Cidade tem superpopulação canina e aposta em feira para ‘equacionar’





Arquivo O Progresso

Cães abandonados somavam 4.000 no ano passado; secretário disse que ações reduziram números

 

Trinta mil cães vivem em Tatuí, pelos cálculos da Secretaria Municipal da Saúde. Os números repassados a O Progresso durante a realização da 1ª “Feira de Adoção do Canil Municipal” são originados a partir de mais de um indicativo, mensurados pela municipalidade e indicam condição de superpopulação.

É o que comentou o titular da pasta, o médico veterinário Máximo Machado Lourenço. De acordo com ele, a “Capital da Música” registra um cão para cada grupo de 3,58 habitantes. A cidade tem 107.326 habitantes, conforme estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

À primeira vista, o número parece baixo, mas a lógica é contrária. Quanto menor o índice de pessoas por animal, maior a quantidade de cães vivendo no município.

O índice, porém, ela não representa dados reais, uma vez que há pessoas que cuidam de mais de um animal. Este é o caso de voluntários, de equipes de ONGs (organizações não governamentais) e de protetores que atuam em trabalhos.

“Essa situação (de superpopulação) é verificada a partir do censo animal que fizemos e da série histórica da vacinação antirrábica”, explicou o secretário municipal da Saúde. Segundo ele, a Prefeitura ainda não tabulou os dados da contagem da população canina de Tatuí, mas possui resultados parciais.

Máximo disse, também, que a Prefeitura utiliza o cálculo da estimativa de vacinação. A meta de imunização é sempre correspondente a 80% da população animal. “Então, com esse censo, mais as campanhas de vacinação, nós temos uma estimativa que indica superpopulação”, destacou.

O município iniciou o “Censo de Animais Domésticos” em setembro do ano passado. A ação aconteceu de forma integrada à vacinação contra a raiva e não está “totalmente concluído”, conforme enfatizou o secretário à reportagem.

Conforme ele, a superpopulação é verificada quando o número de animais está acima do preconizado – neste caso, pelas campanhas de vacinação. Para Máximo, ela é decorrente de uma série de fatores, sendo o principal o ciclo reprodutivo.

O secretário afirmou que uma cadela entre no cio, normalmente, de duas a três vezes no ano. Máximo disse, também, que a gestação das fêmeas demora, em média, 63 dias. Ainda de acordo com ele, a cada gestação, as cadelas podem ter até 12 filhotes. “E todos eles precisam de um destino”, comentou.

Para Máximo, todos esses fatores somam-se para que a população canina aumente “rapidamente”. Somando-se a isso, as cadelas entram no período fértil muito cedo. O secretário destacou que as fêmeas já podem se reproduzir a partir dos 11 meses de idade. Daí, a quantidade de cães abandonados.

De modo a reduzir o problema, Máximo destacou que a Prefeitura iniciou trabalho de “corte desse ciclo reprodutivo”. Para isso, passou a promover os mutirões de castração. Na cidade, a iniciativa passou a ser realizada em maior número a partir das ações das ONGs Cia. do Bicho e, mais recentemente, Ani+.

Mesmo com as castrações, o secretário citou que os abandonos não cessaram, mas diminuíram. Conforme ele, muitos proprietários de cães ainda continuam soltando os animais quando eles representam algum tipo de problema.

“Isso nós temos de trabalhar, também. Mas com a questão da posse responsável”, citou o secretário. Máximo destacou que uma das ações para mudar esse panorama é a feira de adoção, que teve primeira edição no mês passado.

No evento, a Prefeitura – em parceria com a Ani+ – levou à adoção 12 filhotes. Os animais estavam sendo cuidados no Canil Municipal, administrado em sistema de parceria pela organização com autorização do Executivo.

Máximo citou que o propósito das adoções é encontrar um lar para os cães e estimular a posse responsável. Para isso, todos os adotantes receberam instruções dos protetores e assinaram um termo de compromisso para poder levá-los para casa.

“As pessoas têm que saber que o animal dá carinho, atenção. Que ele também pode reproduzir para perpetuar a espécie e que, por isso, não pode ser abandonado”, disse.

O secretário afirmou, ainda, que o número de cães abandonados na cidade está caindo. Além da redução do número de “ninhadas”, Máximo relatou que a presença dos animais nas ruas tem sido rara.

“Diminuiu muito. Ainda temos abandono, mas caiu bastante. Ainda existem cães abandonados, não estou falando que zerou, mas vai chegar um dia que, se Deus quiser, qualquer animail vai ser disputado para ser adotado”, falou.

Para que a situação verificada em abril de 2013, quando houve a divulgação de que o número de cães abandonados chegou a 4.000 na cidade, mudasse, a Prefeitura investiu na reformulação do Canil Municipal. O espaço ganhou nova estrutura e gestão. Está sendo administrado pela ONG Ani+.

A veterinária voluntária Camila Aguiar Paes afirmou que o canil “saiu do estado crítico”. Os membros da ONG passaram a atuar no espaço desde janeiro deste ano. Entretanto, os primeiros trabalhos aconteceram em dezembro de 2013.

“Quando chegamos, a condição era bastante crítica. Tinha alguns animais com a saúde bastante comprometida, alguns recém-atropelados e sem cuidados”, falou.

Segundo ela, os animais não eram castrados, vermifugados, ou vacinados. “Era, praticamente, um depósito de animais. A situação era bastante complicada. Com o tempo, fomos organizando tudo e entramos com as ações de saúde”, disse.

A equipe separou os animais e repensou os espaços utilizados para a acomodação deles. Por meio de um acordo com a Prefeitura, a ONG promoveu reformas no canil. “Melhorou muito o bem-estar dos animais”, disse a veterinária.

Camila declarou que os animais estão, no momento, em melhor situação. “Claro que não dá para dizer que está ótimo, porque os cães que estavam lá já entraram debilitados, mas em relação ao que estava melhorou muito”, enfatizou.

Para manter os animais com a saúde em dia, a veterinária disse que o grupo de voluntários mantém um trabalho constante. Ela informou que o número de cães no espaço só não é maior por conta do critério adotado para o abrigamento.

“Eles têm que estar ou atropelados ou serem animais agressivos. Não existe outra condição para que eles possam ser resgatados das ruas”, descreveu a profissional.

Camila explicou que os critérios são adotados para evitar que haja grande concentração de animais. Ela disse, ainda, que a restrição é bastante rigorosa, uma vez que, em Tatuí, a prática da eutanásia foi abandonada. “É proibido, a não ser que o cão tenha uma doença constada, no caso, a raiva”, comentou.

Até o final do mês passado, o Canil Municipal abrigava 34 animais. Em sua maioria, cães adultos que poderão ser adotados. Para isso, a ONG tem planejado visitas monitoradas aos espaços, de forma a fazer com que as pessoas que vão até o local possam se identificar com algum animal e adotá-lo.

A primeira experiência aconteceu no dia 29 de junho, um domingo. As demais ainda não têm datas definidas e se somam à feira de adoção, iniciativa que passa a ser realizada mensalmente, conforme nota divulgada pela Prefeitura.

Cuidado diferenciado

Além de novo espaço, os animais do canil recebem cuidado diferenciado há seis meses. A atenção inclui desde a ração balanceada a passeios com voluntários pelo menos uma vez por semana. Os membros da ONG se revezam no trabalho de proporcionar aos cães em acolhimento um momento de lazer.

“Todo final de semana tem um voluntário lá, para diversão e entretenimento dos cães”, explicou Camila. A veterinária destacou, ainda, que o espaço passou por intervenção física, após autorização do Executivo. “A gente uniu forças e conseguimos um dinheiro aplicado em uma ‘boa reforma’”, contou.

Segundo a profissional, o canil ganhou novo cercado para que os animais não ficassem confinados e passou por descontaminação (dedetização e ratização). A ONG promoveu, também, limpeza no terreno ao lado do espaço e programa mais melhorias com apoio de colaboradores e da população.

Interessados em apoiar o trabalho devem entrar em contato com a coordenadora da ONG, Luana Soares Muzille, pelo telefone 99846-7031. “A gente pede que a pessoa se identifique e que, se possível, faça uma visita ao canil para conhecer o trabalho e ajudar com algum animal”, disse Camila.

Também conforme ela, as contribuições podem vir com doações, ou aquisições de produtos que são comercializados pela organização nos eventos. Durante a feira de adoção, por exemplo, a entidade manteve venda de camisetas.

Todo dinheiro arrecadado é revertido para compra de vacina, reforma ou aquisição de roupas para os animais abrigados. “É tudo direcionado ao canil. A gente trabalha, constantemente, com esse tipo de arrecadação”, encerrou.