Greve prevista na Santa Casa é suspensa





Arquivo O Progresso

Sindicato não levou paralisação à frente após verificar compensação de pagamento na manhã de terça

 

Depois de realizar reunião que terminou em consenso entre funcionários da Santa Casa de Tatuí, o Sinsaúde (Sindicato Único dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde de Sorocaba e Região) decidiu suspender a greve prevista para a manhã de ontem. O prazo dado pela entidade classista para o hospital realizar o acerto salarial de julho venceu às 11h30 de terça-feira, 14.

“Acabou de sair o pagamento. Só que o problema do desconto do consignado continua”, declarou o presidente do sindicato, Milton Sanches. Ele mediou encontro com funcionários do hospital, que reclamavam do atraso no pagamento.

Os trabalhadores também apresentaram outras duas queixas contra a Santa Casa. A primeira é relativa a “problemas com as condições de trabalho”; já a segunda, é considerada mais grave pela entidade classista.

Conforme Sanches, o hospital está descontando o valor de empréstimo consignado da folha de pagamento dos funcionários, mas não o repassando a bancos e a uma rede de farmácias.

Sanches informou que o sindicato vem acompanhando a Santa Casa desde que a crise financeira do hospital ganhou notoriedade. Em maio, a entidade iniciou a discussão por conta do dissídio coletivo (no qual é debatido o reajuste salarial).

Como o hospital não conseguiu cumprir com o aumento acordado (os percentuais de reajuste variam conforme a profissão), a entidade realizou assembleia.

A pedido dos trabalhadores, a diretoria do Sinsaúde promoveu reunião, no hospital, para discutir a situação, na noite de sexta-feira da semana passada, 10. O encontro terminou com a votação a favor da paralisação.

Para o sindicato, Sanches informou que a direção do hospital alegou haver atraso nos repasses. Contudo, não teria apresentado alternativa para solucionar a questão. A Santa Casa tem cerca de 400 trabalhadores e, caso eles entrassem em greve, apenas 120 (30% dos funcionários) estariam atendendo.

A paralisação não foi iniciada porque a diretoria do sindicato verificou que houve o pagamento dos funcionários. Elielson Farias, que também é diretor do Sinsaúde, disse que, além desse problema, os trabalhadores não estão tendo os direitos preservados.

“Há muitas questões que precisam ser analisadas. Entre elas, o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que não está sendo depositado”, afirmou.

De acordo com ele, o hospital desconta os valores dos holerites dos funcionários, mas não os repassa. O mesmo está ocorrendo “há um tempo” (o sindicato não soube precisar desde quando) com os empréstimos consignados. “Isso está gerando um transtorno para os funcionários há meses”, afirmou.

Conforme ele, por conta disso, uma rede de farmácias que atende os funcionários do hospital (via convênio com a Santa Casa) deixou de fornecer medicamento para os trabalhadores. “A farmácia não está vendendo mais pelo convênio”, disse Farias.

O diretor estima que os atrasos do hospital com a rede de farmácias chegue a R$ 90 mil. “É muito dinheiro, e medicamento é uma coisa que todo mundo precisa. Eles (os funcionários) estão nessa situação”, apontou.

Farias disse que o sindicato tinha conhecimento de que a Prefeitura havia feito repasse de dinheiro ao hospital no dia 9 (feriado estadual da Revolução Constitucionalista de 1932).

“A provedora (Nanete Walti de Lima) nos mostrou o extrato”, disse ele. Entretanto, a entidade enviou representantes a Tatuí para verificar se houvera pagamento dos salários dos funcionários.

A categoria tem sofrido atrasos nos pagamentos que variam de seis a dez dias. Em função disso, 60% dos funcionários decidiram cruzar os braços, caso não recebessem com os reajustes dos três últimos meses, acordados em maio. Como o hospital pagou os salários, os trabalhadores não entraram em greve.

Sanches afirmou que a provedoria havia sinalizado, no quinto mês do ano, que teria dificuldades em cumprir com as exigências da entidade classista.

“Nós estamos acompanhando a situação do hospital. Fechamos acordo coletivo de reajuste de salário. Porém, não houve nem o reajuste, nem o pagamento”, disse.

O Sinsaúde deu 72 horas a partir da assembleia para que o hospital apresentasse o comprovante de depósito dos salários. Na manhã de terça, recebeu sinalização positiva dos funcionários, mas precisou discutir com uma parcela dos trabalhadores a questão do desconto e não repasse dos consignados.

A O Progresso, o presidente da entidade classista disse que acionará a Justiça para resolver essa última questão. Para Sanches, o Sinsaúde entende que há “apropriação indébita”. “O trabalhador empresta do banco, tem o valor descontado do salário, mas o nome sujo, porque o hospital não paga”, denunciou.

Em levantamento preliminar, o Sinsaúde contabilizou 60 funcionários – dos 400 – nessa situação. “Esse número somente com contrato com um banco. Fora as farmácias que pararam de vender para os trabalhadores”, emendou.

Sanches considerou a situação dos funcionários “parcialmente resolvida”. “Quero deixar claro que, apesar de a Santa Casa estar passando por uma situação ruim, não justifica o atraso e a apropriação indébita”, disse. “Isso (o desconto e não pagamento) se for levado ao pé da letra, é crime”, acrescentou.

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