Entre esculachar e não fazer nada, docinhos

Várias atitudes são possíveis frente aos desafios naturais da vida – mesmo quando se configuram em crises extraordinárias, como a atual, a envolver saúde, economia e política, tudo ao mesmo tempo.

A se considerar um perfil muito marcante nas redes sociais,  certo é sair dando coice, xingando, caluniando, acusando de tudo quanto é “coisa feia” (“nazista” e “comunista” em particular, mesmo que não se saiba ao certo do que se trata) todo aquele que desagrada por pensar diferente.

Não é o certo, justamente por ser a postura mais contraproducente possível, do tipo que não acrescenta em nada – da mesma forma que nada se aproveita em depreciar a cidade onde se vive, como se nela nada houvesse de bom.

Claro, as críticas – bem intencionadas, obviamente – não apenas devem ser respeitadas, mas incentivadas, pois delas também surgem soluções a partir de pontos de vista distintos, algo totalmente positivo e possível apenas na democracia.

A opção pelo conflito, pela desagregação, pela ofensa gratuita, só faz sentido a quem defende ditaduras ou é candidato a algum cargo público nas eleições seguintes e se encontra na oposição – sim, também lembrando que a oposição bem intencionada (outra coisa vital que somente existe em democracias) é tão importante para a sociedade quanto os próprios governos.

Por outro lado, para quem não é político, restam menos opções, além de não se permitir manipular por proveitos alheios ao efetivo interesse público.

Entre estas opções, estão a de não fazer nada – esperando por um mínimo de melhora na condição geral de calamidades, ou, de repente, seguir tentando contribuir de alguma maneira.

Neste momento, o jornal O Progresso poderia optar por não realizar a tradicional edição comemorativa ao aniversário da cidade – até porque, com praticamente o comércio tendo de se equilibrar entre o terror do vírus e o da falência, fica difícil crer em algum suporte significativo da área de publicidade.

No entanto, buscando distância da virulência verbal e postura “tóxica” da parcela extremista do momento – que fala e agride, mas não costuma produzir nada –, o jornal decidiu por não deixar de cumprir com seu trabalho, que já tem como tradição apresentar aos leitores, periodicamente, alguma novidade.

Com isso, reforça sua crença nas virtudes de Tatuí, destacando, sobretudo, um de seus maiores patrimônios: a tradição dos doces caseiros, a qual rendeu o maior evento turístico já criado na cidade.

Para tanto, em parceria com o jornalista Cristiano Mota, trabalha para a publicação de mais uma edição especial, essa que celebrará os 194 anos de Tatuí.

A pauta estará composta por diversos temas, todos relacionados ao assunto. A reportagem de abertura do caderno terá o histórico da Feira do Doce, detalhando como ela surgiu, os obstáculos vencidos e as primeiras metas alcançadas.

Para tanto, inicia com o trabalho do produtor cultural Jorge Rizek, responsável por incluir programação musical, dar visibilidade e validar a festa como evento gastronômico, comprovando que o turismo sempre foi um potencial a ser explorado pelo município.

Na sequência, demonstrará o aspecto de constante transformação do evento, que ganhou status de feira, já sob a direção do atual secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli.

A mudança incluiu profissionalização dos produtores e estimulou autonomia, com a criação de associação. A reportagem abordará a dinâmica da Feira do Doce, o suporte dado pela administração municipal aos expositores e as ações realizadas pelo poder público para a consolidação do evento.

A terceira reportagem do especial tratará da criação da Aprodoce, os motivos que levaram os produtores a se unirem, as conquistas e as dificuldades ainda a serem superadas.

O texto vai abordar as atribuições da associação, o papel dela na realização do evento e as medidas possíveis considerando-se a interrupção deste ano e o cenário atual.

Outro tema demonstrará como técnicas distintas contribuem para manter viva e financeiramente rentável a tradição doceira, com a evolução da fabricação, a cadeia produtiva que ela movimenta, na cidade e na região, e o alcance dos doces exportados internacionalmente.

Partindo da evolução em números da Feira do Doce em relação a público, também haverá foco no perfil dos consumidores, volume dos doces produzidos e comercializados e o valor movimentado ano a ano. A reportagem tratará da importância do evento para a economia local e para a condição de Município de Interesse Turístico.

A reportagem a fechar o caderno especial apresentará as novidades que estão sendo projetadas para a Feira do Doce. Antes, contudo, relembrará os projetos já concretizados, como a instalação de estandes com informações turísticas e o guia turístico e gastronômico “Tatuí Cidade Ternura”.

Finalmente, ao invés de esculachar ou não fazer nada, mais esta iniciativa do jornal O Progresso tem o objetivo maior de vislumbrar a retomada de uma vida menos anormal, com o empreendedorismo redobrado, além de apostar em um pouco mais de doçura, algo que a nós todos está fazendo tanta falta.