Concha fechada





Notícia veiculada por O Progresso no meio de semana, de que a Concha Acústica poderá ser fechada à noite, rendeu opiniões contra e a favor –naturalmente. Muitas foram expressas pelas redes sociais, na internet.

Prevista para terminar em dezembro, a reforma da Concha Acústica Municipal “Maestro Spártacco Rossi” teve prazo de conclusão estendido. O motivo são os ajustes no projeto original, avaliado pela Prefeitura no momento. Entre eles, a possibilidade de o espaço ser totalmente fechado com gradil.

De acordo com o secretário municipal da Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura, José Roberto do Amaral, o Executivo estuda a possibilidade. “Só não dou 100% de certeza porque faltam algumas adequações”, afirmou.

A secretaria precisa definir, antes de decidir pelo total fechamento, se há “viabilidade técnica”. Para isso, está providenciando estudos junto ao Corpo de Bombeiros. A intenção é evitar problemas na dispersão do público em caso de necessidade.

“É preciso avaliar detalhes técnicos, porque, a partir do momento em que você fecha os espaços, precisa ter áreas de escape”, argumentou o titular da pasta.

Segundo ele, caso a Prefeitura decida pelo fechamento – mantendo sete acessos existentes –, ele poderá acontecer em paralelo às obras de reforma.

“Não necessariamente temos de fechar a Concha quando estivermos quase terminando. Podemos fechar antes, até para evitar danos nessa ‘fase imediata’”, avaliou.

Entretanto, Amaral disse que a instalação das grades precisa ocorrer antes de março. O prazo é necessário para que a Prefeitura possa encomendar o gradil e para que ele seja entregue a tempo da conclusão, prevista para o final de abril.

Conforme ele, o tempo é necessário para que a empreiteira termine todas as quatro etapas da construção. A primeira delas diz respeito à estrutura da Concha Acústica.

Ela está recebendo tratamento de impermeabilização nas lajes e reforço com cimento nas vigas de concreto, além da colocação de novo reboco.

A segunda está relacionada à ampliação e novos acessos aos camarins e às salas de apoio; construção de novos banheiros e de um novo acesso ao palco, localizado em paralelo à rua Nhô Nhô da Botica; e de rampas para facilitar a entrada dos deficientes físicos. Pelo projeto, o palco não terá mais degraus.

Na terceira etapa da reforma, o projeto contempla melhoria dos banheiros públicos. O secretário disse que pretende atender às especificações obrigatórias, previstas na “Lei de Acessibilidade”, com a criação de rampas.

A última etapa é a reorganização e a melhoria da iluminação, por meio da troca de postes e substituição de lâmpadas. Em paralelo, existe a possibilidade de fechamento da praça Antônio Prado, que abriga a Concha, e a troca de todo o piso do espaço, além da reposição, se necessário, de bancos externos.

Mesmo em caso de possível fechamento, Amaral citou que o espaço será aberto à população durante todos os dias. Também adiantou que a Prefeitura deverá manter as passagens existentes e permitir que o público “continue aproveitando o espaço”.

“A única benfeitoria é que, à noite, ela será fechada, para evitar depredações”, alegou. Também de acordo com o secretário, o fechamento permitirá “maior controle do público”.

Em caso de eventos, o Executivo terá “condições de garantir segurança de quem frequentar o local”, uma vez que isso facilitará revistas pessoais.

“Esta é uma visão para darmos mais qualidade em termos de conservação para as pessoas. A ideia é que quem for à praça vai ter um local limpo e com banheiros funcionando”, comentou. Conforme ele, o município sofre com problemas de depredação e pichação.

Segundo o secretário, o projeto de reforma não propõe mudança na arquitetura da praça e da própria Concha Acústica.

Amaral informou que as alterações “necessárias” se limitaram a mudanças internas nos camarins e nos banheiros destinados aos artistas e convidados que se utilizarem do palco.

“Não é nada que apareça a olho nu. Mas, por exemplo, fizemos a impermeabilização da cobertura e reforma dos banheiros públicos, que poderão ser notados por quem frequentar o espaço após a inauguração”, comentou.

De modo a manter os locais conservados, especialmente os banheiros, o secretário disse que a Prefeitura deve estudar uma maneira de controlar o acesso. A intenção é manter monitoramento, para controlar a entrada e saída de pessoas.

“Queremos ver se a gente consegue manter o local em ordem, já que, nos banheiros públicos oferecidos (na Praça da Matriz), percebemos que há vandalismo”.

Amaral disse que este é um problema sério da municipalidade e de difícil resolução, já que as depredações envolvem, na maioria das vezes, menores de idade. “Como não há uma lei que penalize, é difícil controlar”, argumentou.

A medida não seria original. Há inúmeros espaços públicos país afora fechados à noite, sob a mesma justificativa: segurança e preservação.

Assim, que vá mais uma entre as incontáveis opiniões que todo mundo agora dá e ninguém escuta: para uma situação, resolve; para a outra, não.

A falta de segurança pública teria melhor solução com a abertura de (boas) escolas, não com o fechamento de outros equipamentos públicos. Se o tráfico, que estimula e sustenta em grande parte o problema, não acontecer num determinado lugar, ele migra para outro. Se o drogado não pode se matar aos poucos na Concha, ele vai padecer com a doença dele em outro canto. Problema sem solução. Simples.

Pelo outro aspecto, seja por estímulo de entorpecentes ou não, quando o vandalismo dilapida o patrimônio público, o custo das reformas recai sobre toda a população, especialmente sobre a que usa o tempo para trabalhar, não para cometer crimes ou se drogar.

Portanto, fechar, neste sentido, seria o mesmo que todos fazemos com nossas casas, em prevenção a possíveis perdas e danos. Isto se torna ainda mais imprescindível quando gastamos em reformas, ou mesmo em uma nova construção.

Entre as duas questões, a tendência é que os espaços públicos – não apenas aqui – sejam cada vez mais lamentável e compreensivelmente fechados. Triste, mas solução menos ruim não se encontra nem em meio à infinita sapiência transmitida na “net”…