Déficit da Santa Casa decai em R$ 70 mil e eletivas são normalizadas





Arquivo O Progresso

Previsão de empresa de gestão hospitalar é melhorar a arrecadação do hospital com recursos do PS

 

O montante da dívida acumulada pela Santa Casa de Tatuí decaiu. É o que apontou a O Progresso o responsável pela empresa contratada para gerir as contas do hospital, frei Eurico Aguiar e Silva (Frei Bento). Em entrevista ao bissemanário, ele divulgou diagnóstico prévio da situação financeira da entidade.

Pelos cálculos do religioso, a São Bento Saúde registrou redução de R$ 70 mil no déficit, tornado público pelo diretor tesoureiro do hospital, João Prior. Em junho deste ano, ele revelou ao jornal que a Santa Casa acumulava R$ 18 milhões em dívidas, contraídas ao longo da existência da instituição.

O valor economizado pela empresa especializada em administração hospitalar representa 0,38% do total da dívida. Além da redução, Frei Bento informou que o hospital conseguiu retomar a realização das cirurgias eletivas, suspensas em setembro.

Para o próximo mês, a expectativa é de que o hospital tenha incremento nas finanças. Isso porque a Santa Casa passou a gerenciar a administração do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”.

O Executivo transferiu oficialmente a gestão para o hospital – que é administrado por empresa particular – em evento no paço municipal, na manhã de sexta-feira, 2.

Frei Bento explicou que a administração do PS constou como principal exigência para a formalização do primeiro contrato (de gestão da Santa Casa).

Na época das negociações com o hospital e o Executivo, o religioso disse que apresentou essa condição para que pudesse trazer equipe para o município.

“Eu sabia que a gestão do ambulatório dentro da Santa Casa iria nos ajudar a equilibrar a receita e a despesa do hospital, porque temos um custo fixo, e esse custo fixo eu poderia usar também para manter o pronto-socorro”, argumentou.

A lógica está em administrar o dinheiro repassado pela Prefeitura para os custos das contratualizações e do hospital. O Executivo mantém três contratos com a Santa Casa.

O primeiro serve ao atendimento de pacientes SUS (Sistema Único de Saúde); o segundo, para pagamento de médicos para retaguarda (plantão à distância); e o terceiro, para pagamento de médicos do PS.

Com a transferência de gestão, esse último valor – que é mensal – será administrado totalmente pela Santa Casa. Até então, os recursos eram encaminhados à administração do hospital com finalidade específica. Portanto, não poderiam ser aplicados em outra função que não o pagamento de pessoal.

“O prefeito está repassando o recurso total para a Santa Casa e, como a gestão é minha, nossa equipe pode gastar da melhor forma possível”, disse Frei Bento.

De acordo com ele, a mudança de administração vai trazer “melhorias nos serviços da Santa Casa”. Frei Bento também descartou riscos para o hospital, uma vez que não haverá aplicação de recursos da Santa Casa para manutenção do pronto-socorro. “Só a gestão do dinheiro será feita”, enfatizou.

A ideia é maximizar os recursos, a começar pelo serviço de telefonia. Frei Bento disse que uma das primeiras ações será unificar o atendimento telefônico.

“A Prefeitura passa esse recurso específico, mas eu não preciso de dois serviços de telefonia (um para a Santa Casa e um para o PS). Então, eu consigo investir esse dinheiro em outra coisa dentro da área da saúde”, afirmou.

Por conta da mudança na administração e da expectativa de economia, a São Bento Saúde decidiu reformular o atendimento no ambulatório. O responsável pela empresa explicou que não houve prejuízos à população, mas confirmou que o ambulatório não conta mais com pediatras.

“Os médicos que ficavam lá não ficam mais. Agora, nós temos só os clínicos e os especialistas que dão retaguarda na Santa Casa”, descreveu.

O atendimento no ambulatório é feito por oito clínicos gerais, divididos em dois períodos de 12 horas (manhã e noite). “Eles se revezam em turnos”.

De acordo com ele, a decisão de retirar o profissional “segue uma tendência”. Frei Bento argumentou que os hospitais, de modo geral, estão encontrando dificuldades em contratar especialistas. Entre eles, pediatras.

“Eles (os profissionais) estão cada vez mais escassos. Os médicos não querem mais fazer residência em pediatria. Então, a grande maioria das entidades que não os encontra está fazendo da mesma forma, mantendo o atendimento por meio de uma equipe de urgência e emergência, primeiro”, sustentou.

Dessa forma, as crianças encaminhadas ao pronto-socorro passam, numa etapa anterior, pela avaliação dos clínicos. Em caso de necessidade, são atendidas pelos pediatras que atuam dentro da Santa Casa, mediante avaliação.

O modelo atual é considerado ideal pelo responsável pela São Bento Saúde. Ele também informou que manterá contrato com a empresa que fornece os profissionais. E acrescentou que o hospital ainda está verificando o caso do falso médico que atuou no ambulatório entre 2014 e este ano.

“Abrimos uma sindicância interna e estamos analisando a questão. Todos os documentos estão sendo verificados pelos nossos departamentos”.

Em agosto deste ano, a direção do pronto-socorro confirmou ao jornal denúncia recebida. A informação dava conta de que um falso médico, envolvido em esquema de aliciamento de pessoas para trabalhar em cidades do interior paulista, atuara no ambulatório local.

Dados obtidos extraoficialmente pela reportagem apontam que Bertino Rumarco da Costa preencheu fichas de atendimento e assinou receituários com outro nome. Em Tatuí, ele teria se identificado como Naas Adonai Carvalho de Assis. O registro pertenceria a um médico de Santa Catarina.

Conforme informações repassadas à reportagem, o suposto farsante foi detido na cidade mineira de Caratinga, no Vale do Rio Doce. Ele também teria atuado em Franca, num esquema que vem sendo divulgado em âmbito nacional.

Costa é apontado como aliciador do esquema de falsos médicos que atuavam nas cidades do interior. Ele acabou detido no início de agosto, durante a Operação Placebo, realizada em Minas Gerais.

Em Tatuí, além do pronto-socorro, há informações de que Costa teria atendido em duas UBSs (unidades básicas de saúde). O suspeito será ouvido em depoimento em Mairinque.

As reclamações registradas com relação ao caso e as demais, ligadas ao atendimento do ambulatório, estão sendo recebidas pela Santa Casa. Os registros de queixas podem ser encaminhados para o frei, ou para a provedoria.

 
Obrigações em dia

À reportagem, o prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, enfatizou que o Executivo vai “continuar cumprindo com as obrigações”.

Ele destacou que a Prefeitura repassará o dinheiro referente ao pagamento dos funcionários e enviará, também para o hospital, todos os valores usados no custeio.

Conforme ele, os recursos servirão para “contrabalancear” a perda de arrecadação do hospital. A Santa Casa deixou de receber, desde o ano passado, R$ 300 mil por mês com o fim do contrato de atendimento junto à Unimed.

Também com o PS, o hospital poderá viabilizar o credenciamento de novas operadoras de saúde. Os convênios médicos são apontados pelo prefeito como a solução economicamente mais viável para garantir a “sobrevida do hospital”.

“A Santa Casa não vai fechar as portas, e nós, como nos propusemos na campanha (das eleições municipais, em 2012), não vamos fechar o pronto-socorro. Estamos, com isso, melhorando em muito a gestão dele”, acrescentou.

Da mesma forma que o modelo de gestão compartilhada, a administração dos recursos enviados pela Prefeitura para manutenção do ambulatório serão auditados.

Manu afirmou que a Prefeitura continua tendo controle sobre a aplicação do dinheiro e para verificar se ele está permitindo atendimento.

A fiscalização se dá por meio da Secretaria Municipal da Saúde, que coordena comissão municipal. Os membros verificam os repasses mensalmente.