Em depoimento, famílias relatam agonias vividas pelos parentes





Familiares de pessoas internadas na clínica interditada por autoridades municipais nesta semana prestaram depoimentos na Delegacia Central entre a quarta-feira, 16, e a quinta-feira, 17. De acordo com o delegado titular do município, eles confirmaram os relatos de maus-tratos feitos pelos pacientes.

A reportagem de O Progresso teve acesso a dois dos mais de dez depoimentos prestados. Eles são da mãe de um interno, uma mulher de 54 anos, e de uma avó de um paciente, de 58.

No primeiro, a dona de casa, moradora do Jardim Gonzaga, contou que escolheu a clínica por ter tido referência. No segundo, a avó não fez menção sobre como chegou ao nome da clínica.

A dona de casa contou que, por conta do uso de entorpecentes, o filho estaria com depressão. Ele também permanecia “muito tempo trancado no próprio quarto”.

Na tentativa de ajudá-lo, ela e o marido resolveram interná-lo para reabilitação. Os dois escolheram a “Liberdade de Vida”, uma vez que conheceram pessoas na igreja que já haviam passado por ela em tratamento.

A mulher disse que acreditava que a clínica fosse séria, mas começou a desconfiar dos métodos depois de visitar o filho. O encontro aconteceu após um período de internação.

Ela afirmou que “achou estranho que, na visita, sempre havia a presença de um monitor”. Tempos depois, verificou que ele acompanhava a visita para “não deixar o interno reclamar para a família”.

O filho dela teria contado, posteriormente, que quem conseguia se queixar acabava sendo punido.

De acordo com a dona de casa, o filho teria confirmado que havia permanecido na sala de contenção pelo período de cinco dias. Ele teria dito que, durante o período, sofrera agressões por parte de monitores.

Comentou que eles costumavam despi-lo depois de aplicar golpe conhecido como “gravata”. A mãe disse que ficou preocupada depois de saber que os monitores teriam soltado o filho somente quando notaram que ele “estava desfalecendo”.

Ela contou, em depoimento, que o filho continuava com medo de relatar os fatos. A dona de casa, entretanto, disse que decidiu procurar a Polícia Civil para contar a verdade, pois “achou o cúmulo procurar atendimento especializado para o filho sem saber que barbaridades aconteciam na clínica”.

A mulher pagou R$ 700 como taxa de internação e entregava, mensalmente, na clínica, um “benefício” de R$ 580 para o filho. Também afirmou que o gasto com o tratamento passava de R$ 1.000 por mês e que o proprietário do local havia ficado com os documentos pessoais do interno.

Já a avó de outro paciente disse que ele fora levado ao local depois de ter problemas com drogas. O neto trabalhava numa empresa e também teria tido documentos retidos pelo dono.

A avó disse que pagou taxa de R$ 800 pela internação e que, por mês, repassava à clínica a quantia de R$ 1.200.

Contou, ainda, que o proprietário da Liberdade de Vida teria sacado R$ 1.562 de rescisão trabalhista que havia sido depositada pela empresa em benefício do internado.

Desse valor, R$ 200 teriam sido repassados ao neto – para que ele pudesse “tomar cerveja” antes de ser internado. O restante teria ficado com a clínica, para pagamento de despesas decorrentes da permanência do paciente em recuperação.

A Polícia Civil já indiciou o proprietário pelo crime de apropriação indébita. Conforme o delegado titular do município, José Alexandre Garcia Andreucci, o crime é agravado porque os pacientes não estavam em condições de contestar o saque de repasses, pagamentos, ou demais benefícios.