M. Celia de Abreu lança obra e faz bate-papo sobre o envelhecimento

“Velhice – Uma Nova Paisagem” tem prefácio de Mario Sérgio Cortella

Psicóloga, professora e escritora conversou com convidados a respeito do tema que gerou obra peculiar

Uma paisagem que muda conforme o passar dos anos, com novos desafios e alegrias. É dessa forma que a psicóloga Maria Celia Azevedo de Abreu classificou as etapas de crescimento e, principalmente, a velhice em livro lançado na noite de quinta-feira, 11, no CEU (Centro de Artes e Esportes Unificado) “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires”. A noite de autógrafos teve um bate-papo da autora com os convidados.

“Velhice – Uma Nova Paisagem” foi fruto de uma carreira de percepções na área da psicologia, conversas com idosos, levantamento de temas considerados pertinentes para quem ultrapassa a barreira dos 60 anos.

O livro, lançado pela Editora Ágora, demorou cerca de dois anos para ser escrito e trata temas como a conceituação da velhice, ressignificação do envelhecimento, aspectos psicológicos, o enfrentamento do luto e perdas, depressão, memória e sexualidade na terceira idade.

“Não foi um livro pré-planejado, ele surgiu espontaneamente do trabalho que realizo, a partir de alguns grupos de reflexão que mantenho sobre a velhice. Nessas conversas surgiram assuntos que achei interessante colocá-los em uma obra”, explicou.

A obra de Maria Celia conta com breves depoimentos de personalidades das artes e de diversas áreas do conhecimento humano, dentre eles, o psiquiatra Flávio Gikovate, a antropóloga Mirian Goldenberg, as atrizes Eva Wilma e Aracy Balabanian, a bailarina Marika Gidali, o cartunista Paulo Caruso e o autor de novelas Sílvio de Abreu, marido da escritora.

A psicóloga contou que, inicialmente, o livro não teria os depoimentos dos amigos. A princípio, as cartas incluídas na obra foram postadas em blogue e na página no Facebook do Ideac (Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico), empresa fundada e coordenada por Maria Celia.

“Uma vez eu pedi ao meu amigo Gikovate, já falecido, para ele fazer um texto para o blogue. Quando eu vi o texto eu pensei em pedir para outros amigos meus e os da Ivani Cardoso (jornalista). O livro estava praticamente pronto quando incluímos os depoimentos”, relatou.

Depois de concluída a redação do livro, a autora pediu ao filósofo Mario Sérgio Cortella, com quem trabalhou como professora na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) para escrever o prefácio da obra.

“Eu sempre dizia que queria ter uma apresentação do Mario Sérgio e outra do Gikovate, mas infelizmente o Flávio morreu no final do ano passado. Foi uma grande alegria o Cortella aceitar fazer o prefácio, pois trabalhamos juntos na PUC-SP nos anos 1970”, lembrou.

A foto da capa do livro de Maria Celia foi tirada por Maurício Moraes e mostra paisagem bucólica da região serrana de Visconde de Mauá, distrito do município de Rezende, no Rio de Janeiro. A imagem mostra uma ponte e uma via ladeada por árvores com um horizonte verde.

“Digo sempre que a vida é uma estrada em que nós vamos percorrendo e que passa por paisagens diferentes. Eu queria uma capa que desse essa ideia”, declarou.

Sobre a paisagem da velhice, Maria Celia afirmou que para cada velho a visão do envelhecimento é diferente. Para uns, a vivência desta fase da vida sentida de forma única: boa ou ruim conforme as experiências e situações de cada indivíduo.

“A paisagem da velhice é de um jeito para cada velho. O que não admito é que digam que a paisagem é pobre, sofrida, horrorosa. Para alguns idosos, é o melhor período da vida, assim como a infância, alguns tem sentimentos bons e outros, ruins”, opinou.

O principal desafio para quem vivencia o envelhecer é conseguir superar os preconceitos que existem contra quem é idoso. “Informações erradas” a respeito do processo de envelhecimento colaboram com as visões equivocadas em relação ao período.

“Isso vem da sociedade e também do próprio velho, que tem preconceito contra si próprio. Essas visões estreitam a possibilidade de experiência da pessoa, eu considero um grande desafio (a superação do preconceito)”, ressaltou.

Algo que ajuda na superação das dificuldades da senescência é a flexibilidade em entender que cada fase da vida tem paisagens diferentes e ter maturidade para não se apegar às “paisagens anteriores”.

“A vida mudou e continua mudando. Quem chega aos 60 anos hoje tem a perspectiva de viver com qualidade de vida por mais 30 anos. Os casamentos precisam ser revistos, a sexualidade também. Por que não aproveitar todo o prazer que o corpo pode oferecer?”, indagou.

Apesar da temática sobre a velhice, a autora mandou um recado aos jovens: “Eles vão ficar velhos, vão viver muito. Então, é preciso que se preparem financeiramente e cuidem bem do corpo, pois o que fazemos hoje vai ter implicações na velhice”, aconselhou.