Câncer vitima 0,12% da população local





Arquivo O Progresso

Para secretária, número de casos está relacionado a ‘mais recursos’

 

De junho de 2013 a junho de 2014, pouco mais de 0,10% da população residente em Tatuí faleceu vítima de câncer. A estatística, divulgada pela Secretaria Municipal da Saúde a pedido da reportagem de O Progresso, aponta os cânceres de pulmão e mama como os que provocaram mais falecimentos.

Os dados constam no Plano de Ação Municipal de Prevenção e Controle do Câncer, elaborado pela pasta em novembro do ano passado e que será entregue à CIB (Comissão Intergestores Bipartite).

Ela é responsável pela articulação e pactuação política que objetiva orientar, regulamentar e avaliar os aspectos operacionais do processo de descentralização de ações de saúde.

Segundo o plano, o câncer de pulmão vitimou 26 pessoas entre a metade do ano retrasado e do ano passado. Os óbitos por câncer de mama somaram 15 e os de estômago, 12. O câncer de próstata, que liderou o registro de “novos casos” entre 2013 e 2014, levou oito pessoas a óbito no mesmo período.

A secretaria contabilizou 46 “novos casos” de câncer de próstata e 41 de mama. O registro local “acompanha” estatísticas divulgadas pela SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia).

Conforme a entidade, o câncer de mama é o tipo “mais frequente no mundo”. É, também, o mais comum entre as mulheres (atingindo homens) e respondendo por 22% dos casos novos a cada ano.

No caso dos homens, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) “José Alencar Gomes da Silva” aponta que o câncer de mama é considerado raro. Conforme a instituição, ele representa menos de 1% dos casos no país.

Em Tatuí, 148 pessoas morreram por consequência de câncer de tipos variados, equivalente a 0,12% da população, conforme estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na estimativa divulgada no ano passado, a cidade contava com 115.515 habitantes.

No total, 390 pessoas tiveram o diagnóstico positivo para câncer, sendo dois de linfoma de Hodgkin, que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático. Esse tipo de câncer é o que registrou menor incidência no município.

O sistema linfático é um conjunto composto por órgão e tecidos responsáveis pela produção de células do sistema imunológico. Segundo o Inca, essa doença pode ocorrer em qualquer faixa etária, sendo mais comum na idade adulta, atingindo com maior frequência pessoas entre 25 e 30 anos.

Para a secretária municipal da Saúde, Cecília Oliveira França, o número de novos casos está relacionado ao “aumento de recursos”. Conforme ele, os pacientes dispõem de mais meios – e de mecanismos mais modernos – para detecção.

“Falo sempre que, antigamente, ninguém morria de câncer, mas porque não se detectava. Atualmente, as condições de saúde são melhores e as pessoas têm mais recursos para realizar diagnósticos e acompanhamentos”, argumentou.

Em Tatuí, como nos demais municípios brasileiros, o diagnóstico começa na atenção básica de saúde. Cecília explicou que os pacientes detectados com câncer e tratados em hospitais de referência passam, primeiro, por consultas com clínicos gerais que atendem em UBSs (unidades básicas de saúde).

“Qualquer tratamento é assim. Se o clínico avaliar que é preciso um exame mais detalhado, encaminha para especialista”, descreveu.

Nessa segunda etapa, caso haja suspeita, o médico solicita exames para biópsia. O procedimento consiste na coleta de uma pequena quantidade de tecido ou células para posterior estudo em laboratório. As análises são feitas fora do município.

Quando o resultado é positivo, o paciente passa a ser acompanhado pela rede e é encaminhado a hospitais para tratamento de “maior complexidade”. As vagas são solicitadas pela central que funciona na secretaria.

Basicamente, os pacientes de Tatuí são encaminhados para três cidades. Em geral, fazem tratamento em Sorocaba, Jaú e Botucatu. Mas há casos de tratamento de quimioterapia em Curitiba, no Estado do Paraná.

A depender da condição de saúde e do tipo de câncer, o responsável por agendamentos de cirurgias eletivas da Central de Vagas, Carlos Eduardo Martins, informou que os pacientes locais são, ainda, transferidos para São Paulo.

Pessoas com câncer de mama, em geral, recebem tratamento em Sorocaba. As demais, dos “tipos mais complicados”, são enviadas para Jaú e Botucatu.

Nesses municípios, o tempo de tratamento também diverge de um caso para outro. Martins explicou que alguns pacientes permanecem internados para as sessões de quimioterapia por quase uma semana; outros, passam somente o fim de semana. “Alguns vão a cada 15 dias, ou dois meses. Depende da evolução dos pacientes e do tipo de tratamento que realizam”, relatou.

Todas essas informações constam no plano que será apreciado pela CIB. “A comissão pede que os municípios façam seus planos para, depois, as medidas serem consolidadas de maneira regional”, contou a coordenadora de planejamento da secretaria, enfermeira Tirsa Luisa de Melo Meira Martins.

Entregue no final do ano passado, o plano municipal contém um “diagnóstico situacional”. Tem como base a portaria ministerial de 27 de fevereiro de 2014, que redefine critérios e parâmetros para organização, planejamento, monitoramento, controle e avaliação dos estabelecimentos de saúde e serviços.

Segundo Tirsa, a portaria permite que os municípios possam oferecer “os melhores atendimento e cuidado aos pacientes”. Ao prever os planos regionais, ela facilitará o tratamento das pessoas diagnosticadas com câncer, uma vez que mapeará toda a rede de atendimento e suas pactuações.

A enfermeira ressaltou que Tatuí está integrada ao sistema de atendimento e coloca à disposição das pessoas com câncer toda a rede de atenção básica. Também oferece atendimento por meio do SAD (Sistema de Atendimento Domiciliar). Este consiste num pós-atendimento aos acamados.

O município também conta com atenção ambulatorial (com o Cemem – Centro Municipal de Especialidades Médicas, e o Laboratório Municipal), e está “coberto” pela rede de atenção hospitalar (Unacons) de Sorocaba e Barretos.

As Unacons são unidades hospitalares que possuem condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência especializada de alta complexidade. Elas oferecem diagnóstico definitivo e tratamento dos cânceres “mais prevalentes” (com mais incidência).

No município, os acometidos por câncer também recebem atendimento da rede de urgência e emergência. Cecília explicou que a rede é formada pelo Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto” e pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), estando à disposição dos pacientes em tratamento.

Para o serviço de “alta complexidade”, o município está referenciado por hospitais, e, para a continuidade do tratamento, oferece assistência farmacêutica.

“Nossos pacientes também recebem apoio da central de regulação, que faz todo agendamento e liberação do transporte”, comentou a secretária.

Propostas sugeridas

Junto com o diagnóstico situacional, a Secretaria Municipal da Saúde inseriu propostas no Plano de Ação Municipal de Prevenção e Controle do Câncer.

As ações sugeridas incluem o Programa Nacional de Controle de Tabagismo (profilaxia para combate ao câncer do pulmão) e de incentivo ao autoexame (prevenção do câncer de mama) e estimulação do exame de mamografia.

Conforme a titular da Saúde, a Prefeitura mantém iniciativas de prevenção como rotina na atenção básica (postos de saúde). “O trabalho é bem forte e de orientação e solicitação para que as mulheres possam fazer o autoexame”, disse.

Para ela, o objetivo do plano é melhorar as ações de prevenção, bem como as consideradas paliativas (caso do atendimento domiciliar). Em outra frente, o trabalho permitirá a otimização do serviço de encaminhamento dos pacientes.

“Agilizou muito. Antes, demorava mais para que as pessoas pudessem ser atendidas”, relatou. De acordo com Cecília, a demora acontecia entre o pedido de encaminhamento para tratamento (apresentado pelos médicos) e o envio dos documentos (por parte dos pacientes ou familiares) à Central de Vagas.

Por determinação da secretária, funcionários do setor alteraram a rotina do agendamento. “Atualmente, os pacientes vão até as unidades de saúde mais próximas das casas deles e, de lá, a documentação vem para cá. Não é preciso mais que as pessoas se desloquem até aqui, o que facilita muito”.

De modo semelhante, a secretária disse que conseguiu reduzir o tempo de espera por exames. “A biópsia de reto, por exemplo, teve realização agilizada. Quando há um caso suspeito, existe prioridade”, acrescentou Cecília.

Conforme o funcionário da Central de Vagas, pacientes com essa recomendação esperam, no máximo, dez dias para realizarem exame de reto. “Quando o pedido é para fazer biópsia, demora um pouco mais, mas não muito”, disse.

A partir do diagnóstico, Martins afirmou que o encaminhamento do paciente para tratamento é quase imediato. Nesses casos, não é considerada a disponibilidade de vagas. “Quando é caso de câncer, existe exceção. A pessoa não aguarda em uma fila de espera, normal”, relatou o servidor.

Martins afirmou, ainda, que os casos em que os exames não possam ser realizados no prazo de dez dias têm “outra dinâmica”. Em geral, quando não se encontra referenciamento, os pacientes são encaminhados para Itapetininga. Lá, passam por consulta com especialista e, depois, fazem os exames.

Nesses casos, ainda, Cecília disse que é preciso levar em conta a demanda. “O número de pedidos para realização de exames para esses diagnósticos aumentou”, afirmou.

A secretária não divulgou a quantia de solicitações que o município recebe por mês. Entretanto, comentou que a população tem estado “mais consciente”.

Da mesma maneira, Tirsa citou que mais mulheres têm procurado as unidades básicas para se prevenir. Isso porque a secretaria mantém programa do Ministério da Saúde chamado “Mulheres de Peito”.

Ele tem como objetivo detectar precocemente e garantir acesso ao tratamento de câncer de mama a mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos.

“No mês de aniversário das mulheres, a cada dois anos, os profissionais das unidades básicas de saúde entram em contato com elas para estimular a realização de exames preventivos. Entre eles, a mamografia”, contou a enfermeira.

Somado a esse trabalho, a secretaria participa de campanhas como o “Outubro Rosa” e “Novembro Azul”. O primeiro é voltado à prevenção de câncer de mama; o segundo, à orientação de homens a partir dos 40 anos de idade para realização de exame preventivo ao câncer de próstata.

Com essas iniciativas, a secretária da Saúde afirmou que a pasta consegue “abranger um público diversificado”. O motivo é que as campanhas acontecem em praças e espaços públicos, fora das unidades básicas de saúde.

“Elas são feitas para pegar um maior número de pessoas e atingem públicos que não são usuários do nosso sistema de saúde, aumentando a prevenção”, concluiu.