MARIA RUTH LUZ – Mestra, dez anos de saudades …

Antonio Sérgio de Cerqueira Luz Filho *

O tempo é implacável e quando nos damos conta perdemos pessoas que amamos. Que faziam parte do nosso dia a dia e que não estão mais entre nós. É o caso de minha mãe, professora Maria Ruth Luz, a qual faria 91 anos em dezembro de 2019 e nos deixou em 31 de outubro de 2010 aos 82 anos.

Quando pensamos em Maria Ruth Luz nos vem à memória seus ensinamentos e conhecimentos sobre música, partitura, compasso, diapasão, clave de sol, de fá, solfejo, harmonia, composição. Sua vida foi sempre voltada e focada para a música clássica, erudita, hinos, músicas para escolas e instituições com muito afinco e dedicação.

Mineira, natural de Monte Santo de Minas, nasceu na fazenda Cristalina, de propriedade de seu pai Francisco Antônio da Luz. Foi ainda criança para Taquaritinga, onde teve seu primeiro contato com a música por volta dos seus seis anos. Formou-se professora e iniciou seus estudos de piano.

Recém-formada, veio para a cidade de Tatuí em 1954, quando se casou com Paulo de Cerqueira Luz e tiveram quatro filhos. Foi nomeada professora de canto coral e solfejo para o Conservatório Dramático e Musical “Doutor Carlos de Campos” de Tatuí. Formou o primeiro coral do Conservatório de adultos, regendo o mesmo por 11 anos.

Em 1965 se efetivou por concurso como professora de música e canto orfeônico, sendo nomeada para o Colégio Estadual de Caconde. Passou por outras cidades, como Novo Horizonte, Matão, retornando em 1969 para Tatuí, para lecionar na Escola Estadual de 1º grau “Prof. José Tomaz Borges”.

Recebeu o título de cidadã tatuiana em 1984 e de cidadã cacondense em 1989 e vários diplomas de honra ao mérito, troféus e medalhas de clubes e entidades, dentre ouros: Rotary Clube, Lions Clube colaboradora do Tiro de Guerra etc.

Dentre suas obras, temos o Hino a Tatuí “Cidade Ternura” e o Hino a Caconde, ambos com parceria de seu esposo Paulo de Cerqueira Luz, os quais são oficializados nas referidas cidades.

Para a minha mãe, a música podia ser definida como: Música é Divina, tem poderes mágicos. Vem do alto, vem do céu! É gota de orvalho, é puro cristal! Entra devagar em nossa alma. É delicada, mansa, vem correndo, estrondosa, forte, arrebatadora! É impetuosa. É azul, doce, suave. É flor, verde, agreste. É sol, luz, calor. É sensação. É mar bravo, tempestade. É intrépida, audaz. É alegria, é lágrima, é dor, é civismo. É sentimento maior – O Amor!

É o canto dos pássaros, é o canto das águas, é o canto da mãe embalando o filho. É o sorriso ingênuo da criança. É o canto de amor a Deus, à Pátria, à pessoa amada. É o amor arrebatador dos jovens. É a serenata na calada da noite, romantismo puro, um beijo delicado jogado no ar. Saudade.

Mas o homem com sua criatividade, inteligência e inspiração, transforma esse fenômeno em realidade, criando obras-primas, maravilhosas, com a força da inspiração. É o momento da união do homem com as emanações que vêm do céu. É o milagre da música.

Minha mãe para mim era uma referência de amor, bondade, educação, simplicidade. Suas ações e sua personalidade me inspiraram e inspiram até hoje para eu ser uma pessoa melhor no convívio familiar, no trabalho e na sociedade, ensinando-me o valor do esforço e da dedicação para realização de meus sonhos e objetivos.

Gostaria de complementar a história de minha mãe com três pequenos depoimentos:

“… Lamento imensamente a notícia que somente hoje tive o conhecimento. Para minha honra e felicidade tive a ventura de conhecer a professora Maria Ruth Luz de que fui aluno e com quem tanto aprendi no Conservatório Dramático e Musical ‘Dr. Carlos de Campos’, aprendi admirá-la como Mestre (que foi) de tantas gerações de tatuianos e a respeitá-la como uma admirável figura humana. Sei que o município saberá honrar e perpetuar a memória de tão eminente pessoa, tão afável, sorridente, atenciosa e gentil. Que iluminou a mais carinhosa lembrança de minha juventude…” – ministro Celso de Melo.

“… Tive a felicidade de conhecê-la, uma mulher de fibra, forte, soube viver seus dias como mera mortal mulher. Hoje está no grande coral no céu com Deus. Como o apóstolo Paulo diz: Combati o bom combate. Acabei a carreira. Guardei a fé. Pois isso foi a vida dessa mulher…” – Fernando Gomes Filho.

E por último deixar um pequeno texto desta pessoa que tinha uma admiração especial por ela, Ary Roberto S. Pinto:

“A pianista”

“Perto da minha casa morava uma pianista. E toda vez que eu passava por aquela travessa, isso desde a minha infância, me deliciava com a sua música. Ela tocava, tocava, tocava, e o som dos seus acordes ao coração de todos tocava. Hoje, após tantos anos, passei pela mesma travessa. A casa fechada. Sem som e sem luz. Um silêncio sepulcral. A pianista não estava mais no meio de nós. Eu senti uma profunda tristeza. Mas, ela não. Havia se transformado numa infinita clave de sol.”

Além do legado deixado por minha mãe, Maria Ruth Luz, a creche do Jardim São Conrado leva o seu nome em homenagem aos serviços prestados brilhantemente ao município de Tatuí. O seu Hino a Tatuí está presente no quadro afixado no Museu de Cultura de Tatuí.

Deixo aqui a minha saudade e que ela esteja num lugar repleto de paz e amor junto aos anjos e os arcanjos.

“Tatuí cidade ternura  
Terra querida onde vivemos…”          

* Dentista, é filho da professora Maria Ruth Luz

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