Bazar atinge vendas de R$ 70 mil em prol idosos do Lar São Vicente





Quinta-feira é um dia sagrado para a dona de casa Shirley Maria Oliveira de Arruda, moradora da vila Doutor Laurindo. Às 13h30, pontualmente, ela entra na fila do bazar do LSVP (Lar São Vicente de Paulo).

No local, Shirley compra roupas para o filho Kleber de Arruda, que tem 35 anos e sofre de autismo. Devido ao problema de saúde, o rapaz rasga diariamente as roupas que usa.

Antes do surgimento do bazar, a dona de casa era obrigada a comprar as roupas em lojas do centro da cidade, o que comprometia mais o orçamento. Entre os itens levados por Shirley, estão: camisetas, blusas de frio e bermudas.

Quando o dinheiro “estica”, ela compra revistas de artesanato e crochê, para uso próprio, ou mesmo uma roupa que lhe agradou. A cada quinta-feira, a mãe de Arruda compra entre dez e 20 produtos para o filho e, mesmo sem notar, dá parcela de contribuição para os 85 idosos assistidos pela entidade.

Além de Shirley, outras 200 pessoas visitam o bazar dos vicentinos às quintas-feiras. Conforme a organização, tem semanas que os clientes formam fila na porta do barracão da rua Francisco Pereira de Almeida. Os visitantes contribuíram, no primeiro semestre deste ano, com R$ 70 mil na compra de mercadorias usadas.

As vendas do bazar de janeiro a junho superaram em 40% os números do último semestre do ano passado, quando o LSVP arrecadou R$ 50 mil em vendas. Em 2015, a população contribuiu, de forma indireta com a compra de produtos usados, com R$ 100 mil.

Entre os itens vendidos no bazar e no brechó, estão: roupas femininas, masculinas e infantis; uniformes escolares e de times de futebol; roupas íntimas; discos de vinil, CDs e DVDs; livros; aparelhos eletrônicos; móveis e estantes. É possível encontrar até troféus de campeonatos de equitação entre os itens a venda, tudo a partir de R$ 1.

O galpão onde está instalado o bazar do asilo se divide em duas partes. A menor é destinada ao brechó, espaço onde ficam mercadorias seminovas e de melhor qualidade. Em geral, são peças “com valores mais altos”.

O salão maior é o bazar, também chamado de “muvuca” pelas voluntárias. Lá, ficam concentradas as bancas com roupas mais baratas. O nome “muvuca” não foi dado por acaso. Ele deve-se ao grande número de clientes em torno das bancas, de acordo com a coordenadora da loja, Célia Holtz.

Célia vem de família conhecida na cidade. Na filantropia, a mãe Francelina Machado Oliveira Holtz, a “dona Totinha”, foi por mais de 30 anos professora de educação física na escola estadual “Barão de Suruí”. Os tempos livres de dona Totinha eram usados na Associação de Mães de Tatuí.

O tio de Célia, José Carlos Holtz, fez parte da diretoria do asilo por alguns anos. A tia, Terezinha Fraletti Holtz, colaborava com o LSVP nos bazares que aconteciam durante a Festa da Caridade. O casal de tios são os pais da atriz Vera Holtz, prima de Célia.

“A gente tem um histórico na área de filantropia. Quando voltei para Tatuí, depois de 30 anos fora daqui e já aposentada, fiquei sete anos cuidando de minha mãe que estava debilitada. Depois, comecei a trabalhar aqui no bazar. Isso faz uns oito anos”, contou.

Convidada por José Guilherme Negrão Peixoto, então presidente do asilo, Célia passou a comandar o dia a dia da loja de produtos usados. À frente do bazar, ela começou a montar um “time” de voluntárias, que colaboram desde a separação das doações até a venda no salão. Atualmente, o mercado conta com 15 voluntários, destes, apenas um homem.

Além do “time”, Célia conta com a ajuda de um técnico de computação, que arruma os equipamentos eletrônicos doados para a venda, um marceneiro responsável pelos móveis, e voluntários que ajudam “com os braços” quando é necessária força para carregar caminhões de doações.

O LSVP também recebe reforço por conta do trabalho de apenados, pessoas que cumprem medida socioeducativa por terem cometido pequenos delitos.

“Hoje (quinta-feira, 4) teve um (apenado) que nos ajudou para trazer as mercadorias para cá. Ele cumpre oito horas por semana e sempre vem nos ajudar quando precisamos. Temos oito apenados no asilo no total”, afirmou.

A coordenadora disse acreditar que a crise econômica pela qual o país atravessa possa ter afetado positivamente nas vendas do bazar. “O ponto positivo”, por assim dizer, do momento ruim na economia se traduz em vendas maiores no bazar.

“Nós notamos que tem mais gente procurando tênis e uniformes de escolas. Tem várias donas de brechó que vêm toda semana comprar produtos para revender, para gerar renda. O preço acessível atrai todos eles”, afirmou.

As doações para o bazar podem ser feitas diretamente na portaria do LSVP, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. Os donativos, quando chegam, passam por uma triagem para separar o que pode ser usado pelos assistidos do asilo daquilo que pode ser vendido no bazar.

Lençóis, cobertores, toalhas de mesa e de banho são prioritariamente destinados ao uso dos idosos, assim como roupas de frio e pijamas. A coordenação estima que o material, se fosse calculado o valor, representaria uma doação de R$ 30 mil para o asilo.

Apesar de estar fechado na maioria dos dias da semana, se engana quem acredita que os voluntários só trabalham nas quintas-feiras. A separação dos donativos é feita às segundas-feiras pela equipe de voluntários do lar. Nas terças-feiras, já com as mercadorias separadas, os colaboradores colocam tudo nos devidos lugares. As “bazarentas”, como são chamadas as voluntárias do bazar, realizam o serviço durante a tarde. O intuito é deixar o maior número de produtos arrumados, para que, na quarta-feira, a faxineira limpe o local e o deixe pronto para a quinta.

Muitos donativos vêm de São Paulo. A psicóloga Maria Célia de Abreu, esposa do autor de telenovelas Sílvio de Abreu e amiga de Célia, é uma das que contribuem para o bazar e o brechó. Ela conhece pessoalmente o trabalho dos voluntários do LSVP, onde já ministrou cursos para cuidadores de idosos.

Maria Célia tem ligações familiares com Tatuí. Sobrinha do músico Bimbo Azevedo, a psicóloga vinha quando adolescente para a “Capital da Música” passar as férias na casa da família. De quando em quando, segundo Célia Holtz, a amiga manda donativos da capital paulista, recolhidos do círculo de amizade de Maria Célia.

“Quando venho de São Paulo, eu chego a Tatuí cheia de doações. Tem grupos de pessoas que nos mandam roupas usadas. Tenho amizade com uma pessoa que trabalha na American Airlines (empresa de aviação dos Estados Unidos) que nos doa pijamas que não foram usados pelos clientes da primeira classe dos trajetos de longa duração. O material que seria incinerado é destinado para o lar”, contou.

O trabalho de Célia e das voluntárias é elogiado por quem frequenta o bazar do LSVP. A aposentada Cremilda Fogaça é uma delas. Presente na loja toda quinta-feira, a idosa afirma que passar a tarde no local é “um meio de curtir os momentos e encontrar os amigos, além de comprar mercadorias boas”.

“Eu venho comprar toda semana. As pessoas, além de comprarem, estão ajudando os nossos velhinhos. O asilo atende tão bem os velhinhos e isso é para ajudar a manter (a entidade). A gente tem mais entusiasmo para comprar”, opinou.