Hospital inicia acordos com ‘desrequisitados’ e agências





Após divulgar projetos que visam catapultar as finanças do hospital, a comissão provisória que administra a Santa Casa fez novo anúncio. O hospital iniciou dois acordos: o primeiro para demissão de funcionários desrequisitados e o segundo, para quitação de parcelas de empréstimos com desconto na folha não repassados às instituições financeiras.

As negociações estão sendo feitas em sequência à data de posse da nova administração. É o que informou Fernanda Rodrigues Laranjeira, uma das quatro pessoas que compõem o grupo responsável pela gestão do hospital.

Em meio deste ano, após desrequisição da Prefeitura, a Santa Casa passou a ser gerenciada por ela, Vera Lúcia das Dores, Alexandre de Novais e João Carlos Costa.

Em princípio, a comissão abriu as portas do hospital para novo convênio particular. O primeiro – de vários que poderão ser negociados, segundo a integrante da comissão – foi firmado com a Coopus Planos de Saúde.

A assinatura do convênio aconteceu ainda em maio, incluindo a Santa Casa na lista de 70 hospitais que integram a rede de cobertura da operadora de plano de saúde.

Segundo Fernanda, a medida representou a primeira ação prática da nova comissão no sentido de aumentar a receita própria da Santa Casa.

O hospital quer retomar recurso perdido com a saída do convênio Unimed. O contrato gerava média de R$ 300 mil mensal. “Nós estamos abertos para mais convênios. Inclusive, já atendemos outros”, citou.

A lista é composta por Amil, Sabesprev (convênio de funcionários da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público) para funcionários do governo estadual.

Esses convênios são considerados de “menor visibilidade”, por serem exclusivos de determinados grupos de pessoas. Por esse motivo, Fernanda antecipou que a comissão provisória quer atrair novas empresas.

“Estamos aqui para vender serviço. Temos que profissionalizar a nossa atividade como Santa Casa, porque, apesar de sermos entidade filantrópica e não visarmos lucro para os associados, vendemos serviço para ter receita, aumentando a qualidade a quem interessar”.

Mais que dinheiro a ser aplicado no hospital, os convênios poderão gerar recursos para a comissão resolver questões pendentes. Uma das mais emergenciais é a que trata da demissão dos funcionários desligados pela Prefeitura, no período da requisição.

Entre janeiro e maio deste ano, o Executivo demitiu 14 trabalhadores do hospital. Em entrevista, o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, afirmou que a medida fora adotada por decisão da equipe nomeada para cuidar da Santa Casa.

Na época, Manu explicou que os administradores verificaram que eles ocupavam funções consideradas não vitais para a instituição. A nova comissão entende a situação como “controversa”, porque é decorrente de medida adotada por uma administração anterior

Também porque a comissão gestora da Prefeitura não poderia desligá-los efetivamente, uma vez que não poderia assumir os custos de direitos trabalhistas. O motivo é que a contratação havia sido feita pela ex-provedoria.

Devido à indecisão das gestões, Fernanda contou que a maioria dos funcionários decidiu pedir a baixa na CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) por meio da Justiça Trabalhista.

Também disse que a Santa Casa está providenciando os pedidos de demissão, o que permitirá aos profissionais conseguirem novo emprego. Até então, eles estariam impossibilitados.

A maior dificuldade do hospital, no momento, para que a questão seja totalmente sanada, é com relação aos custos. Fernanda argumentou que a Santa Casa não dispõe de recursos para a quitação dos valores devidos.

“Com o aumento que estamos conseguindo aos poucos, de receita própria, estamos conseguindo pagar alguns funcionários. Com outros, pretendemos entrar em contato para fazermos acordos, porque, realmente, a situação não nos permite pagar a todos imediatamente”, justificou.

O mesmo empenho vale para a questão do desconto de empréstimos direto no holerite dos funcionários. No meio do ano passado, o presidente do Sinsaúde (Sindicato Único dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Sorocaba e Região), Milton Sanches, recebeu queixas.

Segundo o sindicalista, os funcionários teriam detectado que o hospital estava descontando dos salários pagos a eles as parcelas de empréstimos bancários. Contudo, não estaria repassando os valores aos bancos.

Em julho de 2015, o Sinsaúde acionou a Justiça para verificar denúncias de funcionários. A entidade apresentou pedido de liminar para ter acesso a informações sobre empréstimos consignados feitos pelos trabalhadores do hospital.

Cientes da situação, Fernanda disse que o corpo administrativo da Santa Casa buscou entendimento com a entidade classista e reconheceu que houvera descontos dos funcionários e não repasse para as instituições financeiras. Mas, enfatizou que a situação está sendo analisada.

Além do Sinsaúde, a gestão do hospital procurou os dois bancos nos quais os pagamentos são feitos (e dos quais os repasses têm de ser quitados). Com o primeiro, Fernanda disse que a comissão provisória da provedoria conseguiu desconto. “Provavelmente, vamos quitar essa dívida até o fim deste mês”.

Segundo ela, o valor caiu “astronomicamente” para R$ 5.000 – montante para que o hospital possa quitar a dívida por completa. Com o segundo banco, a comissão ainda está em negociação. A expectativa é que haja, também, desconto.

O maior entrave é que esse tipo de negociação e de quitação só pode ser feito com receita própria, não vinda de recursos de contratos firmados com a Prefeitura.

Para fazer caixa, a Santa Casa vai intensificar novas formas de captação de dinheiro. A primeira e a segunda, por meio do GTH (Grupo de Trabalho Humanizado).

O grupo vem elaborando projetos mensais, como a “Festa do Doce”. A ação é interna e consiste na arrecadação e venda – entre os próprios funcionários – de doces. Uma vez por mês, os trabalhadores do hospital fazem o evento.

“Não é muito, mas já ajuda e dá um dinheiro, que é usado para resolver pequenas questões”, enfatizou a farmacêutica responsável Andressa Marinheiro Canto e Silva.

Empolgados com os resultados, os funcionários devem promover, em agosto, uma feijoada beneficente. Dessa vez, a venda será aberta a não funcionários.

O evento, ainda sem data e local definidos, deverá contar com apresentação musical.