Hora de ouvir o sinal do fim do recreio

Muitos certamente não devem ter tido oportunidade de escutar o badalo do “sininho” anunciando o fim da algazarra do “recreio” nas escolas. Isto porque, quando estudantes, já nem se dizia mais recreio, renomeado de “intervalo”. Tampouco as peculiares batidas metálicas seguiram, dando lugar à estridente campainha.

Para os (mais) adultos, não obstante, foi-se esse tempo de inocência, descompromisso e imaturidade. Mas, pelo visto, não para todos. Incrivelmente, alguns parecem não ter ouvido o anúncio do fim do recreio e seguem na balbúrdia, correndo de um lado a outro, cuja trajetória apenas considera a falta de rumo.

Pior, não param de gritar e, não raramente, a praticar bullying com os coleguinhas – já há um tempo com foco particular nos “amarelos” sentados no “fundão à esquerda”…

Esse mal comportamento, ainda que na escola, já exige atenção e atitude dos mestres, pelos potenciais problemas a gerar, como inimizades, bofeteios, escoriações, choros e, em último caso, até expulsões.

Pelo mesmo potencial contraproducente, mamãe e papai também precisam manter-se atentos e buscar corrigir o pequeno desagregador, justamente para não virem a criar futuros adultos desprezíveis, do tipo que não se importa com a vida alheia, por exemplo.

Problema maior – muito maior! -, no entanto, acontece quando a idade chega sem carregar junto a maturidade, o bom senso, o equilíbrio… Isso sem desprezo ao mais importante: a Educação!

Literalmente, adultos mal educados são causadores de problemas em todas as partes. Contudo, os estragos tornam-se ainda mais críticos quando figuras dessa pobre natureza ocupam funções estratégicas na vida pública.

Aí, em situações negativamente extraordinárias, eles podem causar a morte dos outros – como acontece no país neste momento, quando cidadãos estão falecendo não a priori pela Covid-19, mas por “asfixia”. Por falta de ar! Não é ficção, filme de terror, é realidade!

Mas, e agora? Quem vai tomar atitude? E fazer o quê? Seria necessário, no mínimo, que os infantis deixassem o pátio e se recolhessem, humilde e constritamente, às suas imaturidades.

Se assim ocorresse, haveria oportunidade para que adultos venham a tomar atitude em favor da vida, começando pelo respeito aos mestres da ciência e por integrantes de outros “timinhos” (o que, neste momento, precisa ser entendido, urgentemente, como “boas relações internacionais”).

De maneira dramática, entretanto, o que se testemunha no país é totalmente o inverso do ideal, com a população sujeita a seguir sendo asfixiada por falta de bons exemplos, de responsabilidade, de vacinas, de ar…

Certo, nem todos concordam ser uma má ideia entregar a diretoria aos alunos – especialmente aos mais rebeldes, àqueles que buscam resolver tudo na porrada, senão, preferencialmente, com armas de fogo.

A estes, vale relembrar algumas infantilidades que, agora, geram incalculáveis prejuízos ao povo brasileiro. A mais grave, claro, é a campanha xenofóbica contra a China, justamente o país que detém o elemento principal para a produção das vacinas contra a Covid-19, chamado “IFA” (Ingrediente Farmacêutico Ativo) – fora o fato de ser, disparado, o maior parceiro comercial do país.

São notórias as gratuitas agressões e acusações sem provas contra a China, por conta da pandemia, emitidas por figuras diretamente ligadas ao governo federal, entre os quais, “filhos” e o ministro das “Relações Exteriores” (ironia das ironias) – além de outras tantas do próprio presidente.

A molecagem do bullying internacional, inspirada pelo suposto amigo valentão – o agora também pária ex-presidente norte-americano, Donald Trump -, resultou em situação só não mais constrangedora que perigosa.

Constrangedora, porque coloca as autoridades de joelho, a implorar pela boa-vontade de um país que, até então, tanto agredia e do qual até zombava…

Perigosa, porque espera-se que o coleguinha até há pouco esculachado, agora, venha a ser legalzão, retribuindo com balas Juquinha (IFA, aliás) as caneladas por debaixo da carteira antidiplomática…

Poderia, sim, ser ridículo, não fosse o drama. Tanto se falou pejorativamente em “vaChina” e, de repente, a esperança dos brasileiros quanto a um retorno à vida normal e ao fim do morticínio recaiu somente sobre a Coronavac.

E, neste caso, mais uma farofada: apesar de integrar o grupo de países “emergentes” chamado BrIcs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o governo federal não apoiou a sugestão de quebra de patentes dos medicamentos relativos à Covid-19, proposta pela Índia junto à OMC (Organização Mundial do Comércio).

O problema é que mais esse agrado ao ex-valentão norte-americano da turma da extrema direita, neste momento, também prejudica o país, por ser da Índia a produção do imunizante desenvolvido pela Oxford-AstraZeneca – aposta do governo federal contra a “vacina do Doria”, que virou “do Brasil”, agora.

Não por outro motivo, pode-se supor que as anunciadas doses desse imunizante, a somar dois milhões, estão chegando somente agora, mas, antes, já haviam figurado outro episódio burlesco, então com o “avião da Azul” deixando de ir à Índia para levar oxigênio a Manaus.

Seria mesmo risível, não fosse a tragédia. Mas, para não deixar de fora as ironias vivenciadas pela política nacional, ainda é preciso lembrar o bullying também sobre a Venezuela.

Não o país, mas seu governo, ressalte-se, merece mesmo ser esculhambado, embora não por ser supostamente de “esquerda”, mas meramente por sustentar-se em uma ditadura – ruim, opressora e tosca como todas as demais!

A ironia está no fato de que, também de repente, os garotos boquirrotos do Brasil são forçados a mais um vexame, tendo de receber doação da Venezuela, por meio de cilindros de oxigênio (e ainda bem que tiveram a decência de aceitar, senão ainda mais pessoas morreriam).

E, para completar e não deixar de fora algo de Tatuí, a Ford! Ah, a Ford! O grande líder nacional, o “Messias”, profetizou que, caso o ex-presidente Mauricio Macri perdesse as eleições, dando lugar à dupla Alberto Fernandéz e Cristina Kirchner, aconteceria no Rio Grande do Sul um movimento similar a Roraima.

Seria algo como hordas de imigrantes descamisados cruzando a fronteira e invadindo os pampas, refugiados do fantasma comunista.

Pois é, não só o êxodo dos “hermanos’ não aconteceu como, agora, o Brasil acabou de perder a Ford para a Argentina. Restou apenas o campo de provas de Tatuí – sabe lá até quando.

Em resumo, é preciso despertar para o fato de que o sino do fim do recreio badala alucinado, indicando que a brincadeira precisa acabar. Alguém tem de expulsar as crianças indisciplinadas do pátio da política e, no caminho, tentar apagar o fogo que elas tocaram no playground nacional.