Empreender para sobreviver





A mais recente pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), publicada no ano passado e feita no país pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), demonstrou que o Brasil é o pais mais empreendedor do mundo.

Considerando-se que o empreendedorismo é o combustível mais eficiente do desenvolvimento econômico, surge a questão: por que estamos fora da estabilidade, desgovernados numa via que parece não ter fim em obstáculos e acidentes?

Sustentam os “especialistas” que a atual turbulência é fruto de uma crise econômica externa, somada a uma crise econômica interna e, especialmente, a uma crise política nacional.

Junto a isto, existe o fato de que, se sobra ímpeto e iniciativa aos empreendedores brasileiros, falta preparação para os novos negócios, com estudos e planejamentos. Daí o grande número de negócios abertos e, em seguida, fechados.

Não fosse isso, os próprios brasileiros poderiam contribuir muito mais com a recuperação da economia, menos sujeitos aos atrapalhos gerados na instância política.

Neste ponto, destaca-se o Sebrae, o qual, na medida do possível, tem sido o grande responsável por uma nova geração de empreendedores, menos aventureiros e mais instrumentados para a gestão de seus futuros negócios.

Mas, o aspecto principal da pesquisa, que começou em 1999 com dez países e, desde então, chegou a cem nações: ela apurou que três em cada dez brasileiros adultos, entre 18 e 64 anos, possuem uma empresa ou estão envolvidos com a criação de um negócio próprio.

Em dez anos, a taxa total de empreendedorismo no Brasil aumentou de 23%, em 2004, para 34,5%. Metade desses empreendedores abriu seus negócios há menos de três anos e meio. Em 2014, a pesquisa atingiu 75% da população global e 90% do produto interno bruto (PIB) mundial.

No Brasil, foram entrevistadas 10 mil pessoas de 18 a 64 anos, das cinco regiões. Na comparação mundial, o país se destacou com a maior taxa de empreendedorismo, quase oito pontos porcentuais à frente da China, o segundo colocado, com taxa de 26,7%.

O número de empreendedores entre a população adulta no país é também superior ao dos Estados Unidos (20%), Reino Unido (17%), Japão (10,5%) e França (8,1%). Entre as economias em desenvolvimento, a taxa brasileira é superior à da Índia (10,2%), África do Sul (9,6%) e Rússia (8,6%).

Ainda de acordo com a pesquisa, ter o próprio negócio é o terceiro maior sonho do brasileiro, atrás da casa própria e de viajar pelo país. O número de pessoas que almejam se tornar o próprio chefe é de 31%, praticamente o dobro das que desejam fazer carreira em alguma empresa (16%).

A pesquisa ainda revelou que, de cada cem brasileiros que começam um negócio próprio, 71 são motivados por uma oportunidade e não pela necessidade. Esse índice implica diretamente na qualidade do empreendedorismo.

Sobre este aspecto, a crise desdobra-se em efeito nocivo, uma vez que o investimento em algo pela oportunidade – quando o empreendedor identifica uma possibilidade de negócio por carência de mercado, por exemplo -, acaba perdendo espaço para o empreendedor, digamos, “corda no pescoço”, que abre uma empresa porque perdeu o emprego e precisa pagar contas – algo com potencial de insucesso muito maior.

A despeito disto e da crise, o próprio Sebrae chegou a divulgar que, mesmo com a contração da atividade econômica do país, a entidade acredita ser possível o segmento da pequena empresa continuar crescendo neste ano.

“O segmento não é uma ilha, mas tem demonstrado força para enfrentar essas crises, principalmente no comércio e serviços”, divulgou a entidade.

Como exemplo do vigor dos pequenos negócios, observa-se a geração líquida de 3,5 milhões de empregos entre 2011 e 2014, enquanto as grandes e médias empresas tiveram saldo de 200 mil vagas fechadas. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Por sua vez, especificamente em Tatuí, onde a crise não é menor e acabou afetando particularmente algumas grandes empresas, também os novos e pequenos negócios podem representar fôlego para o mercado de trabalho.

Na semana passada, inclusive, O Progresso publicou reportagem mostrando que, sem perspectiva de retornarem aos antigos postos de trabalho, metalúrgicos dispensados pelas grandes indústrias do município estão buscando novas possibilidades de renda.

Conforme informou o diretor do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Marcos Bueno, essas oportunidades têm surgido exatamente por meio das pequenas empresas.

De acordo com ele, as contratações feitas por microempresários estão sendo maiores que as registradas por indústrias com mais de 200 empregados. Exemplo disto é uma fabricante de produtos voltados aos animais de estimação, em fase de operação há dois meses.

“Ela está estabelecida no Jardim Aeroporto, e contratando. Vai chegar a 60 funcionários”, disse Bueno. “O investidor falou que este momento está sendo muito bom pra ele. Está pegando pessoas do setor da indústria que trabalhavam com os mesmos equipamentos e que, portanto, não precisam de treinamento”.

O mesmo estaria ocorrendo com as empreiteiras que prestam serviços para empresas maiores. Dessa maneira, as microempresas atendem à mão de obra fora do mercado. Bueno disse que isso reduz os efeitos do “momento econômico”.

Para ele, o período mais crítico a ser enfrentado tanto pelos trabalhadores como pelos empresários se dará entre os meses de abril e setembro. A partir de outubro, a tendência é que as empresas comecem a se recuperar e a recontratar.

Para os metalúrgicos, a previsão é de que eles voltem aos postos de trabalho – muitos deles, conforme o diretor, nas mesmas empresas.

No geral, entretanto, quem não consegue recolocação no momento está partindo para a formalização de negócio próprio. Bueno afirmou que deve haver elevação do número de pequenas empresas, estimuladas por órgãos como o Sebrae.

Na prática, a própria sociedade cuida de enfrentar a crise com mais criatividade e competência que os governos. E isso sem apoio efetivo. Pelo contrário: com carga tributária escandalosa, falta de incentivos e burocracia irracional.

É de se imaginar em que “posição” estaria o Brasil no mundo caso fosse governado muito mais a partir de um projeto de nação democrática e civilizada que (des) governado por conta de projetos de poder partidários.