Bom-dia, tristeza!





“Bom-dia” porque os jornais costumam chegar às casas dos assinantes de madrugada, tal como são entregues aos pontos de venda avulsa também de manhã; “tristeza” porque não deixa de ser infeliz a constatação de que a maldade e a covardia graçam tanto nos meios políticos quanto nas tais redes sociais.

Contudo, um aparte no raciocínio a seguir: não se trata de lamentar sobre política, nem mesmo a respeito de políticos – também coisa de covarde, dado ser muito fácil “falar mal dos outros” de maneira impessoal e genérica.

Os adultos – de verdade – sabem bem que a política e os políticos são necessários, pelo menos nas sociedades consideradas democráticas. Alguém precisa administrar, e, para tal, há “candidatos” – literalmente -, os quais são “eleitos” para os cargos públicos da administração.

Nada de novo. E que continue assim, vez que qualquer outra opção não poderia escapar à extinção do estado democrático de direito. Ocorre que nem sempre o jogo democrático tem suas regras respeitadas, entre as quais, existem a necessidade de coerência e o mínimo respeito – para com os “adversários” e, sobretudo, para quem apenas assiste às disputas, sem tomar parte. Não é rara, assim, a prática de “dois pesos, duas medidas”.

Exemplo: quando do impeachment de Collor, para o PT, tratava-se de um dispositivo legal e de uma demonstração da maturidade da democracia nacional; agora, o mesmo processo se trata de um golpe… Desrespeito à democracia ou apelação…

Mas, isso ainda não é o pior: mais incômodo é quando essa gente que apela busca o suposto anonimato das redes sociais não para lamentar sobre o que lhes desagrada, mas para tentar, deliberadamente, manipular a população, quando não, simplesmente, difama e calunia, sempre oculta pelo manto da covardia.

Como isso se dá? Compartilhamos um exemplo com os leitores, extraído de uma pequena experimentação técnica que acabou redundando em interpretação toda equivocada e, finalmente, em manifestação constrangedora de mediocridade.

Na semana passada, o jornal O Progresso testava uma nova forma de acesso em seu portal na internet – ainda a ser concretizada –, pela qual os leitores passarão a ter 20 acessos liberados ao longo do mês. Somente após esse número, serão convidados a efetivar a assinatura – a exemplo do que já acontece nos maiores jornais do país.

O procedimento passaria despercebido, não fosse o fato de ter sido interpretado de três maneiras distintas. Havia, naquela semana, uma notícia sobre a futura configuração do shopping e outra, reportando vitória do ex-prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo em ação movida pela Prefeitura, já em 2a instância, sobre parcelamento de dívida da gestão do tucano.

Primeira interpretação – a mais natural e a qual, por sorte, envolve a imensa maioria das pessoas: uma coisa (a liberação total do site) não teve nada a ver com a outra (as reportagens), até porque, como facilmente se observa, havia notícias “positivas” para ambos os lados.

Segunda interpretação – ingênua, mas inofensiva: alguns entenderam que a liberação de acesso ao site deveu-se ao fato de que o jornal pretendia divulgar ainda mais aquilo de interesse de seu próprio grupo. Ou seja, “gente” do Manu achando que o jornal queria potencializar a notícia sobre o shopping e “gente” do Gonzaga entendendo que o jornal buscava reforçar a vitória dele.

E terceira interpretação – a medíocre, naturalmente: a bugrada acéfala soltando coices pela internet, entendendo que a intenção era privilegiar seus adversários, sequer parando para observar que havia, também, outros fatos que lhes interessavam – os quais, ainda que por essa míope visão, poderiam lhes ser de proveito.

Claro, na prática, o jornal precisa reconhecer e agradecer pela atenção reservada às suas reportagens, impressas e veiculadas pela web. Assim, agradecemos – mesmo à bugrada. Valeu, pessoalzinho animado da internet!

Também é necessário constar que a vitória vai para o time… da maioria! Realmente, uma coisa nada teve a ver com a outra.

O triste – decepcionante, até – é que, apesar de alguns grupos da web serem anônimos – fazendo-se valer, justamente, da covardia carregada pelas redes sociais desde o berço -, nós sabemos quem os administra, gente que, “vira e mexe”, procura o jornal, pedindo publicações sobre o grupo político pelo qual trabalha.

E o que acontece? Nós publicamos as notícias. Por quê? Não porque há algo escusamente acordado, “vendido”, mas somente por ser esse o trabalho de qualquer veículo de comunicação de respeito. Publicar notícias”…

O fato é que, quando você, leitor, faz algo que uma pessoa dessa natureza quer, aos olhos dele, está apenas cumprindo com sua obrigação, como se tivesse nascido para servir-lhe; porém, quando não o faz, ou mesmo apresenta algo que não lhe interessa, então, você agiu assim porque, decerto, é um “vendido”.

Não menos significativo, por sua vez, é que, normalmente, quando faz algo “bacana” para esse modelo de indivíduo indiferente à justiça, ele não reconhece – mesmo que o reconhecimento custe, apenas, a compreensão de que você pode só estar fazendo o seu trabalho quando apresenta algo que não interessa a ele.

Infelizmente, muitas vezes, bons políticos são rodeados por essas figuras soberbas, as quais podem, até, prejudicá-los nas eleições… Como se sabe, ninguém administra sozinho, como ninguém realiza campanha em monólogo. Todos ao redor falam em grupo e pelo líder maior, ajudando-o, ou comprometendo-lhe a imagem, agregando a ele, ou espantando-lhe possíveis apoios.

Fora isso, a bem da verdade, por mais que muita gente adore assistir às catinguentas estripulias sobre pau de galinheiro virtual, certamente, preferem ser governadas por gente séria e – por que não? – justa!

Não obstante, é triste reconhecer, próximos a homens públicos capazes e bem intencionados, a existência de figuras que, a despeito do que você faça, como, quando e onde, nunca estão satisfeitas, que só sabem enxergar o copo meio vazio e que ainda não aprenderam, sequer, a dizer obrigado!

São “tristes figuras”. A eles, bom-dia – embora, pelo menos na vida pública de capachos, não necessariamente boa sorte.