Mobilidade futura

Dificilmente alguém imaginaria que, em dado momento, Tatuí enfrentaria problemas comuns a grandes cidades. Contudo, o tempo passou e a realidade mudou, especialmente com relação à estrutura urbana.

Agora, entre as atuais dificuldades, a cidade sofre com as ruas centrais – estreitas e ainda concentrando a maior parte do comércio -, saturadas pelo alto volume de trânsito e baixo número de vagas para estacionamento.

Entretanto, também neste momento – ainda que por imposição legal -, há a oportunidade, justamente, de se discutir e, por conseguinte, “projetar o futuro” de maneira consciente.

Para cumprir prazo e evitar perder recursos federais para a área de mobilidade urbana, o DMMU (Departamento Municipal de Mobilidade Urbana) deve retomar os trabalhos para a confecção do plano municipal que rege o desenvolvimento do transito e do transporte.

De acordo com o diretor do órgão, Yustrich Azevedo Silva, nos próximos meses, serão realizadas reuniões envolvendo o DMMU, o setor de urbanização e a cúpula da prefeita Maria José Vieira de Camargo para discutir a forma como o PMMU (Plano Municipal de Mobilidade Urbana) será confeccionado.

O documento é exigido por lei federal, em vigor desde 2012, e orienta os municípios com população superior a 20 mil habitantes a terem um planejamento de mobilidade.

A regra prevê que, a partir de abril de 2018, os municípios ficarão impedidos de receberem recursos federais para a mobilidade urbana caso não possuam o PMMU.

A política de mobilidade urbana deve representar uma mudança de paradigma nas prioridades do trânsito e do transporte das cidades e ser feita em consonância com o Plano Diretor.

A lei federal estabelece que as novas diretrizes de trânsito sejam baseadas no transporte coletivo, público e não motorizado, em contraposição aos meios de locomoção individuais, particulares e motorizados.

Segundo o diretor do DMMU, deverão ser realizadas audiências públicas para discussão com diferentes setores da população, como moradores da região central e dos bairros, motociclistas, motoristas, ciclistas, lojistas e empresários.

Em janeiro, o ex-diretor do DMMU e atual secretário municipal da Segurança Pública e Mobilidade Urbana, José Roberto Xavier da Silva, listou o plano como uma das prioridades na gestão dele à frente do órgão.

Para ele, o maior impacto na região central será a construção de ciclovias, que devem ser conciliadas com a disponibilidade de áreas de estacionamento. As faixas devem incentivar parte da população a usar bicicletas para deslocamentos ao trabalho ou ao centro.

“A circulação deverá ter maior fluidez com o passar dos anos. Tudo isso depende de uma preparação para que a cidade acolha melhor as bicicletas e o transporte coletivo”, opinou.

Atualmente, a cidade conta com uma ciclovia, na rua Teófilo de Andrade Gama, na ligação entre os bairros Jardim Rosa Garcia e Jardim Santa Rita de Cássia. A ideia é expandir a solução de mobilidade para outros bairros e ao centro.

“Com a quantidade de veículos e o crescimento da frota e da população, em pouco tempo, a cidade vai parar, e não teremos mais o que fazer, sobrando somente soluções drásticas”, argumentou.

Com mais de 78 mil veículos emplacados e 117 mil habitantes, o trânsito local aponta a proporção de moradores por carro em 1,8, similar ao encontrado em Curitiba, a capital mais motorizada do país. São Paulo, com a maior frota, possui 2,2 habitantes por veículo.

Para diminuir o impacto do crescimento da frota local e preparar a população para novas soluções de mobilidade urbana, o DMMU implantou as vagas de curta duração.

A medida foi introduzida nas ruas Prudente de Moraes e Coronel Aureliano de Camargo, no centro, e deve ser expandida para outras vias centrais. “Por mais que seja somente meia hora a duração (do estacionamento), já ajuda e começa a mudar a mobilidade no centro”, ressaltou o diretor.

Concomitantemente aos problemas viários, o plano levará em consideração as necessidades das pessoas com mobilidade reduzida, como idosos e cadeirantes. Em algumas esquinas do centro, já foram instaladas rampas de acesso para facilitar a circulação.

“Temos uma carência, mas a intenção é conversar com a população e tirarmos as melhores soluções para a mobilidade na cidade, tanto para portadores de deficiência quanto para ciclistas”, afirmou.

A exemplo do que foi feito na capital paulista, Tatuí poderá ganhar “ações experimentais”, como a instalação de ciclovias e pistas de caminhada aos finais de semana. Caso a população aprove a ideia, as mudanças podem se tornar permanentes.

Segundo Silva, uma das mudanças que não foi “perceptível”, mas que gerou grande impacto na fluidez do trânsito, aconteceu na rua Teófilo de Andrade Gama.

Sem grande “alarde”, o órgão reprogramou o semáforo do cruzamento da via com as ruas José Ribeiro de Menezes e Cândido José de Oliveira, na região do Boqueirão.

O DMMU constatou que o tráfego nos sentidos centro e Santa Rita era grande e demandava maior tempo para travessia no cruzamento.

A programação do semáforo dava apenas 20 segundos para que os motoristas passassem pelo local, o que gerava grandes filas na Teófilo. Agora, com a nova programação de 45 segundos, as filas diminuíram.

“A programação não atendia à demanda de veículos. Foi apenas uma mudança no temporizador, e isso causou maior fluidez e reduziu o congestionamento no local”, resumiu.

No mesmo sentido, o diretor espera melhorar o acesso ao fórum pela rua Nilzo Vanni, na vila São Paulo. Os funcionários do DMMU calcularam que o fluxo de veículos é maior no sentido ao fórum que no sentido centro. Para melhorar o acesso, a via, cujo tráfego é sentido centro, terá mão dupla de direção a partir do dia 24.

O DMMU ainda projeta implantar mudanças na esquina das ruas São Bento com a 11 de Agosto, em frente à Etec (Escola Técnica Estadual) “Sales Gomes”. A ideia é garantir mais segurança na travessia de pedestres.

A sinalização de pedestres existente no cruzamento poderá ser substituída por uma “lombofaixa” (faixa elevada). A esquina também pode receber grades para evitar que transeuntes façam a travessia fora do local delimitado.

Segundo Silva, o local também poderá ganhar faixa adicional na rua 11 de Agosto, próxima ao ponto de ônibus. O planejamento está em fase inicial.

O órgão também estuda mudanças nas imediações das escolas “Chico Pereira” e “Professor Deócles Vieira de Camargo”, para aumentar a segurança dos alunos.

Para isso, a rua Santo Antônio poderá ter o tráfego interrompido nos horários de entrada e saída do alunado, ou até mesmo ganhar mão de direção invertida.

A justificativa do diretor é que os ônibus estacionam na margem direita para que os alunos desçam e atravessem a via para entrarem na escola. Como a rua Santo Antônio é movimentada, a travessia é perigosa.

“Queremos garantir a integridade física dos alunos. Antes de tudo, vamos conversar com os moradores e ouvir sugestões”, ressaltou.

As soluções, certamente, devem seguir por esse caminho: o da discussão democrática. Porém, cabe às autoridades capacitadas as decisões efetivas. Que elas sejam pragmáticas, antevendo o possível futuro da cidade, algo pouco visto no passado e que, no presente, cobra a conta.