‘Clandestinos’ prejudicam mototaxistas





A atividade dos mototáxis vive um momento que pouco lembra a “era de ouro” dos anos 1990 e início dos 2000. O número de corridas em queda e a concorrência dos “clandestinos” têm provocado êxodo dos motociclistas das agências, que estão com quadros reduzidos.

O aperto da atividade começou há cerca de um ano, segundo os proprietários de agências. O movimento caiu drasticamente, entre 70% e 80%. Com o número de corridas baixo, os motoqueiros têm duas opções: sair da agência e virar clandestino ou trocar de profissão.

A primeira opção tem incomodado os donos de agência. Sem regularização, os mototaxistas clandestinos não pagam impostos e não têm custos como aluguel e telefone, de acordo com a proprietária da agência Concha Ivone, Ivone Mariano.

“Eles atrapalham que vocês não fazem ideia. Eles ficam nas ruas principais, onde tem bastante movimento, e usam coletes iguais às das agências, o que pode confundir o cliente”, reclamou.

Os pontos onde os mototaxistas clandestinos ficam, segundo a empresária, localizam-se no Mercado Municipal e na rua 11 de Agosto. “Só na vila Angélica, aqui perto da minha agência, tem umas três agências clandestinas”.

A proprietária reconheceu que o incômodo com os clandestinos aumentou à medida que o mercado esfriou. “Antigamente, tínhamos mais de 1.300 corridas por dia. Conforme foi aumentando o número de agências, a divisão foi diminuindo. Hoje, não passa de 300 corridas diárias”, disse Ivone.

Nos tempos de maior atividade, o número de motos na agência de Ivone era de 60, sendo que 45 delas rodavam durante o dia e as outras 15, à noite. Atualmente, o número total é 25, dia e noite.

O número de mulheres também foi afetado com a crise. Antes, era mais frequente ver mototaxistas do sexo feminino circulando pelas ruas, o que é raro no momento.

No caso da agência de Ivone, dos 25 profissionais, dois são do sexo feminino. Em outra agência da cidade, a São Judas, não há mulheres no quadro de 12 motociclistas.

“Estamos sem mulheres no momento. As que trabalhavam aqui conseguiram serviço registrado em outros locais e não quiseram mais continuar como mototaxistas”, contou o gerente da São Judas, Claudeci Moreira.

Das sete agências consultadas pela reportagem de O Progresso, entre 154 mototaxistas que trabalham nelas, apenas três são mulheres. Outras cinco não participaram do levantamento.

Para maximizar os ganhos, os mototaxistas preferem escolher motocicletas de baixa potência, com motores entre 125 cilindradas e 160 cilindradas. A preferida é a Honda CG.

O consumo de combustível menor e os gastos com peças de reposição mais em conta fizeram com que as motos menores fossem as preferidas da categoria, segundo o mototaxista Paulo César Bresciani.

“As motos maiores têm gastos de combustível e manutenção mais altos, então, acaba não compensando. Prefiro as motos menores”, disse o profissional, dono de uma moto de 125 cilindradas.

Bresciani voltou à profissão depois de passar um tempo trabalhando como entregador de água mineral. Como o trabalho estava rendendo pouco, decidiu voltar a fazer corridas.

“Eu trabalhava com família e, em termos de valores, não estava compensando muito. Tinha excesso de trabalho com pouco ganho”, disse.

Ao voltar a trabalhar com corridas, Bresciani preferiu uma agência com poucos mototaxistas. O número menor de motoqueiros aumenta as chances de o dia de trabalho render mais.

“O salário dá para viver tranquilamente. O gasto que temos aqui é baixo. O ganho de todos os motoqueiros se equipara”, contou.

A dona da agência 400, Maria Tereza Schvindt, decidiu abri-la para dar um local de trabalho ao filho. Desempregado e sem perspectiva de conseguir novo trabalho, ele acatou a ideia da mãe, de ser mototaxista.

“Meu filho trabalhava em firma e não ganhava bem, acabou ficando desempregado. Daí, dei a ideia de abrir uma agência de mototáxi. Agora, ele tem o salário dele, consegue pagar as contas”, explicou Maria Tereza.

A empresária vive de aposentadoria e afirmou não usar o dinheiro para se manter. “A diária que cobro aqui dá para pagar o aluguel, fazer a manutenção, pagar água e café, e sobram uns trocados”.

Maria Tereza disse usar de alguns “truques” para manter os mototaxistas na agência: o ambiente familiar e a limpeza do local de trabalho.

“Aqui, nós tratamos os motoqueiros como seres humanos. Eles têm um local limpo, com café, água, banheiro sempre lavado, além de ter comodidade de trabalhar no centro da cidade”, apontou.

Apesar de lançar mão de truques para economizar custos e fidelizar clientes, um fator preocupa os mototaxistas mais que a crise econômica: a violência.

O mototaxista Rubens Dario Paiz foi vítima da criminalidade. Há dois anos, ele atendeu a uma corrida noturna, de um homem que queria ir para a cidade de Bofete, município distante 66 quilômetros de Tatuí.

O cliente afirmou que morava na zona rural da cidade, próximo à rodovia Presidente Castello Branco (SP-280). “Andamos em uma estrada de terra e, nisso, percebi que ele estava tramando algo, pois nunca chegava ao lugar onde ele morava, sempre pedia para andar mais”, contou.

Em determinado momento, Paiz e o passageiro pararam no meio do canavial, para que o cliente fizesse uma ligação para a mãe. Foi quando o ladrão anunciou o assalto. “Percebi que estava armado com uma faca. Chegamos a lutar no meio do escuro, ele conseguiu pegar a moto e foi embora”.

A viagem de volta foi difícil. Sem moto e no escuro, o motociclista caminhou por alguns quilômetros até à SP-280, quando conseguiu sinal da rede de telefonia móvel e ligou para a mãe.

Algum tempo depois, quando Paiz estava em Tatuí registrando boletim de ocorrência no plantão policial, chegou uma notícia boa da delegacia de Bofete: o ladrão havia sido pego com a motocicleta.

“Minha irmã tinha ligado para a Polícia Militar de lá, para avisar sobre o roubo. Os policiais pegaram o ladrão negociando a minha moto por R$ 500. Levaram ele e o comprador para a cadeia”, disse.

Assustado com a situação, o mototaxista ficou um dia na casa dele para “esfriar a cabeça”. Depois do episódio, disse ter tido a sorte de não ser roubado novamente.

“A gente nunca sabe quem vamos atender, se é cliente mesmo ou se é um ladrão querendo assaltar. Temos sempre esse receio, mas precisamos trabalhar”, concluiu.

Governo comenta

O secretário de Governo, Segurança Pública e Transportes, coronel João Carlos Rumin Crepaldi, afirmou que, pela legislação municipal, são permitidas 12 agências com até 30 motociclistas cada.

Crepaldi disse que esse montante é ideal para a cidade e que não há nenhuma iniciativa do governo municipal no sentido de aumentar o número de empresas autorizadas.

Sobre as atividades de mototaxistas clandestinos, Crepaldi argumentou que “a secretaria tem dificuldade na fiscalização, pois os fiscais de trânsito não possuem poder de polícia para abordar os motoqueiros”.

Por fim, o secretário informou que a lei que abrange a atividade de mototáxi na cidade precisa ser regulamentada, estabelecendo multas e sanções para os que infringem a legislação.

“O mais difícil é que a gente percebe que o número aumenta em época de crise, é um problema econômico e social”, concluiu.