Médicos afirmam não impedir a entrada de convênios na S. Casa





Médicos que atuam na Santa Casa não se colocaram entre a provedoria e as operadoras de saúde na discussão para o credenciamento de novos planos. É o que afirmou, na manhã de quinta-feira, 16, em entrevista a O Progresso, o vice-diretor clínico da entidade filantrópica, o médico neurocirurgião Gianmarco Grandino.

De acordo com ele, os dados divulgados pela provedoria ao bissemanário não procedem. O médico afirmou que os profissionais não se recusaram a atender novos convênios. Entretanto, as negociações nesse sentido não avançaram por conta de o contrato sugerido não prever pagamentos pelos serviços.

A provedoria declarou que o hospital não conseguiu credenciamento porque os médicos alegavam impedimento legal para atender outros convênios. Porém, o impasse entre a diretoria da SC e os médicos está com os dias contados.

“Já foi resolvido. Nós sentamos, conversamos e resolvemos todos os problemas que existiam”, afirmou Grandino.

Em coletiva de imprensa convocada pela diretoria clinica do hospital, no dia em que a Santa Casa, a Prefeitura e a São Bento Saúde entraram em entendimentos (reportagem nesta edição), o médico divulgou que a solução está em um novo contrato.

Os profissionais reuniram-se e pagaram um escritório de advocacia para preparar o documento no qual está previsto atendimento a convênios. Até a sexta-feira, 17, o novo contrato não havia sido assinado.

“Tudo isso passa em torno, lógico, da parte financeira. Nós queremos continuar atendendo. O problema é que não podemos atender planos de saúde através do convênio SUS (Sistema Único de Saúde)”, argumentou o neurologista.

Grandino explicou que o dinheiro destinado ao pagamento dos pacientes SUS não pode ser empregado para pagar os médicos para promover atendimento a conveniados particulares.

Essa situação funcionaria como uma cláusula impeditiva aos médicos, uma vez que poderia resultar em complicações por ações movidas contra a categoria junto aos órgãos representativos.

A decisão dos médicos em não aceitar os termos propostos no contrato anterior deve-se, justamente, a essa situação. Grandino explicou que a proposta anterior, apresentada para os profissionais, trazia descritivo de valores “desordenados”. “Estava muito misturado, SUS e convênio”, relatou.

O neurocirurgião defendeu a assinatura de dois contratos, um prevendo obrigações e valores de atendimento a pacientes SUS e outro a convênios particulares.

“Nós estamos dispostos a atender, desde que a maneira correta para isso não gere problema para os médicos. Não queremos deixar de atender os planos de saúde. Continuaremos atendendo todos, da forma correta”, justificou.

O vice-diretor clínico também negou que a relação de trabalho com a Santa Casa seja complicada. Na semana passada, o diretor financeiro do hospital, João Prior, mencionou que a contratação dos profissionais e a definição dos valores de atuação ficam a cargo da Prefeitura. Em função disso, a Santa Casa não teria autonomia para impor aos médicos que atendessem por convênios.

“Isso não ocorre. É uma inverdade. Estamos aqui, sempre, participando de reunião todas as vezes que eles (a diretoria do hospital) necessitam. Às vezes, nós é que marcamos e passamos a eles todas as nossas necessidades, os problemas que nós temos e que não são supridos, tecnicamente falando”, afirmou.

Grandino ressaltou que os médicos atenderão todo convênio credenciado pelo hospital. Contudo, frisou que o problema para os profissionais, com relação ao atendimento, “é a porta de entrada”.

As propostas apresentadas pelas empresas, até então, previam que os pacientes entrassem pelo Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, considerada uma “entrada universal”.

Essa situação poderia gerar problemas aos médicos, uma vez que os usuários poderiam reclamar. “Seu eu for lá (no PS) e dar atenção para o convênio e outra pessoa vier pelo SUS, alguém vai reclamar de que eu estou atendendo melhor um e deixando o outro esperando”, argumentou o médico.

Grandino também falou sobre a situação financeira da Santa Casa e a projeção do corpo clínico de continuidade do atendimento nos próximos dias. “Não posso falar como isso vai ser resolvido, mas, do jeito que está hoje, não dá para trabalhar. Nós estamos diminuindo internações”, declarou.

A expectativa do médico é de que a população também contribua com o hospital. O neurocirurgião disse que os cidadãos podem colaborar organizando eventos, enviando tecidos, alimentos e itens usados no funcionamento do hospital.

“A Santa Casa é de misericórdia. Na realidade, ela sempre viveu de doações. Atualmente é que há repasse SUS. Mas, o hospital ainda precisa de doações. Nisso, a população pode ajudar se começar a aumentar a colaboração. Acho que temos saída, porque, esperar do governo, não dá”, concluiu.