Campanha de doação recebe brinquedos usados até dia 5





Kaio Monteiro

Segundo Circe, meta da campanha é entregar 500 brinquedos

 

A máquina de lavar roupas de Circe Machado Bastos, 69, estava com 20 bonecas usadas submersas em água e sabão no dia 19. O objetivo da aposentada era deixá-las de molho para conseguir tirar a sujeira, além de apagar possíveis rabiscos feitos à caneta. Após a limpeza, as bonecas receberiam penteados e vestidos novos.

Depois do “tratamento de beleza”, cada boneca seria colocada numa embalagem plástica transparente, junto com balas e pirulitos.

Assim, os primeiros kits para serem doados no Dia das Crianças estariam prontos. Circe deve montar 500 presentes com brinquedos e “guloseimas” até 12 de outubro, os quais serão distribuídos em local ainda não definido por ela.

A campanha de arrecadação dos brinquedos, afirma a aposentada, ainda está no começo e, por isso, reúne poucos itens. As 20 bonecas foram doadas por quatro pessoas. Porém, o número de brinquedos deve aumentar com a proximidade da data comemorativa.

Segundo Circe, a meta da campanha de arrecadação é levar brinquedos a 500 crianças. Apesar de faltar 10 dias para o final do período de arrecadação, no dia 5 de outubro, ela crê que alcançará a meta.

“No final de ano é a mesma coisa. Às vezes, acho que não vêm brinquedos, mas, de repente, minha casa está repleta de doações”, contou.

Circe lembra que tem a ajuda de duas grandes empresas, a Rontan e a FBA (Fundição Brasileira de Alumínio), que oferecem R$ 2.000 para financiar os gastos da campanha, quantia utilizada para comprar brinquedos novos.

Ela também coloca caixas de papelão nas companhias, onde os funcionários podem levar os brinquedos usados e doá-los.

A aposentada também recebe ajuda de um empresário do município de Laranjal Paulista, que dá brinquedos novos, além de roupas de bonecas.

Ela revela que o maior problema é conseguir doações para os meninos. “Por isso, eu preciso comprar itens, para complementar os presentes”, afirmou.

A aposentada apelida cada pessoa que entrega um brinquedo de “formiguinha”. Circe também considera que os voluntários estão aumentando devido à divulgação do projeto nos veículos de comunicação.

“Ontem, me ligou um senhor e disse que vai juntar alguns brinquedos. Deve ser ‘formiguinha’ nova. É gratificante, pensamos apenas nas crianças”, contou.

Circe explica que os doadores podem levar os brinquedos até a casa dela, na rua Arthur Napoleão de Oliveira, 66, no alto do Santa Cruz. Ou, dependendo da situação, a própria coordenadora da campanha busca os itens.

Os objetos doados podem ser “tudo de menina ou menino, além de bichos de pelúcia”, explicou Circe. No entanto, ela alerta para que os brinquedos estejam em bom estado de conservação. “Muitas vezes, a pessoa dá aquele que não tem recuperação”.

Todo o trabalho de limpeza e montagem do kit é realizado pela aposentada. Circe é coordenadora do projeto há 20 anos, e já perdeu a conta de quantas crianças foram beneficiadas.

Ela não reclama do trabalho realizado em prol das pessoas carentes, dizendo que o faz “com muita gratidão”. Porém, afirma que a tarefa de reunir os brinquedos é “difícil”. “Se não for a caridade do povo, a gente não faz nada. Aqui, tudo é produzido com amor e sinceridade”.

A principal recompensa para Circe é ver o sorriso das crianças na hora em que elas ganham os presentes. “É uma benção de Deus. No Natal, principalmente, é ‘desandar’ em lágrimas”, descreve.

Ela revela que os pais das crianças agradecem pela doação, pois a maioria deles não teria condições de comprar os presentes.

“Hoje, está complicado, ainda mais para quem possui três ou quatro filhos. Os brinquedos estão muito caros. As mães chegam até a chorar”.

Alguns dos locais atendidos pela aposentada no Dia das Crianças são o Jardim Europa e o Astória. Mas, ela ainda pretende levar os brinquedos para os mais populosos, como o Rosa Garcia e o Santa Rita, bairros nos quais ela ainda não consegue doar.

“Dá muita vontade de fazer nesses lugares, mas, para isso, é necessário mais de 2.000 brinquedos. Eu ainda não consegui atingir essa meta. Deus proverá e, se for vontade Dele, eu vou realizar esse sonho”, certificou Circe.

Os brinquedos são transportados num caminhão até o local da distribuição. “Eu chego no bairro e paro”. De acordo com ela, nas edições anteriores, havia a distribuição de senhas, “mas as pessoas não respeitavam a fila”.

“Então, eu preferi fazer assim: conforme aparecem as crianças, eu vou distribuindo”.

O único item que a Circe tem receio de entregar às crianças é a bicicleta, pois ela acredita que pode gerar brigas entre os beneficiados. A aposentada diz que esse é o brinquedo mais “querido” pelas crianças. Quando ela doa uma bicicleta, manda os pais buscarem na casa dela.

Circe lembrou que a campanha surgiu porque não recebia presentes na infância. “Isso tocou meu coração. Este ano, meu marido falou para parar, porque eu sinto muitas dores na perna. Mas, enquanto Deus me der fôlego, eu continuo”.