Giorge de Santi estreia mostra Ocupa 015





Uma mistura de luzes, arte e fotografia compõem a exposição Ocupa 015 a ser aberta pelo fotógrafo Giorge de Santi em Tatuí. A mostra tem estreia na noite da próxima sexta-feira, 8, no MHPS (Museu Histórico “Paulo Setúbal”).

Por meio dela, de Santi retrata, pela primeira vez numa apresentação do gênero (fotografia), o cotidiano e os progressos das ocupações artísticas realizadas em São Paulo. O trabalho tem foco especial na “Casa Amarela”, considerada uma das principais ocupações artísticas da capital. O espaço de troca de conhecimento é, também, chamada de “Quilombo Afroguarany Casa Amarela”.

Nesse novo trabalho, de Santi busca aguçar novos olhares e perspectivas dos transeuntes. Para isso, escolheu um local “totalmente inusitado” para apresentar o resultado pela primeira vez. O museu situado em Tatuí abriga a exposição no subsolo (também conhecido como portão) até o dia 7 de agosto.

Para a inauguração, o artista prepara programação especial que junta arte e intervenções. O evento tem início às 20h, com a visitação e circulação por entre as obras.

Ocupa 015 leva esse nome para marcar o ano de 2015, em que o fotógrafo participou da residência na ocupação Casa Amarela, do casarão localizado na rua Consolação. Giorge vivenciou a experiência artística durante 14 meses, visitando o espaço com uma frequência de três a quatro dias por semana.

É esse movimento cultural no casarão, realizado por um coletivo de artistas, que é retratado na exposição. Em fotos, de Santi revela o trabalho dos profissionais, tanto de suas obras, como de projetos sociais nos quais inserem diálogo e ações com as populações que vivem em locais ociosos, dando-lhes voz.

Outro diferencial diz respeito ao material utilizado na mostra, como folhas sulfite de material base para impressão de fotos e informativos e jogos de luzes rústicos. A intenção é “trazer a simplicidade” e evidenciá-la num local insólito: o porão do museu.

“Tudo para contribuir com uma interação sensível do público junto ao clima de precariedade e ousadia remetendo, assim, às ocupações que em certa medida vão se dando com base em alguns improvisos”, cita-se no texto de divulgação.

A intenção do artista com o material e o local é a de chamar a atenção das pessoas para o movimento novo de ocupações artísticas e culturais que vem ganhando força. Também de trazer os visitantes para dentro desse mundo de expressão e arte.

Para dar ainda mais o tom de realismo, com sensações que remetam às ocupações, a exposição se propõe a ocorrer nos demais dias podendo ser vista do lado de fora do prédio. O público poderá observar as fotografias por entre as janelas do porão, ou “respiros de concreto”, como comenta o próprio artista.

De acordo com o artista, as ocupações representam resistência, busca pela liberdade de expressão e por direitos. Em São Paulo, estima-se que 400 mil imóveis estejam abandonados. São prédios que chamaram a atenção dos movimentos artísticos os quais passaram a se apropriar deles, transformando-os em ocupações culturais.

Com isso, pessoas ligadas a esses movimentos pretendem inserir a produção artística na metrópole. A ideia é que, através da cultura, as pessoas possam refletir sobre a política e lutar para recolocar o cidadão como centro nas ações do Estado.

Segundo de Santi, a maioria desses movimentos nasceu e ganhou força em junho de 2013, após os protestos que chegaram a reunir 1,28 milhão de pessoas nas ruas.

“Essas pessoas assumiram seus papéis como indivíduos sociais e não conseguiram mais se desligar, continuando, assim, a busca pelos seus direitos, e principalmente, a luta dos artistas contra a hegemonia do mercado, seja de arte ou de música. E essa é uma função social que é possível encontrar dentro das ocupações”, consta em material de divulgação.

Também conforme a nota, o artista cita que “cada um tem uma visão, mas com uma missão em comum, a resistência”. De acordo com a assessoria, este é o objetivo de Giorge de Santi, fotógrafo apaixonado, tenta mostrar na exposição.

Por meio de fotografias, ele busca abrir os olhos da população e das autoridades para a importância e o impacto que ocupações têm nas cidades e na vida da população que vive próxima a eles, incluindo a arte e lutando também contra o preconceito inserido na sociedade.

Por este motivo a exposição é composta de três fases: “Fase Artística”, “Fase Política” e “Fase Social” – esta última, quando a ocupação passa a dialogar também com a questão de luta por moradia e pessoas em situação de rua.

Focando no registro singular e cultural, Giorge Augustus de Santi tem 43 anos. Paulistano formado em 1990 pela EPA (Escola Panamericana de Artes), em São Paulo, onde estudou fotografia por dois anos. Já trabalhou com grandes nomes da fotografia nacional, como J. R. Duran, Cláudia Jaquaribe, Miro, Dú Ribeiro, Vânia Toledo, Clício, e Márcio Scavone. Este último, colega de trabalho com o qual trabalha, inclusive, compartilhando tarefas em estúdio.

Além destes nomes, o artista alimenta inspiração em nomes consagrados como Tunga (artista plástico) e Glauber Rocha (cineasta). Giorge comenta alguns dos principais nomes de pessoas que se envolveram diretamente nesta sua imersão e jornada artística: Wanessa Sabbath, Atila Pinheiro, Carla Pena, Pedro Rocha, Daniel Scandurra, Yanick, Vitones, Carlos Ribeiro e Luis Só.

Em seus mais de 25 anos de profissão, trabalhou com publicidade, editoriais, fotojornalismo, produção audiovisual e registros arquitetônicos e de grandes eventos. Sempre voltado à fotografia, ele, atualmente, se dedica às artes.

O fotógrafo inspira-se em pessoas e nas cidades, procurando demonstrar a cultura urbana que vem crescendo e ganhando cunho social, político e artístico.