Manifestação em Tatuí­ contou com cartazes, caras pintadas e passeata





Cristiano Mota

População ‘tomou’ Praça da Matriz para protestar no domingo, usando roupas nas cores verde e amarela

 

Cartazes, caras pintadas e passeata marcaram protesto em Tatuí contra a presidente da República Dilma Rousseff e a corrupção. O ato local teve início às 16h de domingo, 15, contando com apoio da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar. Incluiu, também, protesto contra o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu.

Os manifestantes pediam desde a saída da presidente até a volta da monarquia. Jovens e adultos compareceram ao evento, agendado pela internet.

Os protestos também aconteceram na região (Itapetininga, Boituva e Sorocaba), com número de participantes variados e em horários diversificados.

Em Tatuí, a Polícia Militar estimou em cem a quantidade de manifestantes – a maioria deles com roupas nas cores verde e amarela (em alusão à Bandeira Nacional e ao nome do movimento “Tatuí de Verde e Amarelo”). No entanto, os organizadores divulgaram que o ato reuniu perto de mil pessoas.

A professora de inglês Cláudia Barros Sgorlon Magaldi não estava “a caráter”, mas externou a insatisfação com o governo federal, por meio de cartazes.

Ela e o marido exibiam os dizeres: “Fora PT” e “Chega de Governo Corrupto”. O casal juntou-se aos participantes na concentração na Praça da Matriz.

“Trabalho de manhã, de tarde e de noite. Pago altos impostos e não vejo nenhum retorno. Muito pelo contrário. Só ficamos sabendo de tudo que foi desviado, roubado. Então, isso faz com que eu me sinta traída pelo governo”, disse.

No manifesto, a professora gritou palavras de ordem e cantou trechos do Hino Nacional e a Tatuí. Também participou da passeata pacífica iniciada por volta das 17h e que percorreu as principais ruas do centro.

“Sou cidadã brasileira, amo meu país, trabalho e dou minha contribuição, mas os governos não trabalham por mim, nem pelo povo brasileiro”, declarou.

Para a professora, o maior problema do país é a corrupção. “Nós vemos milhões sendo roubados, quando existem pessoas morrendo em portas de hospitais, crianças sem escolas e universitários sem aulas porque os professores estão em greve”, afirmou, referindo-se ao escândalo da Petrobras.

A Polícia Federal investiga esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a empresa, grandes empreiteiras do país e políticos. Os indícios são de que diretores da Petrobras desviavam parte dos contratos de prestação de serviços para pagar propina a parlamentares, partidos e operadores políticos.

O esquema, descoberto pela “Operação Laja Jato”, está sendo investigado desde março do ano passado e envolveria 50 pessoas. Entre elas, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB de Alagoas), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB do Rio de Janeiro). As investigações ainda prosseguem.

A professora credita a esse novo escândalo (além do “mensalão”, que consistiu na compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional entre 2005 e 2006) à falta de paciência do povo. “Tudo isso faz com que, realmente, nós queiramos sair pelas ruas para reivindicar um governo melhor”.

Cláudia afirmou que a população quer um governo que “trabalhe em prol da sociedade e não para si próprio”. De acordo com a professora, o protesto representou sinal de que o nível de indignação do povo chegou ao extremo.

“Ninguém está deixando passar mais nada, porque vemos tantas notícias ruins e estamos tão insatisfeitos que não temos outra atitude a tomar”, argumentou.

Na visão da professora, as atitudes adotadas pelos políticos dão a entender que a classe “não se importa com a população, ou a reação dela”.

“Eles estão fazendo tudo, achando que podem e que nada vai tirá-los do poder. Só que quem tem, realmente, o poder nas mãos é o povo, e não eles”, afirmou.

Descontente com o atual governo, Cláudia afirmou que a manifestação contra a presidente é extensiva ao PT. Também alegou que um possível impeachment de Dilma Rousseff seria “somente a ponta do iceberg”.

Mais sectário, o aposentado Reinaldo Pedroso defendeu a “restauração da monarquia” (forma de governo na qual o chefe de Estado se mantém no cargo até a morte ou abdicação). Também afirmou ser “a favor da demolição de Brasília”.

“Atualmente, a única coisa que resolve é um ataque aéreo a Brasília. Sou a favor da monarquia porque o último governo sério nesse país foi de dom Pedro 2”, declarou.

O aposentado é tão contrário ao PT que treinou a cachorra Tuca, de oito anos, a reagir quando alguém pronuncia o nome do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. “Falou o nome e ela sai correndo”, explicou.

A cadela da raça pinscher tornou-se atração do manifesto e acompanha o proprietário em todo o lugar que ele vai. Também virou alvo de fotografias e “selfies”.

Quem também chamou a atenção no evento do fim de semana foi a aposentada Maria Aparecida Falconi, de 86 anos. Sentada em uma cadeira de rodas, ela compareceu ao protesto acompanhada por familiares e com um cartaz.

“Fiz questão de participar porque sou cidadã brasileira, estou insatisfeita e vendo que a renda está caindo e a inflação, subindo. Estou apavoradíssima”.

No cartaz, Maria Aparecida pedia a “expulsão de corruptos” e escreveu que queria “um Brasil melhor antes de morrer”. Com objetivo em comum, Arcanjo Emanuel de Souza Fernandes afirmou que saiu às ruas por estar cansado de “roubalheira”.

Ele chegou a conduzir o protesto, alegando que a intenção dos participantes era de fortalecer a democracia. “Não sou o organizador, mas assumi o comando porque não tinha ninguém para ‘tomar as rédeas’ e para evitar baderna”, disse.

Cansado dos escândalos, Fernandes afirmou que o governo da presidente “vinha bem”. Contudo, passou a “soltar dinheiro para poder governar e errou a mão ao querer descontar o rombo nos brasileiros”. “Querem cobrar do povo. Está errado. Eu não vou pagar essa conta, de forma nenhuma”, argumentou.

Para ele, a maior lição que os manifestantes querem deixar para os políticos é de que o povo “está de olho neles”. “O Brasil é grande. Nós somos mais fortes. Ninguém quer baderna, ou coisa forçada como o militarismo”, enfatizou.

Com a cara pintada, uma jovem de 14 anos participou pela primeira vez de um protesto. A estudante afirmou que foi às ruas para que o Brasil “possa ficar melhor”.

“A Dilma não está resolvendo, eu não sei no que isso vai dar, mas estou aqui para ajudar e para tentar alguma coisa”, disse a adolescente.

Victor Villar, 23, também esteve entre os que pintaram o rosto. O jovem adicionou um nariz de palhaço, em alusão ao que considerou ser a imagem que a atual classe política tem da população brasileira.

“No nosso cotidiano, temos novas notícias de roubalheira e corrupção, e o povo está cansado disso. Independente do que vai rolar, o que vai acontecer nos próximos meses, o povo está cansado e não aguenta mais apanhar”, declarou.

Saindo da Matriz, os manifestantes passaram pelas ruas 11 de Agosto, 7 de Abril e 15 de Novembro, encerrando o ato em frente ao paço municipal.