Fórum ganha escultura de Rui Barbosa





Patrícia Milão

Autoridades municipais, familiares do escultor e membros do fórum local descerraram busto inaugurado oficialmente no dia 9

Solenidade na manhã de sexta-feira, 9, marcou a entronização do busto de um dos “grandes intelectuais da história do país” em Tatuí. A figura de Rui Barbosa de Oliveira está instalada no saguão de entrada do fórum “Alberto dos Santos”.

Uma das últimas obras do escultor italiano Galileo Ugo Emendabili, o busto em homenagem a Rui Barbosa chegou a Tatuí por força de projeto encabeçado pela filha dele, Fiammetta Emendabili Loureiro Gama.

“Chaminha”, como é conhecida, fez a doação da obra, a captação de verba para fundi-la em bronze e o contato com o Tribunal de Justiça, de São Paulo.

Primeira a discursar, ela falou sobre o projeto, as obras do pai e revelou que, ao oficializar a doação ao fórum de Tatuí, estava atendendo a um desejo do marido (falecido em agosto de 2004), o jornalista tatuiano Maurício Loureiro Gama.

A cerimônia de entronização foi presidida pela juíza diretora do fórum, Lígia Cristina Berardi Ferreira. Também participaram o juiz da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal e vice-diretor do fórum, Marcelo Nalesso Salmaso; o promotor de Justiça e secretário do Ministério Público Carlos Eduardo Pozzi; e o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu.

O evento, que integrou as comemorações dos 187 anos de Tatuí e antecedeu ao Dia do Advogado (11 de agosto), reuniu, ainda, o presidente da 26a Subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Eleodoro Alves de Camargo Filho, e o neto do escultor, Paulo Emendabili Souza Barros de Carvalho.

Em pronunciamento, Fiammetta cumprimentou juízes, o promotor, o prefeito e autoridades, destacando o nome de duas personalidades.
A primeira, o tatuiano José Celso de Mello Filho, ministro do Supremo Tribunal Federal, e a segunda, o desembargador e presidente do TJ de São Paulo, Ivan Sartori.

Disse que a manhã de sexta-feira marcava a concretização de um sonho do marido dela, o “tatuianíssimo” Maurício Loureiro Gama, advogado e jornalista.

Maurício atuou em grandes veículos de comunicação do país, tendo se tornado, em 1950, o primeiro âncora da televisão brasileira e da América Latina.

Ao ler discurso, ela explicou o motivo pelo qual é conhecida como Chaminha (tradução do nome dela do italiano para o português). Citou que essa era a forma com que Maurício a chamava e disse que o nome é uma homenagem que o pai fez a ela com base em livro do escritor pré-renascentista Giovanni Boccaccio.

“Nasci em São Paulo. Porém, sou tatuiana de coração”, iniciou Fiammetta. Ela é cidadã tatuiana, recebendo título por indicação do então vereador (e atual prefeito) Manu.

Segundo informou a benfeitora, o busto doado ao TJ é uma peça menor, feita antes de uma maior e “monumental”, esculpida pelo pai dela em 1949.

Naquele ano, Galileo havia produzido a escultura para o Tribunal de Justiça de São Paulo. “Como primeira inspiração, meu pai esculpiu um Rui Barbosa menor, que ficou no atelier dele durante anos”, explicou Fiammetta.

Em 1974, por ocasião do falecimento de Galileo, o legado artístico dele passou a fazer parte do acervo da família. Maurício, quando viu a obra, teve a ideia de doá-la ao fórum de
Tatuí.

“Há uma crônica dele, na década de 1970, que aborda esse sonho. Porém, ele não gostava da arquitetura do antigo fórum. Ele dizia que algum dia iria surgir um novo, digno de sua querida Tatuí”, contou a idealizadora do projeto.

A ideia tomou forma em 2010, quando Fiammetta entrou em contato com Jorge Rizek (então secretário municipal da Cultura, Turismo, Esporte, Lazer e Juventude). “Ele ouviu meu desejo e incentivou-me a fazer um projeto”, lembrou.

Rizek é atualmente diretor do Departamento Municipal de Cultura e Desenvolvimento Turístico, sendo citado pela advogada como um “grande empreendedor cultural”.

Em seguida às conversas, Fiammetta deu início às etapas do projeto. Elas incluíram a fundição da escultura em bronze (com apoio de empresas de Tatuí e de cidadãos) e a autorização da cessão junto à comissão do museu do TJ de São Paulo. “Por unanimidade, minha solicitação teve ganho de causa”.

O filho dela, que discursou na sequência, exaltou as figuras de Rui Barbosa e de Maurício Loureiro Gama. Carvalho cumprimentou autoridades e iniciou pronunciamento com uma frase de Barbosa, nascido em Salvador, em 5 de novembro de 1849, e que faleceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 1o de março de 1923.

Um dos enteados de Maurício, Carvalho destacou a importância de Rui Barbosa ao país. Citou que ele foi coautor (juntamente com Prudente de Moraes) da Constituição da primeira República e que defendeu o federalismo.

Comentou, ainda, que Rui Barbosa lutou pelo abolicionismo e que defendeu os direitos individuais. Também falou sobre Maurício e o empenho que ele fez para divulgar Tatuí.

O enteado comparou a projeção que o jornalista deu à cidade ao Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, conhecido “no mundo todo pelo rigor na formação de seus músicos”.
Incluiu, nesse sentido, o busto em homenagem a Rui Barbosa, uma vez que a obra é produção do avô dele, um dos mais conceituados artistas do país.

Carvalho também conclamou que “fosse feita Justiça a Maurício”, a quem chamou de “tatuiano da gema”. Pediu, em requerimento entregue às autoridades, que a cidade destinasse ao jornalista “uma praça da grandeza do nome dele”.

Já o promotor de Justiça afirmou que Tatuí e o Judiciário estavam em festa e que a data era motivo de júbilo, em função da entronização da obra de arte.

Pozzi destacou que o busto faz parte das criações de “um pomposo escultor, que teve na Justiça inspiração para obras enaltecidas nos palácios da Justiça”.

“Temos já, há vários anos, uma obra de seu quilate no TJ de São Paulo. Honrosamente, temos o privilégio de, em Tatuí, contar também com uma obra dele”, declarou o promotor. Pozzi disse que a escultura tem “pertinência com a Justiça” e deu um testemunho sobre o encontro com Fiammetta.

O promotor sustentou que a obra doada à Justiça do município poderia estar “nos melhores museus” do país. Destacou que, com a instalação, ela integra parte do patrimônio histórico e cultural da cidade.

“É motivo de muita honra para todos nós, que somos de Tatuí. Temos, no busto de Rui Barbosa, mais que uma obra de arte, mas a inspiração na Justiça”, argumentou.

Por fim, Pozzi destacou a relevância do retratado (Rui Barbosa)
na “construção da República”. Citou que ele ocupou importantes cargos e que é um exemplo para que os agentes do Judiciário para que eles façam Justiça com retidão.

Em nome do fórum da comarca, o juiz Salmaso declarou que o Judiciário recebeu a doação do busto com orgulho e satisfação. Enalteceu a figura de Galileo e afirmou que o artista veio ao Brasil em 1923 para “consagrar o país com diversas obras voltadas ao ideal republicado”.

Dentre elas, Salmaso citou o “Mausoléu-Monumento ao Soldado Constitucionalista de 1932”, que fica no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. O obelisco mede 72 metros de altura e teve inauguração no ano de 1954.

Salmaso citou frase do artista na qual ele diz que os artistas se esforçam para fazer da arte aquilo que ela é: “uma expressão intencional da sensibilidade humana”. “E não nos causa surpresa nenhuma que o artista tão voltado aos ideais republicanos, tão próximo da sensibilidade humana, tenha feito uma escultura justamente de Rui Barbosa”, afirmou o magistrado.

Salmaso destacou o senso humano de Rui Barbosa e a grande preocupação que ele teve em resgatar valores e a dignidade. Disse que esse deve ser um exemplo a ser seguido e que as pessoas devem resgatar a valorização umas das outras. “Digo isso porque vivemos numa sociedade em guerra”, salientou.

Como exemplo de “batalha” entre as pessoas, o juiz citou as brigas de trânsito – que podem terminar em tragédia. Também fez menção às guerras “mais acirradas entre as classes sociais” e frisou que é preciso mudança de comportamento.

Dentro desta ótica, Salmaso destacou duas ações do Judiciário tatuiano: uma delas a Justiça Restaurativa e a outra, o Cejusc (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania).

“Por meio desses, nós trazemos pessoas em conflito para que elas possam ouvir umas às outras, compreender razões e despertar um olhar de humanidade que devem ter”, falou o vice-diretor do fórum.

Salmaso agradeceu Fiammetta pela doação do busto e encerrou afirmando que a entronização dele no saguão do “Alberto dos Santos” é fundamental para que os magistrados se lembrem das lições de Rui Barbosa.

A benfeitora também recebeu cumprimentos da juíza diretora do fórum, que participou do descerramento do busto junto com as autoridades. Na se-quência, houve coquetel.