Cenário incerto





Na edição de quarta-feira desta semana, O Progresso publicou reportagem sobre o panorama preocupante previsto para a área de empregos no município. Tal como no país, as expectativas não são nada otimistas.

Em maio deste ano, a indústria registrou saldo positivo de 22 empregos formais em Tatuí. No entanto, os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), devem mudar nos próximos meses.

Conforme o Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), a crise econômica nacional acabou por afetar mais especificamente duas empresas locais, justificando as previsões negativas. O vereador e presidente da entidade classista, Ronaldo José da Mota, antecipou que as dispensas podem passar de mil. De início, pelo menos 500 demissões seriam cogitadas pela Rontan Eletrometalúrgica.

Outros 1.200 funcionários correm o risco de perder o emprego caso a venda da FBA (Fundição Brasileira de Alumínio) não se concretize. O processo deve ser finalizado neste mês.

Mota disse que a crise se deve ao momento econômico do país, e, especialmente com relação a essas empresas, aos setores que elas representam.

Por conta da alta dos juros e das restrições dos créditos, as montadoras de veículos frearam as produções, uma vez que os pátios estão lotados.

Com as linhas operando de forma reduzida, a tendência é de que reduzam o número de pedidos para as fabricantes de peças. Essa situação afeta diretamente as duas empresas locais e as respectivas terceirizadas.

“Em Tatuí, nós tivemos outro problema. Além da baixa produção, as empresas estão enfrentando dificuldades financeiras para arcar com compromissos”, disse Mota.

Segundo ele, as duas indústrias locais ainda não demitiram. Entretanto, as dispensas estão programadas. “Não tivemos reflexos, ainda, por falta de pagamento das rescisões trabalhistas. As empresas não têm dinheiro para mandar embora. Estão pagando somente os salários, mas nenhum encargo”, afirmou.

A informação repassada por Mota – mas não confirmada pelas empresas – é de que os encargos do FGTS e INSS estão sendo descontados da folha de pagamento. Contudo, os valores não estariam sendo depositados, conforme o sindicato.

Mota afirmou que tanto a Rontan como a FBA enfrentam dificuldades, mas por questões distintas. As duas atuam no setor automobilístico, mas com diferenciação de produtos.

“A Rontan trabalha com o governo (federal) e foi afetada diretamente pela crise e os problemas decorrentes da Petrobrás, por exemplo. Já a FBA trabalha com as montadoras”, declarou.

Em Tatuí, a retração do mercado afetou outras empresas. Contudo, Mota afirmou que o impacto causou efeitos variados. A Yazaki, por exemplo, realocou funcionários em outras unidades.

“Hoje, ela tem um pessoal, daqui, no Paraguai, em Sergipe e no Paraná. Tem um setor que produz para a Ford, que está praticamente parado, mas o pessoal está em outras plantas”, afirmou.

No caso da Rontan, o sindicalista disse que a empresa optou por reduzir os turnos, de dois para um. Já a FBA concedeu licença remunerada.

“Ela está pagando para o pessoal ficar na casa. Se mandar embora, tem que, primeiro, atualizar o FGTS e pagar 50% da multa (40% para o funcionário e 10% de imposto compulsório)”.

Além disso, há os custos de rescisão trabalhista, férias e 13º salário proporcionais. As medidas debatidas pelas indústrias, em conjunto com o sindicato, são consideradas paliativas pelo presidente da entidade. Mota ainda frisou que não sabe até quando elas poderão postergar as demissões.

O sindicalista diz que investimentos de alto risco e projeções de produção que não se cumpriram são as causas para o desequilíbrio registrado pela FBA.

Conforme ele, a empresa local preparou-se para trabalhar com sistema de baixa pressão, adquirindo equipamentos, contratando e treinando funcionários.

A perspectiva era de que o investimento fosse recuperado. Entretanto, com a crise das montadoras, que, desde o ano passado, vêm acumulando queda nas vendas, houve prejuízo. “Esse panorama preocupa, mas nem tanto, porque a empresa deve passar para um grupo de novos investidores”, divulgou Mota.

De acordo com ele, a Latasa Reciclagem está negociando a aquisição da FBA. Líder no mercado brasileiro de reciclagem de alumínio, a empresa faz parte do grupo Recicla BR e deve anunciar a efetivação da compra no próximo dia 13.

Em maio, representantes do grupo reuniram-se com o sindicato. Na ocasião, informaram que acordaram em responder pela FBA a partir do dia 13 de maio. As dívidas anteriores deveriam ser quitadas pelos ex-donos.

Mota disse que a Latasa solicitou o prazo para poder reestruturar a FBA. “Acho que eles queriam que o sindicato desse um tempo, porque, se começássemos a bater forte, haveria risco de fechamento”, declarou.

Além de possuir transportadora, distribuidoras de diesel, postos de gasolina e contrato com empresas para fornecimento de gás natural, Mota afirmou que o grupo Recicla BR tem a principal matéria-prima da FBA: o alumínio. Entretanto, mesmo com a negociação, pode haver demissões.

Em maio, Mota afirmou que a empresa teve problemas com transporte de funcionários, pagamento de cesta básica e débitos com outros fornecedores.

“A situação está complicada. Se o grupo não pegasse a empresa, ela estaria fechada e seriam demitidos em torno de 1.200 funcionários”, apontou.

Para se recuperar, o sindicalista afirmou que a empresa poderá investir em novos produtos. Entre eles, a chamada linha branca (eletrodomésticos, como geladeira, fogões e outros). Também poderá atender ao mercado de motocicletas.

No caso da Rontan, Mota avaliou que a recuperação depende de novos pedidos. A empresa trabalha com transformação de veículos, mercado que sofreu queda. Por essas razões, o sindicato mencionou que a indústria deverá demitir cerca de 500 pessoas.

Conforme o sindicalista, o impacto sofrido pelas duas empresas que integram o Grupo Rontan também afeta as terceirizadas. Mais especificamente, no caso da empresa que trabalha com transformação de veículos.

“Afeta da mesma forma. Se a empresa reduz o turno de trabalho, as terceirizadas que trabalham 100% para ela vão ter de reduzir”, comentou.

Conforme ele, o sindicato pode, apenas, aguardar “o desenho do cenário para adotar providências”. Mota afirmou que a entidade “não tem muito que fazer”, a não ser garantir o direito do trabalhador em caso de dispensa do emprego.

De forma a auxiliar a empresa, o sindicato propôs a implantação de banco de horas e alternativas para redução de custos (como a diminuição da jornada de trabalho). Outra possibilidade é a suspensão de contrato por tempo determinado.

A ideia é que o número de demissões possa ficar abaixo de 500. Para isso, o sindicato sugeriu que a Rontan adotasse a suspensão, com uso de parte do seguro-desemprego pelo funcionário. Esse valor seria utilizado em curso de qualificação.

No caso de retorno ao posto, se mesmo assim houver dispensa, a empresa ficaria obrigada a devolver o valor gasto pelo trabalhador na reciclagem. “Tudo isso são alternativas, mas o panorama é de dispensas”, disse Mota.

Mesmo na FBA, o sindicalista afirmou que é provável haver desligamentos. Com isso, os funcionários deverão receber propostas diferenciadas.

Os pagamentos das rescisões poderão ser feitos em parcelas e dentro de um PDV (plano de demissão voluntária). A informação repassada pelo sindicato é de que, até a semana passada, 80 pessoas aderiram ao plano.

No caso de dispensa, o sindicato defende um levantamento sobre a situação socioeconômica dos trabalhadores, idade, tempo de serviço e critérios de performance.

“É uma negociação que tem que ver item por item. Tem que ver as pessoas que estão em vias de aposentadoria e se não vai gerar um problema social”, encerrou.

Frente à crise econômica atual – como em qualquer outra -, o correto é justamente a negociação, sem o maniqueísmo besta da moda atual, marcada pelo estímulo à disputa dos “opostos” – neste caso, “patrão versus empregado”.

A premissa, aliás, é bem típica do sindicalismo tacanho, que parece partir do princípio de que toda empresa é, por essência, um organismo de exploração do trabalhador – ainda requentando dogmas marxistas já soterrados.

Pelo que se observa em Tatuí, acontece algo diferente: há o natural e correto cumprimento da obrigação sindical de se defender o interesse do trabalhador – e o emprego dele -, mas não a simplificação irresponsável do problema, colocando-se as empresas como as responsáveis pelo desemprego, como se isso lhes conviesse ou desse prazer.

Não. Importa é tanto salvar as empresas quanto os empregos. Sem empresa, não há emprego, e, sem trabalhador, não há empresa. Portanto, existe uma sadia simbiose entre ambos, a qual não costuma ser observada, tampouco respeitada.

Essa consciência talvez seja um primeiro movimento para inverter o sentido da roda do desemprego para o lado oposto. De resto, como disse o vereador e sindicalista, é esperar “o desenho do cenário”. Que seja de um desfecho de história feliz, não de terror.