í‰ ‘positivo’ resultado de fórum para inclusão





David Bonis

Abertura do evento pelo secretário Ronaldo da Mota, um dos responsáveis pela vinda do fórum a Tatuí

 

“A avaliação geral que faço é superpositiva, porque é a sociedade se movimentando com órgãos municipais, com gestores municipais, empresas e instituições como a nossa, para solucionar um problema”, concluiu a presidente da Apodet (Associação dos Portadores de Deficiência de Tatuí), Solange Sales Abude, ao final do “Fórum Sou Capaz”.

Realizado na quinta-feira, 9, o evento buscou discutir a inclusão de PCDs (pessoas com deficiência) no mercado de trabalho. O projeto é idealizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

Em Tatuí, a realização teve participação também da Prefeitura, representada no fórum pelo secretário municipal da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Ronaldo José da Mota. Por iniciativa do secretário, o evento foi trazido a Tatuí.

Ele e assessores compareceram ao mesmo fórum em Sorocaba, no mês de abril, e atuaram, junto à organização, para realizá-lo no município.

Mota abriu o evento na quinta-feira. Em fala de menos de dois minutos, ele agradeceu a participação dos envolvidos e passou a palavra.

Em seguida, a gerente do Depar (Departamento Regional) da Fiesp, Eva Corrêa Marius, adiantou a realização de um processo de capacitação voltado à inclusão de pessoas com deficiência em Tatuí. Nos dias 12 e 13 de novembro, o Depar fará curso de 16 horas para profissionais de recursos humanos de empresas locais.

O objetivo é ensiná-los a como selecionar deficientes para o mercado de trabalho e discutir as adaptações que cada empresa deve fazer para receber essas pessoas. São 40 vagas disponíveis ao curso. As inscrições devem ser feitas pelo site: www.ciesp.com.br/cursos.

Inclusive, um dos entraves apontados durante o fórum que dificultam a inclusão de deficientes no mercado é justamente a falta de preparo de profissionais de recursos humanos na seleção de PCDs.

Além desse, há outros, como lembrou a gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego de Sorocaba, Valquíria Camargo Cordeiro. Ela citou o medo da própria família do deficiente em expor as limitações dele.

Outros aspectos foram lembrados durante o ciclo de palestras, como o receio por parte dos empresários em investir na adaptação dos locais de trabalho a fim de receber os deficientes; o medo das pessoas com deficiência de perderem a Loas (benefício financeiro); e a falta de capacitação dos deficientes.

No que tange à Loas (Lei Orgânica de Assistência Social), por exemplo, o diretor do Senai de Itu, Helvécio Siqueira, ponderou que o benefício deveria ser pago mesmo enquanto o deficiente estiver trabalhando.

“O custo de vida dessas pessoas, para comprar medicamentos, por exemplo, é alto. Então, entendo que deveria continuar mesmo enquanto ele estiver colocado no mercado”, disse ele.

Esses foram alguns pontos lembrados para justificar as dificuldades de encaixe de PcDs no mercado de trabalho. No país, apenas cerca de 50% dos 45 milhões de deficientes estão empregados formalmente.

Em Tatuí, a realidade não é diferente. O município tem cerca de 20% da população com alguma deficiência, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas, de acordo com o diretor municipal de Bem Estar Social, Márcio Fernandes Oliveira, “pouquíssimos deficientes de Tatuí estão incluídos no mercado de trabalho”. A Prefeitura prepara levantamento para detalhar essa realidade.

Durante o evento, apenas um representante do empresariado local falou sobre suas iniciativas para inserir PcDs. Foi o coordenador de recurso humanos da Rede Silva e Barbosa Comércio de Alimentos, Sérgio Rocha.

A pouca participação do empresariado local explica-se pelo “receio” deles em falar e, assim, expor que não cumprem a Lei de Cotas (8.213/1991), segundo informou a organização do fórum a O Progresso.

As empresas que têm entre cem e 200 funcionários devem ter 2% do plantel formado por pessoas com deficiência. De 201 a 500 funcionários, a porcentagem sobe para 3%. E assim por diante.

O mínimo que a legislação estabelece é de 5% de funcionários com deficiência para empresas que tenham a partir de 1.001 trabalhadores.

A fiscalização dessa legislação é feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego. No entanto, esse processo deve passar por dificuldades na região, devido à redução de fiscais vinculados à pasta.

“Temos um número reduzido de fiscais. Então, vai ser feito tudo on-line. Pelo que estou sabendo- e as pessoas já estão em treinamento -, parece que será feito pelo Caged. Quando o Caged entra no sistema, é feito levantamento. Quem não tem (não atende à Lei de Cotas) já recebe a multa. Parece que vai ser assim, mais automatizado”, explicou a gerente regional do Ministério do Trabalho.

Questionada pela reportagem do bissemanário se o processo eletrônico poderia facilitar o descumprimento da legislação, Valquíria concordou.

“Facilita porque o computador é frio. Frio e burro. Então, tudo o que uma empresa tiver que falar, não vai falar pelo computador. Ela vai somente receber a multa”.

“Aí, é a dificuldade de fazer a mudança de comportamento das pessoas, porque tem que haver a mudança de comportamento, tanto dos empresários, quanto das famílias, como das pessoas. E isso a gente só consegue conversando. Não vai ser o computador que vai resolver”, concluiu.

Além da explanação da gerente do Ministério do Trabalho, o fórum contou com a apresentação do programa “Meu Novo Mundo”, idealizado pela Fiesp, pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) e pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

A ideia é contratar deficientes na condição de aprendizes. Essas pessoas seriam contratadas com vínculo de três anos, sendo que, nesse período, passariam por um processo de capacitação – que pode ser no Senai de Tatuí -, recebendo salário.

“Elas terão um período de três anos para se qualificar, já com um contrato assinado, frequentando a empresa de forma gradativa, para que o deficiente se prepare para o mercado e para que a empresa se prepare para receber esse profissional”, explicou a gerente do Depar, Cristiane Gouveia.

Para Solange, o projeto é positivo. No entanto, ela pondera: “O programa é bom, mas tem falhas porque é uma coisa nova, porque lidar com a deficiência é preciso ter know-how. É difícil, tem que ter conhecimento acumulado. É muita coisa para se fazer, e a situação é de emergência”.

“Esse projeto, louvo porque vem para cobrir uma lacuna, mas é uma proposta emergencial. (Para solucionar o problema) a curto prazo, ok. Mas, temos que pensar a logo prazo”, argumentou.

Também falaram, no evento, o gerente de qualidade de vida do Sesi-SP, Eduardo Arantes; e a coordenadora de atividades pedagógicas do Senai de Sorocaba, Silvana Farrapo.

O balanço final do fórum foi positivo para a professora-coordenadora do curso de Libras (linguagem de sinais) da Astec (Associação de Surdos de Tatuí Esporte Clube), Tili Bertolaccini, que compareceu ao fórum “Sou Capaz”.

“A iniciativa é positiva. Já participei de iniciativas com prefeituras e outras entidades, e essa é a primeira vez que pode ficar um legado”. Para ela, foi importante a iniciativa porque o evento não teve viés político. “Por isso, acredito no resultado”.

No entanto, Tili pondera que ainda não é possível adiantar os resultados que as propostas vão gerar. “Eles mostraram o que querem fazer, mas não sabemos o resultado. Vamos ver daqui um ano”.