Estí­mulo í  adoção e atendimentos sobem





O número de atendimentos da Casa do Bom Menino apresentou aumento de 10,7% entre 2014 e 2015, passando de 65 para 72. Os dados foram apresentados pela assistente social da entidade, Helena Cristina Nunes Yakuda.

Em 2015, quatro crianças, com idades entre três meses e sete anos, foram adotadas. O número de 2014 não foi divulgado pela instituição, porém, até este mês, houve uma adoção na Casa.

A entidade acolhe crianças do sexo masculino com idades entre zero e seis anos e 11 meses e presta atendimento em tempo integral. Com capacidade para atender até dez meninos, a entidade acolhe seis atualmente. Em fevereiro, o número chegou a 13, temporariamente.

“Desse número, tiveram retornos para a família e transferências de abrigo por idade”, explicou.

Quando completam sete anos, os meninos são transferidos para a Casa de Acolhimento Institucional, localizado ao lado da Casa do Bom Menino. A instituição abriga garotos que estavam em situações de vulnerabilidade social ou abandonadas pelos genitores.

“Aqui é um abrigo para crianças que foram negligenciadas de qualquer forma. Na maioria dos casos, é abandono de incapaz”, afirmou Helena.

A assistente social explicou que, em alguns casos, o Conselho Tutelar intervém na guarda, por denúncias de maus-tratos, abandono ou, então, em casos em que é notável a incapacidade da mãe de cuidar da criança, como genitoras que são usuárias de drogas.

“Tem casos de mulheres que não fizeram pré-natal certinho, pois estavam morando na rua, eram usuárias de drogas. Às vezes, nem é o primeiro filho, ela teve outros que estão morando com familiares ou vieram para a Casa”, informou.

A situação psicológica da criança é analisada por profissionais e relatada em ofícios para o juiz da Vara da Infância e da Juventude. Logo quando o menino chega, a assistente social prepara um plano individual de atendimento, que é apresentado ao magistrado.

“Eu visito a casa da genitora e, a partir daí, com a denúncia feita pelo Conselho Tutelar, monto o relatório, que é passado ao juiz. Ele avalia se a criança poderá voltar à família ou será colocada para adoção”, afirmou.

Quando o juiz decide que os pais têm condições para receber a criança de volta, a assistente social faz um trabalho de orientação e encaminha os genitores ao Cras (Centro de Referência de Assistência Social) ou ao Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), onde recebem acompanhamento especializado.

“Enquanto a criança está aqui, eu, como assistente social do abrigo, mostro para a mãe o que está certo, o que está errado e para onde ela deve seguir”, declarou.

No caso de o magistrado decidir que a criança deve ser disponibilizada para adoção, o trabalho é maior, segundo Helena. O menino é preparado por um psicólogo, que trabalha o “luto familiar”, que é um trabalho de preparação para a “construção” de uma nova história com a família da qual fará parte.

“A adoção não é feita do dia para a noite. Tem todo o preparo com a criança. Nós cortamos a visita familiar antes, daí é trabalhado o luto familiar, através das psicólogas”, explicou.

A família que fará a adoção também passa por acompanhamento psicológico, com profissionais do Poder Judiciário.

“Eles precisam participar do Gaata (Grupo de Apoio a Adoção de Tatuí), dar entrada no fórum, e entram no Cadastro Nacional de Adoção. Isso demora alguns meses”, explicou.

Quando estão aptos, começa o trabalho de aproximação com a criança, que se inicia com visitas à Casa do Bom Menino, autorizadas pelo juiz.

“Não falamos de primeira para a criança que o casal vai adotá-la, para não criar expectativas. Eles começam a visitar, como uma visita qualquer. A partir do momento em que surja o interesse, tanto da criança, quanto do casal, começam os trâmites legais”.

Um dos fatores que dificultam a adoção é a preferência por crianças com idade de até três anos. A maior parte dos meninos e meninas com condições para serem adotadas tem idade maior, o que faz a conta “não fechar”.

“A pessoa não liga para a cor da pele, dos olhos ou sexo, mas, quando chega ao quesito idade, quer um bebê, sendo que a maioria é de crianças com idades maiores”, afirmou.

A preferência por bebês advém de que eles não possuem um “passado afetivo”, ao contrário das crianças maiores, segundo a assistente social. Os candidatos a pais adotivos ignoram o trabalho psicológico realizado com os meninos.

A Casa do Bom Menino é sustentada com doações de empresas, pessoas físicas e verbas federais, municipais e com o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, gerido pelo CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente).

“Recebemos bastantes doações, de alimentos, de roupas, brinquedos, produtos de limpeza, leite, sempre estão doando bastante. Tem muita gente que gosta e colabora”, contou.

A doação também é de tempo. Uma cabeleireira da cidade visita a Casa uma vez por mês, para cuidar das madeixas dos garotos. Outros dois voluntários ligados à Central de Penas e Medidas Alternativas também colaboram com a equipe da Casa, formada por sete pessoas.

“Tem um homem que faz serviços gerais e tudo que preciso: cuida da horta, troca lâmpada, passa o rastelo no quintal. E uma moça que vem duas vezes por semana e ajuda com as crianças, como cuidadora”, explicou.

A instituição, de acordo com Helena, funciona como qualquer outra casa, com a diferença do número elevado de crianças. A rotina é de um lar. Todos acordam cedo, vão para a escola e brincam durante a tarde. A noite é reservada para o banho, jantar e assistir às novelas infantis.

“No fim de semana, eles acordam mais tarde, tomam café e brincam o dia todo. Eles são super à vontade aqui, se sentem em casa, que é o objetivo nosso”, afirmou.