças do ensino público no contraturno escolar.

O professor doou o terreno, onde foi instalado o projeto e onde funciona atualmente o Nebam (Núcleo de Educação Básica Municipal) “Ayrton Senna da Silva”.

O sociólogo e empresário também teve papel político importante na cidade, exercendo por dois mandatos o cargo de vereador, nos períodos de 1969 a 1973 e 1977 a 1983.  Em 1972, atuou como presidente da Casa de Leis.

Adepto das artes plásticas – principalmente, a vertente do abstracionismo -, o professor foi mantenedor da Amart (Associação dos Artistas Plásticos de Tatuí e Região). Uma das últimas exposições de Camargo ocorreu no Centro Cultural Municipal de Tatuí, em abril de 2011.

O professor também presidiu o Alvorada Clube. Durante o mandato, construiu a sede do clube, onde atualmente funciona o Centro Cultural Municipal.

Nos anos 1970, ao lado de José Reiner Fernandes, Ivan Gonçalves, Francisco José Lang Fernandes de Oliveira e Roberto Antonio Carlessi, Camargo fundou o jornal “Integração”.

O fascínio pela aeronáutica levou o professor a colaborar com o Sioani (Sistema de Investigação de Objetos Voadores Não Identificados). Ele trabalhou como investigador civil, ao lado de militares da FAB (Força Aérea Brasileira), entre os anos de 1969 e 1972. Camargo também participou do EMA (Estudo de Mísseis e Aeromodelismo).

 

Última entrevista

A última entrevista do professor foi concedida à coluna “A Voz do Voss”, publicada pelo jornal O Progresso em 26 de junho do ano passado.

A Luiz Antônio Voss Campos, Camargo contou o início da carreira como educador, as alegrias e dificuldades da profissão, e realizações nos 83 anos de vida. Em uma das passagens, o sociólogo, professor e artista plástico resumiu em poucas palavras o sentido da vida e do futuro.

“Minha ideia sempre foi projetar o futuro. Esse negócio de ver só o hoje não adianta, você tem anos para viver. Então, você tem, sempre, que pensar no futuro. Passado ajuda, presente ajuda, mas o futuro é que é importante para cada um de nós”, concluiu o professor, em mais um ensinamento.