Doçura, música e ternura do caipira

“Vocação”. Entre variados aspectos abordados no 1º Encontro Municipal de Turismo, promovido nesta terça-feira, 8, a valorização das peculiaridades de cada região, de cada comunidade, foi apontada – mais uma vez – como o melhor caminho para se bem explorar o turismo – senão o único. E peculiaridade resume-se a “vocação”.

Toni Sando, presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau, esteve à frente de palestra com o tema “destinos” e, de maneira tão clara quanto incisiva, reiterou a necessidade de se considerar e, claro, atender aos interesses dos turistas em potencial.

Com farta experiência na área, Sando lembrou o fato de que, atualmente, o “mundo está conectado” – virtualmente, pelo menos. Contudo, ainda que esta ligação seja digital, ela redunda em consequências reais a partir do momento em que evidencia a semelhança das comunidades ao redor do mundo.

Com isto, ressaltou, por exemplo, que uma lanchonete multinacional (por mais que atraia crianças ansiosas por brinquedinhos e carregue os pais consigo), justamente por se replicar de maneira idêntica em todo lugar do planeta, não tem grande apelo turístico.

Ou seja, o argumento é que ninguém se disporia a sair de casa, pegar o carro, ônibus, navio ou avião para dirigir-se a outra cidade somente para saborear dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim.

Nada contra o sanduba, naturalmente – que aqui figura apenas como exemplo de produto universalizado. Porém, a questão é esta mesma: o universalizado, o onipresente, pode até ser ótimo, mas nem por isto deixa de representar o antônimo da identidade particular de uma região, de algo exclusivo, de uma “vocação”!

Com essa consciência fundamental ao interesse turístico, Sando avança na certeza de que a maior motivação do viajante coloca-se no lado aposto à mesmice. A maior busca do turista está, exatamente, na novidade, na singularidade, na exclusividade.

O contato com as peculiaridades, ele sintetiza, é tão fundamental porque responde a um desejo primordial do ser humano, reconhecido como “o combate ao ócio”.

Para esclarecer a afirmação, durante a palestra, Sando retomou a própria história da humanidade, observando-a desde o período paleolítico, quando os homens aprenderam a dominar o fogo e, assim, ganharam tempo na rotina diária, antes reservada, apenas, à luta pela sobrevivência.

Com o fogo, o homem dominou a natureza e, a partir de então, deu início aos “eventos”, promovidos no tempo livre dentro das cavernas, onde aconteciam desde a origem da linguagem até o florescer das artes, com as pinturas rupestres.

O “ócio” ainda cresceu devido ao próprio dia ter ganhado “mais tempo”, dado o fato de o fogo iluminar a noite, permitindo a sociabilização dos hominídeos para além do anoitecer.

Histórias – entre as quais, as ancestrais fofocas – ganharam as notícias do dia (vai daí, também, a origem da imprensa). Os relatos instigam a curiosidade, estimulando os ancestrais a conhecerem os lugares antes visitados por seus pares. E assim surge outro aspecto fundamental do turismo.

Curiosidade – sobre o novo – e promoção de eventos, portanto, são parte inerentes ao ser humano e, assim, ao turismo. A primeira não muda, sendo a curiosidade natural ao homem e grande responsável pelas descobertas e evolução.

Já a segunda, desenvolveu-se de tal forma que alcançou o poder de transformar completamente toda e qualquer comunidade – ainda que não possua alguma grande peculiaridade.

Exemplo (clássico) foi lembrado pelo palestrante, evocando Las Vegas, nos Estados Unidos, um dos maiores destinos turísticos do mundo, criado sobre um deserto.

Claro, segue o exemplo do parque da Disney – ao lado de um pântano cheio de jacarés –, fora tantos outros, como uma cidadezinha que ganha pelo fato de estar na rota de furacões, também nos EUA, e de uma comunidade no Japão, que investiu em um concurso de fotografias de flores e acabou tornando os visitantes a maior fonte de recursos.

No Brasil, iniciativas de sucesso também foram lembradas, como a Oktoberfest, em Blumenau (SC), cujo público costuma somar o dobro de habitantes da cidade, chegando a 500 mil pessoas a cada edição.

Ainda, evidentemente, destacou-se o maior evento brasileiro: o Carnaval carioca, o qual, apesar de tido como uma festa do diabo pela administração municipal, costuma levar os turistas a deixarem mais de R$ 3 bilhões na cidade do Rio de Janeiro – nada pouco, especialmente para o povão, que tem contas a pagar e é forçado a sobreviver entre o céu e o inferno na Cidade Maravilhosa.

Outro aspecto reforçado por Sando é óbvio: não adianta atrair turistas e maltratá-los, mesmo que o destino tenha muito a oferecer em virtudes peculiares. Daí a importância de se educar a população tanto para convencê-la de que possui atrativos dignos de visita quanto para “receber bem”, com educação – e, em Tatuí, claro, com “ternura”.

E então, finalmente, convém o questionamento: quantas comunidades podem ser identificadas como a “Capital da Música”, “Cidade Ternura” e “Terra dos Doces Caseiros”? Nenhuma!

Mais: quanto custaria, em termos de marketing, a conquista e a manutenção de apenas um desses títulos? Fortunas!

Tatuí é muito bem-aventurada, portanto, podendo explorar mais de uma vocação, embora todas com imenso potencial. Junto a isto, ainda vislumbra possibilidade de agregar as tradições e a cultura caipira regionais, compondo um roteiro também interessantíssimo.

Entre tantas opções e oportunidades, certo é que a cidade, se quer mesmo consolidar-se como município de real interesse turístico, precisa reconhecer e investir em suas vocações – além de se educar para o “bem receber”.

Tatuí pode se tornar, verdadeiramente, um grande atrativo no cenário nacional se suas autoridades e a população passarem a vivenciar particularmente a música em outro patamar – mesmo que nunca tendo posto a mão em algum instrumento.

A música em Tatuí – mesmo também sendo esta a Terra dos Doces Caseiros e a Cidade Ternura – nunca será demais. Nunca! Pelo contrário, é preciso fazer a música ecoar mais e mais, em todas as situações e momentos possíveis. É por aí que o futuro deve tocar, afinado entre toda a população e dando o tom turístico à nossa maior vocação.