Governo pretende fazer audiências para discutir sobre ‘churrasqueira’

Apelidado de 'churrasqueira', canteiro tem utilidade discutida em Tatuí

Recomendação para debate com população foi feita por promotores


Parte integrante do projeto de revitalização da avenida Vice-Prefeito Pompeo Reali, na vila São Cristóvão, o canteiro central construído pela municipalidade deve entrar em discussão pública.

O governo local pretende, nos próximos meses, realizar eventos abertos com participação popular para discutir o que pode ser feito para resolver alguns pontos relativos à obra.

O assunto tem sido, inicialmente, debatido na Câmara Municipal pelos vereadores. Em pelo menos duas sessões, os parlamentares apresentaram requerimentos para abordar a questão. Além da “aparência”, os edis dizem que a obra apresenta problemas não previstos pela equipe que a projetou.

Entre eles, está o fato de que não há muitas passagens entre um lado e outro da avenida. Quem sobe no sentido às rodovias conta apenas com dois pontos de transição.

No entanto, as autoridades argumentam que a principal questão é que a obra contribui para o aumento de acidentes. Por não prever mais dispositivos de redução de velocidade (lombadas), a avenida, que está em revitalização, teve aumento gradativo de tráfego. Os veículos circulam com maior velocidade, com o máximo fixado em 50 quilômetros por hora.

Em períodos de chuva, o canteiro impede o escoamento da água. Nos dias em que há grande volume de precipitação, a falta de escoamento gera o fenômeno chamado aquaplanagem. É quando os veículos “planam” por sobre a superfície da água, perdendo estabilidade, o que pode levar a mais acidentes.

As críticas à revitalização surgiram no ano passado, meses depois do início das obras e quando o canteiro central começou a ser levantado. Em março de 2016, a Prefeitura anunciou a construção do dispositivo, restauração de calçadas, melhorias na iluminação pública e lombofaixas (estas ainda não implantadas).

As obras ficaram a cargo da empresa THR Construção e Infraestrutura, vencedora do processo de licitação. O projeto prevê a aplicação de mais de R$ 863 mil, incluindo contrapartida municipal. O recurso é proveniente de emendas dos deputados estadual Carlos Cesar (PSB) e federal Baleia Rossi (PMDB).

O plano de trabalho inclui recape total da via, em uma extensão de 14 mil metros quadrados. A “qualidade do serviço” também chegou a ser questionada na Câmara.

O líder do governo no Legislativo, vereador Antônio Marcos de Abreu (PR), ocupou a tribuna em duas ocasiões (nas noites dos dias 7 e 14 deste mês) para informar o que o Executivo pode fazer para resolver os transtornos decorrentes da revitalização.

Como a obra tem recursos públicos (dos governos federal, estadual e municipal), ela não pode ser “derrubada”, conforme prometido em campanha eleitoral. O Executivo também não poderia interromper a conclusão, uma vez que o projeto está ligado a convênios firmados pela Prefeitura.

Desta maneira, os engenheiros da Prefeitura estão tentando encerrar o contrato. Neste mês, uma equipe de funcionários do município esteve discutindo o assunto junto à Casa Civil do Estado de São Paulo. Caso consiga terminá-lo, o Executivo terá de realizar a “devida prestação de contas”.

Segundo Abreu, a questão é que a administração municipal anterior pediu, no final do ano passado, um aditamento (um recurso a mais) de R$ 60 mil para concluir a obra. A solicitação não foi autorizada e, sem o recurso, a construção não terminou.

Por essa razão, o parlamentar declarou que partes do canteiro central – que sofreram com colisões de veículos – não puderam ser restauradas. A obra foi realizada com tijolos e, pelo formato, ganhou o apelido de “churrasqueira”.

Sem solução “simples”, a Prefeitura deve acatar recomendação do Ministério Público. Abreu informou que o órgão orientara a atual administração a realizar audiências públicas para que a população ajude a decidir o que deve ser feito com a obra.

“Também para resguardar juridicamente a nossa prefeita (Maria José Vieira de Camargo)”, afirmou o líder do governo.

Um dos responsáveis por solicitar recurso para o projeto, o vereador Nilto José Alves (PMDB) classificou a obra como “uma coisa horrorosa”. “Nós viabilizamos, diante de deputado estadual, verba para revitalização, para arrumarmos a avenida e, sinceramente, deu no que deu. Particularmente, não gosto”, afirmou.

O parlamentar também reclamou da qualidade do recapeamento, mencionando buracos no asfalto. Segundo ele, um pé de milho havia sido “plantado” em um dos pontos de depressão da malha viária. “Daqui a pouco, nós vamos colher milho naquela avenida”, declarou.

Alves disse que, mesmo que aguarde a decisão popular para saber o que fazer, a Prefeitura poderia “dar uma olhada” na avenida. O vereador sugeriu aos colegas que solicitassem recursos junto a deputados como forma de ajuda.

Uma semana depois de fazer a reclamação (da falta de limpeza da avenida), Alves voltou a ocupar a tribuna para falar que tivera o “pedido atendido pela municipalidade”. Ele elogiou o trabalho da Prefeitura para desobstrução do acesso.

Também na Câmara, Alexandre Grandino Teles (PSDB) sugeriu, por meio de indicação, a realização de audiência pública para a discussão sobre a “churrasqueira”.

O pedido foi encaminhado para a prefeita e tem como base as reclamações sobre riscos de acidentes. “Do meu ponto de vista, está muito perigoso”, sustentou.