Filha é suspeita de ter se unido ao marido para matar a própria mãe





Cristiano Mota

Prisão resultou em apreensão de três tijolos de maconha e revólver

 

Disputa por herança, motivada pelo tráfico de drogas, teria sido a razão da morte da dona de casa Rosineide Aparecida Martins da Silva, 49. Esta é a linha de raciocínio que a Polícia Civil seguiu para esclarecer o homicídio ocorrido no dia 24 do mês passado, no Conjunto Habitacional “Mário dos Santos”.

Vinte dias após o crime, o delegado titular do município, José Alexandre Garcia Andreucci, anunciou o esclarecimento do caso e a prisão de duas pessoas.

Os suspeitos são filha e genro da vítima, detidos na manhã de quarta-feira, 13, por conta de mandado de prisão temporária e em flagrante por tráfico de drogas.

Na residência em que eles estavam – e que viviam com a dona de casa assassinada –, os investigadores teriam encontrado aproximadamente meio quilo de maconha, dividido em três “pequenos” tijolos, espalhados pela casa.

A divisão de homicídios fez as apreensões – e as prisões – durante cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão expedida pela Justiça.

Os investigadores estiveram na residência, à rua Ilda Padilha Loureiro, acompanhados do delegado quase um mês depois da morte da dona de casa.

Segundo Andreucci, Rosineide havia sido encontrada caída num corredor do imóvel, por volta das 8h30 do dia 24, com um ferimento na cabeça. Na ocasião, uma das filhas dela acionou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Até então, a suspeita era de que a mulher tivesse tido um mal súbito e desmaiado próximo ao banheiro.

A PC começou a investigar o caso a partir de boletim emitido pelo Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. Conforme o delegado titular, um médico plantonista teria reportado que a vítima apresentava ferimentos provocados por “instrumento contundente” (que provoca machucado e não perfurações).

Os investigadores estiveram na casa da vítima e conversaram com uma das filhas e um dos genros dela. Na ocasião, Andreucci afirmou que o casal dissera que Rosineide havia passado mal e machucado a cabeça numa queda acidental.

De acordo com ele, Vanessa Aparecida Martins e o marido dela, Juan Fernando Rosa Ferreira, teriam sugerido que a vítima havia morrido de “causa natural”.

“Sem que eles soubessem, a PC continuou investigando e apurou que eles haviam tido desentendimentos com a vítima”, relatou Andreucci.

Segundo ele, por meio de testemunhas, os investigadores descobriram que Rosineide havia sido contemplada pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) com uma propriedade no conjunto ao lado do bairro Tanquinho.

Por falta de documentação, no entanto, teria registrado a casa no nome da filha. Vanessa, na época, teria começado o relacionamento com Juan.

Os dois resolveram morar juntos na casa da mãe dela. Entretanto, Rosineide estaria tendo desentendimentos com o genro, por conta de tráfico de entorpecentes.

Segundo a PC, a filha também passou a brigar com a mãe. Testemunhas disseram, em depoimento, que Vanessa tinha a intenção de viver só com o marido.

Ela também discutiria com a mãe por conta da “atividade” do marido. Juan é suspeito de ser distribuidor de drogas no bairro e em outras regiões da cidade.

“A vítima estava muito preocupada com o envolvimento do genro com o tráfico. Inclusive, no dia do óbito, teria, por curiosidade, mexido no quarto dele”, contou Andreucci.

Segundo o delegado, a vítima teria sido vista pelo genro enquanto abria uma “mala repleta de drogas”, que estava embaixo de uma cama.

De acordo com a PC, os depoimentos constantes no inquérito policial também sugerem que a vítima tinha medo de que pudesse ser detida junto com o genro, caso a polícia recebesse denúncia de tráfico de entorpecente.

Na noite do crime, testemunhas contaram que o casal suspeito do homicídio teria discutido. “Ele queria a chave da moto e ela não queria entregar”, relatou o delegado.

Segundo ele, Juan utilizaria o veículo para fazer uma entrega de droga. “Ficou apurado que a mulher dele não queria que ele saísse”, disse.

A mãe de Vanessa teria interferido na discussão e, na ocasião, Juan estaria “com um pedaço de madeira na mão”. É esse caibro que os investigadores acreditam que tenha sido usado como “instrumento” do crime. De acordo com o delegado, o objeto ainda não foi encontrado.

Para ele, o autor do homicídio – ou autores – só poderia estar dentro da residência. A PC verificou que o imóvel não sofreu arrombamento e que a vítima teria sido morta com uma paulada na cabeça, no período da manhã do dia 24.

“No momento do crime, estavam na casa, Vanessa, Juan, outra filha da vítima e os netos e netas dela”, contou Andreucci. A outra filha reside em cidade vizinha e teria vindo a Tatuí para acertar detalhes de um batizado.

Ela teria dormido na casa da mãe junto com o marido, que deixou o imóvel antes de a vítima ser encontrada morta. Segundo o delegado, o outro genro – que não teve o nome divulgado – havia visto a vítima viva, por volta das 6h.

A mulher dele também teria visto a mãe, na sala da residência, ao se despedir do homem. Na sequência, teria voltado a um dos quartos para descansar. Por volta das 8h30, ela encontrou a mãe caída e acionou o resgate.

“A casa não foi arrombada, ninguém de fora entrou. Então, só pode ter sido alguém que estava dentro”, afirmou o delegado. A PC descartou participação da segunda filha – que também não teve o nome divulgado –, uma vez que ela teria colaborado com as investigações e não apresentava razões.

O delegado afirmou, também, que a vítima teria sido arrastada até o corredor que dá acesso ao banheiro. A intenção era simular que ela teria escorregado ao sair do ambiente e, com isso, batido a cabeça ao cair ao chão.

“O problema é que o hematoma não era de uma queda, mas de paulada”, disse Andreucci. Com base no boletim médico, nos depoimentos e em provas do envolvimento do genro com o tráfico, o titular solicitou a prisão temporária do casal e um mandado de busca e apreensão para a residência dos dois.

Durante o cumprimento dos mandados, na manhã de quarta, os investigadores teriam visto Juan tentando esconder uma sacola plástica.

Ele a teria colocado junto a sacos de lixo, revistados pela PC. “Ao entrarmos na casa, nós vistoriamos a sacola e encontramos dois tijolos de maconha”, relatou o titular.

Em outro cômodo, a equipe encontrou outro tijolo de maconha, ao lado de um sofá. Por conta disso, Vanessa e Juan também responderão por tráfico de entorpecentes.

“O flagrante acabou trazendo prova ‘à luz de direito’, comprovando o que estávamos investigando, que a causa do homicídio foi o tráfico de drogas e a disputa pela casa”, sustentou o titular.

Levado ao plantão policial, o casal não quis se pronunciar com relação ao homicídio. Sobre a droga, Vanessa teria alegado que ela pertencia ao marido. Em depoimento preliminar, Juan assumiu a posse do entorpecente.

Os dois permanecerão detidos até o julgamento e a PC deverá concluir os inquéritos (flagrante de tráfico e homicídio) nos próximos dias. Na sequência, encaminhará os relatórios ao Ministério Público.

O quinto assassinato registrado no ano em Tatuí não deverá entrar na estatística da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado como homicídio. De acordo com o delegado, isso acontece porque o crime havia sido registrado como “morte suspeita”, por não haver indícios de autoria.

Apesar disso, o delegado disse que este é “mais um homicídio esclarecido pela PC”. No ano, todos tiveram as autorias descobertas pelos investigadores.

Andreucci também destacou a colaboração da população do bairro no esclarecimento do caso. Segundo ele, muitas testemunhas procuraram voluntariamente a polícia para contar fatos que ajudaram no indiciamento dos suspeitos.

“Com a morte dela, muitas pessoas ficaram sensibilizadas. Tivemos a informação, inclusive, de que, um dia após o enterro de Rosineide, houve uma festa, uma ‘churrascada’ na casa. Os moradores que presenciaram a cena ficaram horrorizados e nos procuraram para dar informações”, disse o delegado.

Mesmo com indícios da autoria, a PC ainda tem perguntas sem respostas. Duas delas são: quem realmente matou a dona de casa e em que cômodo da casa o crime ocorreu. Andreucci acredita que ela possa ter sido golpeada no quarto onde a filha e o genro dormiam e, depois, sido arrastada até o corredor.

Os suspeitos não quiseram dar explicações sobre o homicídio à PC e usaram o direito de “falar em juízo”. Entretanto, de acordo com o delegado, a “situação jurídica deles é péssima”.

Além do tráfico de drogas, eles serão indiciados por homicídio triplamente qualificado (por conta de motivo fútil, por fazer uso de emboscada e por terem tentado simular que a morte foi acidental).