Estância à vista

Nesta próxima semana, Tatuí terá oportunidade de receber o 2º Encontro Municipal de Turismo. Trata-se de mais uma – necessária e muito bem-vinda – iniciativa na busca de se alcançar o título de estância – lembrando que a cidade já é MIT (município de interesse turístico).

Entre variados aspectos abordados no primeiro encontro, em maio do ano passado, houve um de grande significado, que foi, finalmente, o reconhecimento unânime de que a cidade precisa investir e apostar em suas “vocações” naturais – com destaque, naturalmente, para a música.

A valorização das peculiaridades de cada região, de cada comunidade, fora apontada – mais uma vez – como o melhor caminho para se bem explorar o turismo – senão o único. E peculiaridade resume-se a “vocação”.

Toni Sando, do São Paulo Convention & Visitors Bureau, esteve à frente de palestra com o tema “destinos” e, de maneira tão clara quanto incisiva, reiterou a necessidade de se considerar e, claro, atender aos interesses dos turistas em potencial.

Com farta experiência na área, Sando lembrou o fato de que, atualmente, o “mundo está conectado” – virtualmente, pelo menos. Contudo, ainda que essa ligação seja digital, ela redunda em consequências reais a partir do momento em que evidencia a semelhança das comunidades ao redor do planeta.

Com isto, ressaltou, por exemplo, que uma lanchonete multinacional (por mais que atraia crianças ansiosas por brinquedinhos e carregue os pais consigo), justamente por se replicar de maneira idêntica em todo lugar, não tem grande apelo turístico.

Isto quer dizer que ninguém se dispõe a viajar a outra cidade somente para comer um sanduíche encontrado em qualquer shopping center.

Nada contra o produto, que serve apenas como exemplo de algo universalizado. Porém, a questão é esta mesma: o universalizado – ou, em outras palavras, aquilo que se encontra em qualquer lugar, sem vínculo à identidade particular de uma região, de algo exclusivo, de uma “vocação”!

Com essa consciência fundamental ao interesse turístico, Sando avançou na certeza de que a maior motivação do viajante coloca-se no lado aposto à mesmice. A maior busca do turista está, exatamente, na novidade, na singularidade, na exclusividade.

O contato com as peculiaridades, sintetizou na ocasião, é tão fundamental porque responde a um desejo primordial do ser humano, reconhecido como “o combate ao ócio”.

Para esclarecer a afirmação, durante a palestra, Sando retomou a própria história da humanidade, observando-a desde o período paleolítico, quando os homens aprenderam a dominar o fogo e, assim, ganharam tempo na rotina diária, antes reservada, apenas, à luta pela sobrevivência.

Com o fogo, o homem dominou a natureza e, a partir de então, deu início aos “eventos”, promovidos no tempo livre dentro das cavernas, onde aconteciam desde a origem da linguagem até o florescer das artes, com as pinturas rupestres.

O “ócio” ainda cresceu devido ao próprio dia ter ganhado “mais tempo”, dado o fato de o fogo iluminar a noite, permitindo a sociabilização dos hominídeos para além do anoitecer.

Histórias – entre as quais, as ancestrais fofocas – ganharam as notícias do dia (vai daí, também, a origem da imprensa). Os relatos instigam a curiosidade, estimulando os ancestrais a conhecerem os lugares antes visitados por seus pares. E, assim, surge outro aspecto fundamental do turismo.

Curiosidade – sobre o novo – e promoção de eventos, portanto, são parte inerentes ao ser humano e, como tal, ao turismo. A primeira não muda, sendo a curiosidade natural ao homem e grande responsável pelas descobertas e pela evolução.

Já a segunda, desenvolveu-se de tal forma que alcançou o poder de transformar completamente toda e qualquer comunidade – ainda que não possua alguma grande peculiaridade.

Exemplo (clássico) foi lembrado pelo palestrante, evocando Las Vegas, nos Estados Unidos, um dos maiores destinos turísticos do mundo, criado sobre um deserto.

No Brasil, iniciativas de sucesso também foram lembradas, como a Oktoberfest, em Blumenau (SC), cujo público costuma somar o dobro de habitantes da cidade, chegando a 500 mil pessoas a cada edição.

Ainda, destacou-se o maior evento brasileiro: o Carnaval carioca, que costuma levar os turistas a deixarem mais de R$ 3 bilhões na cidade do Rio de Janeiro.

Outro aspecto reforçado por Sando foi óbvio: não adianta atrair turistas e maltratá-los, mesmo que o destino tenha muito a oferecer em virtudes peculiares.

Daí a importância de se educar a população tanto para convencê-la de que possui atrativos dignos de visita quanto para “receber bem”, com educação – e, em Tatuí, claro, com “ternura”.

E então, finalmente, destacou-se a privilegiada realidade local, que levou o município a ser reconhecido como “Capital da Música”, “Cidade Ternura” e “Terra dos Doces Caseiros”!

Tornou-se inquestionável, a partir de então, o quanto Tatuí é afortunada, podendo explorar mais de uma vocação, todas com grande potencial. Junto a isto, ainda se vislumbra a possibilidade de agregar as tradições e a cultura caipira regionais, compondo um roteiro também riquíssimo.

Agora, o evento ganha ainda mais corpo, reenergizado pela certeza de que, sim, é possível seguir desenvolvendo o turismo em Tatuí. A despeito do que alguns ainda pensam – que já foram maioria e já não o são mais -, há muito o que fazer – e ser feito – na Cidade Ternura.