‘Meninas que fazem’ completam 3 anos de voluntariado independente





Cristiano Mota

Integrantes do projeto reúnem-se toda segunda-feira para colocar papo em dia e produzir novos enxovais

 

Pouquíssimas iniciativas, quando realizadas de modo voluntário, costumam “vingar”. Este, felizmente, não é o caso das “Meninas que Fazem”, um grupo formado por 20 mulheres que caminha para três anos de trabalho voluntário e independente.

Com fila de espera para novas integrantes, o grupo auxilia bebês cedendo enxovais e leva a sério uma máxima propagada por Alexandre Milani Filho. Ele dirigiu o Centro Espírita Jesus Maria e José, onde o projeto de apoio foi iniciado.

“Ele costumava me chamar de dona Ortiz e me falou uma vez, quando comecei o trabalho, que a caridade não tem preço”, disse Maria Aparecida Ortiz de Camargo, a Cidinha. Filha de Vicente Ortiz de Camargo e neta do fundador do jornal O Progresso, a professora aposentada é uma das cofundadoras do grupo.

Atualmente, os trabalhos envolvem 20 mulheres – a maioria amigas de infância – que voltaram a se juntar por ter algo em comum: o desejo de ajudar. As “meninas arteiras”, como gostam de ser chamadas, começaram a se juntar a três anos, por vontade de Ruth Rodrigues da Mota, tia de Cidinha.

“Ela queria aprender tricô e a Bernadete Azzini era professora. Fomos procurá-la e ela nos ajudou. Ficamos nós três no começo. Depois, chegaram as outras”, recordou Cidinha.

Na época, ela queria aprender tapeçaria, vindo a dividir conhecimento com outro grupo que fazia o mesmo curso no Clube Renascer da Terceira Idade. “Daí uma contou para outra, e para outra e, hoje, somos 20 voluntárias”, relatou.

Antes do trabalho voluntário, Bernadete dava aulas num ateliê. Pelos ensinamentos, cobrava R$ 20 por semana. Passado um período, ela decidiu ministrar o curso gratuitamente. “Eu pensei: é um dom que Deus me deu. Achei que tinha que partilhar esse dom. Foi daí que eu fiquei sabendo do projeto da Cidinha, que já fazia caridade e resolvi colaborar”, comentou a professora.

Cidinha começou a preparar enxovais para bebês com o grupo do centro espírita. Após receber apoio de Bernadete, ela decidiu criar um trabalho paralelo.

“O grupo começou a vir para aprender, mas a proposta era ajudar desde o início. A ‘paga’ das aulas era fazer alguma coisa para os enxovais”, citou Bernadete.

Desde 2011, as voluntárias participam de encontros semanais. As reuniões são realizadas na casa da professora, que precisou adaptar a sala para receber as amigas. Outras 11 interessadas em colaborar estão em uma fila de espera.

As “meninas arteiras” se encontram toda segunda-feira. Elas aproveitam o momento para colocar o papo em dia e para terminar as produções que incluem peças utilizadas por bebês logo nos primeiros dias – e meses – de nascimento.

Na casa de Bernadete, as voluntárias fazem tricô, crochê e bordado. Grande parte da produção é feita na casa das próprias integrantes. Depois de prontas, as peças são recolhidas por Cidinha que monta enxovais entregues a gestantes carentes. “Existe uma responsabilidade nisso, porque outras pessoas dependem do trabalho realizado de modo voluntário”, afirmou a cofundadora.

Os enxovais são compostos por mantas (de flanela, lã, “soft”), casacos, calções, sapatos de lã e roupas de bebê. Os itens do “kit” entregue para as mães de recém-nascidos muda conforme a estação do ano (primavera, verão, outono e inverno).

“Agora, estamos trabalhando com lã mais grossa, com moleton e flanela. Quando chegar o verão, vamos fazer mantas bordadas com panos de fralda que são mais leves. Mas, no geral, é um trabalho muito gostoso”, declarou Cidinha.

Produzidos pelas “Meninas que Fazem”, os enxovais de bebês são encaminhados para amigas das integrantes. A distribuição para mães carentes fica a cargo de outras pessoas, ligadas à Pastoral da Criança e às igrejas evangélicas. “Daí, usarmos o lema: a caridade não tem credo”, argumentou Cidinha.

Ela explicou que as responsáveis pela distribuição é que fazem contato com as mães. Por meio de visitas, elas definem quem está necessitando de enxovais e fazem a entrega. “O contato é para saber, realmente, quem precisa, como precisa e do que precisa”, descreveu a cofundadora do grupo voluntário.

Em julho, as “meninas arteiras” entregaram 17 enxovais. O número de kits preparados e distribuídos, entretanto, varia. Cidinha explicou que existe uma oscilação por conta do número de partos. Em função disso, as voluntárias reservam peças para que enxovais possam ser feitos de modo emergencial.

“Temos que estar sempre com um pouco a mais, porque não sabemos o que vem. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, entregamos 64 enxovais”, disse Cidinha. No ano passado, foram 172 de janeiro a dezembro.

Além das pastorais e igrejas, o grupo já auxiliou a Santa Casa, doando enxovais para os bebês de mães carentes que não tinham peças para retirá-los da maternidade. Atualmente, o hospital conta com apoio do Fundo Social de Solidariedade, que entrega enxovais para gestantes em acompanhamento de pré-natal. O trabalho envolve a Secretaria Municipal da Saúde.

Já as voluntárias atuam de forma independente, contando com recursos próprios para compra de materiais. Até bem pouco tempo, cada integrante do grupo comprava seus próprios itens, ou tentava obter os materiais por meio de doações. Desde o início do ano, a dinâmica da rede voluntária mudou. O grupo passou a comprar material para todas as integrantes, de forma unificada.

A solução surgiu a partir dos encontros vespertinos das voluntárias e de confraternizações entre elas. Durante o lanche da tarde, por ocasião de aniversário, as mulheres se juntavam e compravam bolo para darem os parabéns.

Em 2014, o grupo decidiu, em comum acordo, mudar a proposta. “Invés de dar o presente, cada uma de nos dá uma quantia em dinheiro e a aniversariante doa para o que a gente chama de caixinha dos bebês”, disse Cidinha. Com o dinheiro arrecadado, as próprias voluntárias adquirem os materiais.

Alguns itens são adquiridos em São Paulo, a “preços módicos”. Outros são comprados em Tatuí, doados pelas próprias voluntárias ou por pessoas que conhecem a ação.

“Então, nós somos independentes, no sentido de grupo e de dinheiro”, disse Cidinha. A cofundadora frisou que as voluntárias não integram ONG (organização não governamental) e não estão vinculadas a nenhum tipo de religião.

“Temos pessoas de todas as denominações aqui. Nós nos entendemos bem e nos respeitamos porque temos um objetivo comum de fazer o bem”, disse.

Além dos encontros semanais para “produção”, as voluntárias realizam atividades entre família como lazer. São reuniões e almoços que acontecem em chácaras. “O mais gostoso é que a maioria é amiga de juventude e que, de repente, está junta. Está todo mundo aposentado e colaborando”, falou Cidinha.

Segundo ela, o objetivo do grupo é apenas manter o trabalho. Por conta disso, é que as voluntárias decidiram não aumentar o número de integrantes – ocasionando fila de espera. “Se fizermos de outra forma, acho que não temos como nos manter independentes. Por enquanto, está dando certo”, declarou.

A meta deste ano é produzir “peças mais simples” para serem agregadas aos enxovais. Bernadete afirmou que os itens constantes nos kits serão produzidos com “menos enfeites” para que possam ser concluídos mais rapidamente.

“Criança suja muito e tem que trocar bastante. Se começarmos a fazer peças muito caprichadas e cheias de detalhes vai demorar muito”, argumentou.

Bernadete afirmou que os enxovais produzidos pelo grupo estão “ficando mais gordinhos”. Cada voluntária apronta peças no estilo ao qual “mais se identifica”.

A ajuda pode vir por meio da produção própria, ou doação das voluntárias. “Por exemplo, uma das nossas meninas sentiu que tinha de comprar um macacãozinho e comprou. Ela achou que deveria doar para o kit e o fez”, disse a professora.

Também são agregados aos enxovais peças doadas pelos netos das voluntárias. As roupas em bom estado passam por uma triagem, são lavadas, consertadas e incluídas nos kits. “Então, o enxoval está maior. E eu acho que nós temos beneficiado bastante mães que não têm nada”, falou Cidinha.

A voluntária reforçou que o grupo não faz distribuição, somente produz os enxovais. Disse, também, que as voluntárias não “são o canal” para a entrega. “Nós somos somente arteiras, as ‘meninas que fazem’”, enfatizou a cofundadora.

Conforme ela, as peças produzidas pelas integrantes são doadas em Tatuí e fora do município. Isso porque as responsáveis pelas entregas atuam regionalmente. No caso de Tatuí, as peças são cedidas por meio das pastorais. Já as igrejas evangélicas doam enxovais para mães do município e outras regiões.

“Daí é diferente. Claro que em primeiro lugar estão as crianças tatuianas, mas nós visamos crianças carentes, bebês, não importa de onde”, declarou Cidinha.

Reservado, o grupo de voluntárias demorou a ceder entrevista. Só aceitou divulgar o trabalho por entender que ele pode servir de exemplo para outras pessoas.

“Aqui na cidade, o Fundo Social já faz isso, a Igreja Presbiteriana, também, e nós. A ideia é que isso se espalhe e que quem gosta de fazer que se reúna, faça, veja que é possível com organização e amor ao próximo ajudar”, disse Cidinha.

Interessados em contribuir com o trabalho voluntário devem entrar em contato com o grupo pelo e-mail do jornal O Progresso. Os contatos das integrantes serão repassados aos colaboradores, posteriormente. O endereço para envio das mensagens eletrônicas é o redacao@oprogressodetatui.com.br.