Coleção de ‘loucos por carros’ soma 300





Em funcionamento desde 2009 e com acervo que ultrapassa os 300 veículos, o Antigomobilismo Clube de Tatuí reúne os amantes dos carros de época, que circulavam pelas ruas da cidade nas décadas passadas.

O acervo numeroso é composto por cerca de 250 carros e picapes e 50 motocicletas. Dois caminhões também compõem a lista de raridades, segundo o presidente do clube, Afonso Celso Fiusa.

Na fundação em 11 de agosto de 2009, o Clube possuía 12 associados. Atualmente, são 35 pessoas participantes das reuniões mensais, que acontecem nas terceiras terças-feiras do mês. Entre os associados, estão tatuianos e moradores de cidades vizinhas.

A procura pelo clube advém da necessidade de se associar a um para conseguir o certificado de originalidade para veículos antigos, conhecido como “placa preta”.

Apesar de ser numeroso o número de associações de proprietários de carros antigos, nem todas são filiadas à Federação Paulista de Carros Antigos e à Federação Brasileira de Carros Antigos.

A filiação é necessária para que o Clube consiga fazer a vistoria e entrar com a documentação para a obtenção da placa preta. Segundo Fiusa, o certificado não dá status nem valoriza o veículo, porém, atesta a originalidade do carro ou da moto.

O documento é concedido a veículos que mantenham 80% ou mais de originalidade. O laudo é feito por membros do clube e submetidos ao crivo técnico da federação. O custo para obter o certificado é de R$ 250.

“Nós fazemos a inspeção, tiramos fotos do veículo e montamos um dossiê, que é enviado à federação, que emite o certificado. Ele é numerado e cadastrado no Denatran (Departamento Nacional de Trânsito)”, explicou.

Podem obter o certificado veículos com 30 anos ou mais de fabricação. Entre os que podem receber a placa preta, estão as primeiras scooters Vespa Piaggio, fabricadas no Brasil, do ano de 1986.

“Muita gente procura o clube para obter a placa. A federação não emite certificado para pessoa física, só para os clubes. Então, precisa se associar”, explicou.

Para se associar, o candidato precisa apresentar uma carta escrita de próprio punho, manifestando interesse, informando o contato e dados para correspondência.

O clube envia uma cópia do estatuto e a ficha de filiação. Entre os custos, estão a “joia” (título), que custa um salário mínimo (R$ 880), e a mensalidade de R$ 50.

Nas reuniões, os associados conversam sobre os carros, onde obter peças e trocam informações sobre mecânicos especializados em carros antigos.

A paixão por automóveis antigos move os associados, diz Fiusa. Mesmo quando o certificado é conquistado, o colecionador sempre procura aumentar o percentual de originalidade.

O próprio presidente é exemplo. Depois de conseguir a placa preta para uma picape, Fiusa desmontou a caminhonete inteira para verificar quais componentes não eram originais.

No exame, achou botões que não eram do modelo e uma borracha de Fusca, que fora adaptada em uma das portas. As peças substitutas foram conseguidas nos EUA.

“Quando montei, procurei trazer o máximo de originalidade para ela, apesar de ter peças fabricadas recentemente, mas são réplicas”.

Já as motocicletas começaram a fazer parte dos colecionadores de uns tempos para cá, contou Fiusa. As motos, além de custarem menos que os carros de época, têm peças mais fáceis de serem encontradas.

Outro ponto positivo para as motos é a economia de espaço. Um dos membros do clube possui acervo de 45 veículos. Como os carros antigos têm a fama de serem grandes como “banheiras”, o espaço para guardar e proteger os clássicos precisa ser grande.

“No espaço de um (Chevrolet) Impala, que tem 5,5 metros, você guarda seis motos. Você não precisa ter espaço grande para ter várias motos”, observou.

Entre os carros antigos, os veículos nacionais são mais valorizados que os importados, segundo Fiusa. A dificuldade em achar peças e a escassez de informações faz com que os acessórios sejam caros.

Entre os importados, principalmente os dos EUA, a situação é diferente. Os norte-americanos têm o hábito de preservar os carros, que consideram como parte da história do país. Por sua vez, as montadoras e as fábricas de autopeças continuam abastecendo o mercado com peças de veículos antigos.

“Se quiser montar um carro antigo com peças novas, fabricadas agora, a pessoa consegue montar qualquer tipo de carro. Hoje, a gente traz tudo dos EUA”.

Com o mercado abastecido constantemente, os preços das peças caem, confirmando a “lei da oferta e da procura”. Um par de lanternas de Dodge SE 1973 é encontrado, com muita dificuldade, no mercado nacional, por R$ 3.000.

Um jogo completo de lanternas de um Chevrolet 1956, carro quase 20 anos mais velho, é importado dos EUA por R$ 1.100, mesmo com as taxas de importação “exorbitantes”.

O ideal, opina Fiusa, seria que as montadoras cedessem os dados dos carros antigos para facilitar a vida dos colecionadores, o que acontece nos EUA. Os pedidos da Federação Brasileira às montadoras esbarram nas hierarquias das multinacionais.

“A Volkswagen, por exemplo, para conseguir um manual do Karmann-Guia, o pedido vai parar na mão do presidente. Acha que ele vai se preocupar em liberar o manual na internet? Eles não têm essa consciência. Infelizmente, é difícil”, lamentou.

Apesar das dificuldades, o prazer em colecionar carros antigos está justamente na paixão de deixar o veículo mais perfeito possível, segundo Fiusa.

Na busca pela perfeição, o clube mantém, na sede, um acervo com edições das décadas de 1960, 1970 e 1980 de revistas “Quatro Rodas”, do segmento automotivo.

Os associados podem consultar as revistas para verificar se determinado acessório é original do carro ou foi colocado por algum antigo proprietário. O clube também oferece suporte técnico e jurídico.

“Todos participam dos eventos, dos passeios, têm os ‘raids’, que fazemos uma vez por ano, que juntam os carros, as famílias, os amigos, e saímos para passear, além das exposições”, comentou.

Entre os eventos, no mês de agosto, os associados promovem um encontro de carros antigos, o Tatuí Classic Cars. Na primeira edição, realizada no ano passado, a exposição aconteceu na avenida Salles Gomes.

“Conseguimos expor aproximadamente 130 carros, com nível muito bom. No dia do evento, passaram 1.500 pessoas. A gente fez uma campanha de alimentos, e arrecadamos quase 400 quilos”, contou.

Para este ano, o clube programa nova edição do Tatuí Classic Cars. O local ainda está indefinido. A arrecadação de alimentos para entidades, no entanto, é certa.