BELEZA SEM CRISE – Prótese de silicone é a preferida em Tatuí­





Com a popularização das cirurgias plásticas, o brasileiro perdeu o medo do bisturi e, mesmo com a crise, continua fazendo cirurgias plásticas. Segundo dados do Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, na sigla em inglês), o Brasil fez 1,34 milhão de operações plásticas em 2014, ano do mais recente levantamento.

O país está atrás somente dos Estados Unidos, onde foram realizadas 1,48 milhões de cirurgias. A preferida do brasileiro é a lipoaspiração, com 217,6 mil operações, seguida pela colocação de prótese de mama, responsável por 185 mil intervenções.

Apesar da crise, Tatuí continua “surfando” a onda das cirurgias plásticas. De acordo com o cirurgião Ivan Machado, da Casa Corpo, a preferência das tatuianas é pelas intervenções de colocação de prótese mamária, conhecida por prótese de silicone. Elas são responsáveis por 80% das operações estéticas realizadas na clínica do especialista.

Segundo Machado, são feitas de três a quatro cirurgias de colocação de prótese mensalmente na clínica onde ele trabalha. O prazo de recuperação é de 30 dias.

Nas primeiras semanas, a mama incha e é necessário evitar grandes esforços com os braços. A partir do 15o dia, a paciente já pode dirigir e retomar parte da rotina. A liberação total, como pegar o filho no colo e fazer uma faxina, é feita no 30o dia.

“Existe aquela lenda de que não pode levantar os braços. Isso não é verdade. Pode mexê-lo, mas evitando fazer muitos movimentos. Quem trabalha em indústria deve ter maior repouso do que quem trabalha em escritório, por exemplo”, explicou.

A colocação de prótese de mama é realizada tanto em mulheres quanto em homens. O público feminino tem dois tipos de reclamação quanto aos seios. As mais novas se queixam frequentemente do pouco volume e da falta de decote, enquanto que as mais velhas criticam a flacidez.

“As mais jovens dizem que nunca tiveram peitos e querem ter decote para vestir melhor as roupas. As de maior idade reclamam que os seios caíram depois de terem filhos e querem dar uma levantada”, relatou.

De acordo com o médico, é bastante frequente a colocação de próteses de tamanhos diferentes nas mamas. “Dificilmente se encontra um seio igual ao outro”.

No caso do público masculino, a cirurgia é procurada por quem deseja ter o peitoral “durinho” e também por transexuais que estão em tratamento para mudança de sexo.

No primeiro caso, o silicone é diferente do feminino, em aspecto e textura. Enquanto que a prótese utilizada em mulheres são redondas e macias, as masculinas são quadradas e rígidas.

“Essa cirurgia não é tão frequente. Acho que é por falta de informação dos homens. Alguns deles acham que a gente coloca a prótese redonda, feminina, o que não é verdade”, disse.

No caso dos transexuais, eles passam por tratamento hormonal, que ocasiona a queda de pelos e a mudança de fisionomia. O corpo fica mais arredondado e a etapa final da mudança de sexo é a colocação dos seios de silicone.

As próteses de silicone também podem ser colocadas nos glúteos, panturrilha (batata da perna). As cirurgias para outras partes do corpo utilizam materiais diferentes, segundo o médico. No caso da clínica de Machado, 80% das cirurgias são para os seios, enquanto que os outros tipos de implantes.

Uma operação em voga é a intervenção para tirar o excesso de pele ou gordura das pálpebras, que dá ao rosto ares de rejuvenescimento. A cirurgia é chamada de blefaroplastia e pode ser feita nas partes superior e inferior.

Na clínica de Machado são realizadas de duas a três intervenções deste tipo por semana. O tempo de recuperação é de cinco dias, considerada rápida, entretanto, a liberação total só ocorre após três meses.

Como precaução, o médico orienta aos pacientes a usarem óculos escuros e evitarem o sol. “Se colocar óculos de sol para andar na rua, pode ter vida normal”.

A cirurgia é procurada tanto pelo público mais jovem, com idade entre 20 e 30 anos, quanto pelo mais velho. A queixa mais frequente do público mais novo é que a maquiagem “some” na pálpebra superior, devido a fatores genéticos. As pessoas de mais idade reclamam de “bolsas” na pálpebra inferior, que dá aspecto de cansaço.

Com o avanço de procedimentos estéticos não invasivos, como o uso de ultrassom estético e de radiofrequência para eliminar gorduras do abdome, os pacientes estão postergando o bisturi, segundo o médico.

Os procedimentos estéticos são mais baratos e frequentemente dão resultados que, por si só, animam os pacientes. Um fator que pode desanimar quem pensa em lipoaspiração ou abdominoplastia é o tempo de recuperação e o uso de cintas no pós-operatório.

Os meses do inverno beneficiam quem quer realizar cirurgias, como colocação de mama, lipoaspiração e abdominoplastia. A temperatura menor deixa o uso de cintas de compressão mais confortável. Com o sol mais “fraco”, as chances de manchas escuras aparecerem nas cicatrizes são pequenas.

Um dado interessante apresentado pelo cirurgião plástico é que, em janeiro, 80% dos pacientes submetidos às operações estéticas são professores. Eles aproveitam as férias de verão, quando têm mais tempo disponível, para fazerem lipoaspiração, colocação de prótese e abdominoplastia, cirurgias que demandam maior tempo de recuperação.

“Em julho, o professor tem as férias encurtadas por causa de reuniões, preparação de aulas, então eles deixam para o final de ano, quando têm mais de um mês e meio de folga”, disse.

Os homens estão procurando mais o cirurgião plástico do que a dez anos, de acordo com Machado. Alguns deles pedem para retirar um pouco do volume da mama, quando ela tem aparência bicuda e fica à mostra em camisas. O procedimento se chama ginecoplastia. Eles também se interessam por procedimentos de correção das pálpebras.

“Há dois anos eu fazia mais lipoaspirações. Hoje, com o avanço dos procedimentos estéticos, eles preferem fazer sessões de congelamento de gordura, aplicação de enzimas no abdômen e até fazer academia. Cirurgia só em último caso”, explicou.

O médico também se dedica a realizar cirurgias reparadoras. No rol de intervenções está a recuperação de tecidos que sofreram queimaduras, úlceras e câncer. Os procedimentos são cobertos pelos planos de saúde.

“Temos casos de pacientes que sofreram ferimentos graves, pacientes acamados que estão com úlceras que não fecham e aqueles que tiveram câncer de pele e precisaram refazer a pele”, disse.

Mulheres que tiveram câncer de mama e precisaram retirar parte ou a totalidade dos seios também podem ser submetidas à cirurgia de reconstrução da mama. Em alguns casos, o cirurgião pode escolher pela colocação de prótese ajustável.

“Com elas a gente consegue deixar no tamanho correto. Eu coloco dentro do corpo e, com uma agulha, a gente vai enchendo, para que as duas mamas fiquem do mesmo tamanho”, explicou.

São consideradas cirurgias reparadoras aquelas que devolvem a função a um determinado membro do corpo. A definição, entretanto, é discutida entre psiquiatras.

Um caso discutido é a intervenção em orelha de abano. Ela é considerada estética, apesar de profissionais da psiquiatria considerarem que o problema gera dano psicológico na autoestima.

“Meninas deixam de fazer balé só para não amarrar o cabelo em coque e exporem a orelha de abano, outros não entram em piscina ou vão à escola por causa do bullying”, explicou.

Cirurgias infantojuvenis

O paciente pode ser submetido à cirurgia plástica a partir dos dois meses de idade, quando é indicado a frenectomia lingual, procedimento indicado para quem tem a “língua presa”. A intervenção consiste em um pequeno corte na base da língua e uma sutura.

Os pequenos também podem passar pelo bisturi quando apresentam malformações de orelhas. Aos sete anos, a cirurgia que pode ser feita é a da orelha de abano. Intervenções no nariz e colocação de prótese são indicadas para maiores de 16 anos.

Em alguns casos é necessário esperar mais. Garotas adolescentes com os seios grandes podem ficar ansiosas pela cirurgia de redução da mama. Porém, o médico indica que é necessário esperar a formação total do corpo antes de operar, pois há risco de o trabalho ser perdido com o crescimento da jovem.

“Por exemplo, uma paciente de 16 anos que tem uma mama muito grande e que usa sutiã número 50. Eu peço para esperar até os 18 anos, pois a mama pode crescer mais e a cirurgia não ter efeito nenhum no futuro”, alertou.

Autoestima

De modo geral, o paciente, ao chegar à clínica de um cirurgião plástico, manifesta o que está a desagradar-lhe no corpo. O especialista avalia a necessidade da cirurgia, dependendo do “estado psicológico” do cliente.

Segundo o cirurgião plástico, alguns pacientes têm o corpo perfeito e mesmo assim desejam mudar algo. Há casos de pressão de amigos, “bullying” e até mesmo insatisfação conjugal que podem levar à procura pelo especialista. Nestes casos, Machado afirma indicar ao cliente procurar ajuda psicológica antes de se decidir pelo procedimento.

“Eu falo para as pacientes que ela deve fazer a cirurgia para elas mesmas e não para agradar os outros. Quando eu detecto que a paciente está insatisfeita com o casamento e quer fazer a operação para melhorar isso, eu procuro não fazer o procedimento”, afirmou.

Segundo o médico, os pacientes das cirurgias reparadoras tendem a ficarem mais felizes do que os que já tinham o corpo perfeito antes da operação. No primeiro caso, o médico avisa que nem sempre o resultado é 100% satisfatório, devido à dificuldade de reconstruir tecidos queimados, mamas retiradas ou úlceras severas.

“Eu explico que a cirurgia dará uma qualidade de vida muito grande para ele. Ele se sentirá bem porque melhorou a condição de vida dele, é diferente de querer que fique perfeito”, opinou e prosseguiu.

“A expectativa do paciente estético e reparador são diferentes. Um paciente que quer dar uma esticada no corpo é diferente de um com câncer de pele e eu tiro quase a bochecha inteira e que preciso tirar a pele de outra parte do corpo. A expectativa de cada um muda”.

Custo da operação

Uma facilidade encontrada por adeptos das cirurgias plásticas está nos meios alternativos de pagamento. O que era realidade somente para a elite nos anos 1960 e 1970, se tornou viável para a classe média nos últimos 20 anos.

Para aumentar o mercado, os cirurgiões passaram a parcelar as intervenções, como a de colocação de prótese na mama. “Antigamente era coisa de quem tinha bastante dinheiro, ninguém falava em parcelar”.

Segundo Machado, uma cirurgia pode ser parcelada em três ou seis prestações, dependendo do valor. Os que mais parcelam não são os integrantes da classe B ou C. Eles preferem juntar o dinheiro durante um ano e pagar à vista.

“Quando ele não tem condições, procura se organizar o ano inteiro, juntar o dinheiro e fazer a cirurgia à vista. Quem tem condição financeira melhor é imediatista e parcela a operação”, disse.

O maior custo da operação é a cirurgia. Uma paciente que quer colocar uma prótese de mama gasta, em média, R$ 4.000 com a operação, R$ 1.500 com anestesista, R$ 2.000 com a estadia no hospital e R$ 2.000 com a prótese. Antigamente, o pagamento total era feito diretamente com o cirurgião plástico, que fazia os pagamentos ele mesmo.

“Hoje eu recebo a minha parte e o paciente paga diretamente o anestesista, o hospital, a prótese para a própria empresa. Daí, ele sabe para onde está indo o dinheiro”, explicou.