Jovens respondem pela maioria de atendimentos registrados no Creas





Jovens com idade entre 12 e 18 anos têm ocupado mais atenção de profissionais do Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social). Levantamento apresentado pela coordenadora do órgão, Nativa Quedevez de Souza, a pedido de O Progresso, mostra que esse público responde pela maioria dos atendimentos da equipe multidisciplinar.

Com 15 anos de experiência na assistência social e há cinco no comando do Creas, Nativa informou que os jovens sempre figuraram entre os mais vulneráveis. Entretanto, há uns cinco anos, eles têm aumentado em número. “Não existe muita mudança com relação à violação dos direitos, mas eles têm crescido”.

Em Tatuí, o centro não tabula em números absolutos os atendimentos. Mesmo assim, os profissionais que atuam nele calculam, com base no dia a dia, que os jovens são os mais vulneráveis. Em segundo lugar, aparecem os idosos, vítimas, em geral, de negligência e abuso financeiro. Em alguns casos, precisam ser institucionalizados.

Quanto aos jovens, a principal razão para que sejam atendidos pelo órgão é o tráfico de drogas. Em Tatuí, 90% dos menores encaminhados ao órgão têm envolvimento com o comércio ilegal de entorpecentes.

No Creas, os adolescentes realizam atividades orientadas a partir de medida socioeducativa determinada pela Justiça. Uma vez flagrados com drogas ou vendendo entorpecentes – seja por guardas civis municipais ou por policiais militares -, os menores são encaminhados à Vara da Infância e da Juventude.

Dependendo da gravidade da situação, alguns são encaminhados para a Fundação Casa; outros, cumprem pena alternativa (as medidas socioeducativas). “Os jovens que vêm para cá são os que cometeram alguma infração. Temos um número significativo deles em liberdade assistida”, contou Nativa.

Conforme a assistente social, assim como os jovens que sofrem violência, os adolescentes infratores também se tornam vítimas de vulnerabilidade. Na primeira situação, o atendimento é realizado pelo Conselho Tutelar e, na segunda, pelo Creas. Em ambas, a negligência pode ser um fator causador.

Uma evidência disso é que 90% dos jovens que passam pelo órgão têm envolvimento com o tráfico. Em geral, são adolescentes que não recebem a devida atenção. Metade deles é reincidente. “Não temos números, mas posso ousar dizer que 50% voltam a se envolver com drogas”, disse a coordenadora.

No Creas, os jovens precisam cumprir o programa denominado “Vida Ativa”, no qual participam de atividades e têm como obrigação a comprovação de frequência. Também são submetidos a avaliações e têm relatórios enviados à Justiça.

O tempo de atendimento varia conforme determinação judicial. Menores encaminhados ao Creas pelo Judiciário são inseridos na rede de serviços do município. Têm acesso a programas de saúde, educação, esporte, cultura e outras.

Frequentam cursos ministrados na sede do Creas e fora dele. Também participam de oficinas de música e oferecidas pelo Fundo Social de Solidariedade.

Os atendimentos são preconizados pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), bem como o modelo de estrutura do órgão. Em Tatuí, o Creas funcionou, inicialmente, na vila Dr. Laurindo. De lá, passou para o então Polo de Assistência Social, implantado no Vale da Lua.

Nos dois endereços iniciais, por conta da distância com relação ao centro, o volume de pessoas atendidas era menor. Desde que passou a funcionar na rua 13 de Fevereiro, 396, o público cresceu. “Também houve um aumento proporcional à expansão da população”, avaliou Nativa.

Por seguir modelo determinado pelo MDS, o Creas abrange todo tipo de serviço relacionado à violação dos direitos. Entre eles, casos que envolvem as mulheres. “Nós sabemos que essa demanda existe, mas ela não chega para nós. Atualmente, a maior procura é por jovens”, comentou Clarice Ribeiro.

A assistente social também destacou atendimento a idosos que, no município, correspondem ao segundo maior volume de procura. Esse segundo público é considerado “mais difícil de atender”, em função da complexidade.

De modo geral, Clarice explicou que as ações desenvolvidas com os jovens são determinadas pelo Judiciário. Com os idosos, as soluções dependem de cada caso e da complexidade, e precisam ser adotadas pelos profissionais do centro em conjunto com familiares. “Cada situação se torna uma surpresa”, argumentou.

Outro aspecto que torna o idoso mais delicado do ponto de vista do atendimento é a institucionalização. Trata-se de um processo que consiste na internação da pessoa acima de 60 anos que não tenha condições de viver sozinha.

Na cidade, a institucionalização só ocorre quando os idosos não têm parentes próximos. Como não há uma pessoa que possa cuidar dele, não existe a negligência. A solução é a internação, que, em Tatuí, é viabilizada por meio de duas entidades: a Casa do Bom Velhinho e o Lar São Vicente de Paulo.

“Muitas vezes, todos os membros da família morreram e o idoso vive sozinho. Nós atendemos, recentemente, um idoso que era filho único. Os pais morreram e ele acabou envelhecendo sozinho, pois não teve filhos”, contou Nativa.

Para a coordenadora do Creas, há outro complicador com relação aos idosos. Boa parte deles e dos familiares não se entendem com relação aos deveres. De um lado, os idosos não querem obedecer a regras impostas pelos filhos; do outro, os parentes não têm paciência para lidar com o comportamento arredio.

“As pessoas precisam entender que, quando os pais delas envelhecem, elas devem cuidar deles como se cuidassem de uma criança. E isso é muito complicado, tanto para os pais como para os filhos”, avaliou a assistente social.

No Creas, os familiares são atendidos pela equipe multidisciplinar, incluindo advogados. Os defensores fazem as orientações para eventuais medidas legais. Posteriormente, o órgão encaminha para atendimento específico.

Em Tatuí, os casos de violência aos idosos ficam restritos à negligência (do idoso para com ele próprio). “Violência física, de fato, nós nunca atendemos”, disse Nativa. “Entretanto, a maior violência é o abandono”, acrescentou.

A vulnerabilidade entre os “mais velhos” também tem outras nuances. Clarice informou que, na cidade, estão se tornando comuns os casos de abuso financeiro. São situações nas quais os parentes mais próximos pedem – ou obrigam – os idosos a contraírem empréstimos consignados (com desconto na folha).

“Quando isso acontece, o idoso acaba ficando sem renda nenhuma. Nessa situação, como em todas as outras, nós chamamos a família para conversar”, disse Clarice.

A equipe do Creas tenta, em princípio, sensibilizar os parentes. O objetivo é permitir que os familiares se reorganizem e repensem situações. Também para que possam, na medida do possível, não deixar somente o ônus da dívida para os idosos.

Na falta de solução, o Creas encaminha os casos ao Ministério Público. A representação é feita contra os filhos ou os parentes mais próximos. Os passos seguintes são definidos pela promotoria, que pode decidir pela via judicial ou devolver o caso para o centro dar novo acompanhamento.

Como é definido como “porta de entrada” para atendimentos de casos de violação dos direitos, o Creas tem como missão oferecer soluções. “Os casos, quando chegam a nós, nunca envolvem um serviço, mas vários”, disse Nativa.

Para tanto, ele é interligado à rede de serviços municipal e funciona num espaço maior. Mesmo recebendo mais pessoas que nos prédios em que operou anteriormente, o imóvel atual ainda não é considerado ideal pelas duas profissionais.

A coordenadora explicou que o número de pessoas que passam pelo espaço aumentou desde que o órgão começou a atender no centro da cidade, há 18 meses. Conforme ela, a alteração permitiu à população como um todo – até as pessoas que residem em bairros mais distantes do centro – frequentar o Creas.

“Para se ter ideia, quem vinha do Jardim Gonzaga tinha que pegar um ônibus para ir até o Mercado Municipal e, de lá, outro para o Vale da Lua. Agora, não. Todas as linhas de ônibus da cidade passam pelo Mercadão”, argumentou.

Apesar de mais amplo, arejado e centralizado, o prédio que abriga o centro não é o espaço “dos sonhos” da equipe. Também por isso, os profissionais devem pleitear, em breve, a construção de um imóvel próprio, com salas “bem definidas”.

“O espaço ideal tem que ter salas para os técnicos atenderem, para oficinas, uma brinquedoteca para crianças e salas para os profissionais, como psicólogos. Aqui, o local é bom, melhorou muito, mas poderia ser melhor”, concluiu Clarice.