Banco não consegue atender à demanda

Unidade reativou produção de hortaliças em terreno anexo; órgão pretende aumentar número de colaboradores para manter ajuda a famílias

Atendendo a 300 famílias, o Banco de Alimentos “Zacharias Nunes Rolim” tem pedidos para prestar apoio nutricional a mais 350. Considerando-se que cada unidade familiar tem média de cinco membros (conforme cálculos de Heloísa Saliba e Borges), o órgão está sem condições de atender a todos.

Em especial porque, em hiato de quatro anos, o banco perdeu “rendimentos”. A assessora da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente para assuntos do Banco de Alimentos explicou que, no período, os doadores foram “minguando”.

O posto recebe alimentos doados por empresas, agricultores, entidades, pela população e redes de supermercados. Estas últimas deixaram de contribuir por uma série de razões, impactando no funcionamento da unidade.

Com a demanda aumentando cada vez mais, Heloísa alertou que o Banco de Alimentos perdeu a capacidade de atender a todos. Ela também destacou que a “saúde” da unidade está comprometida, uma vez que o convênio firmado com o governo federal para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) está no fim.

Por meio dele, o governo federal paga pequenos agricultores para produzirem alimentos que serão encaminhados aos bancos de alimentos. Dos dois convênios firmados com ruralistas para atender ao “Zacharias Nunes Rolim”, apenas um está em vigência. Ele, no entanto, deve terminar até a metade do ano.

Não bastasse isso, o banco continua com dificuldades para arrecadar alimentos. A nova diretoria da unidade quer, para tentar compensar as perdas, disseminar o trabalho o máximo possível.

Tanto que Heloísa foi convidada a realizar, no início deste mês, uma explicação técnica. Ela tratou do assunto em reunião da sessão da Câmara Municipal, no dia 4, quando falou sobre a missão do banco, quais são os trabalhos realizados e as necessidades da unidade. A mais urgente é a aquisição de um veículo novo.

“Nós perdemos alguns doadores esporádicos. Atualmente, estamos conseguindo compensar. Temos que negar ajuda para alguns que nos procuram, e isso é o nosso maior desespero”, disse a assessora.

Como o tempo de permanência das famílias no programa varia, o banco não consegue prestar atendimento a todos os que o procuram. Em Tatuí, pelo menos 1.750 pessoas – se multiplicado o número de famílias aguardando alimentos – continuam na fila de espera.

Enquanto não consegue equilibrar o saldo do que entra com o que precisa sair, Heloísa ressaltou que a coordenação da unidade adotou mudanças. A primeira delas é a revisitação das 300 famílias que recebem atendimento sócio-nutricional.

“Elas estão recebendo alimento há um tempo e nós precisamos saber a real situação. Queremos verificar se o idoso que atendíamos, preferencialmente, continua vivo, se a criança desnutrida ainda está precisando de ajuda”, argumentou.

Heloísa justificou que a intenção do trabalho – já iniciado pela equipe – é fazer com que o banco de alimentos atenda somente pessoas com necessidades nutricionais. O recadastramento está sendo feito no sistema de mutirão, com equipes revisitando as famílias cadastradas.

Em outra frente, o banco de alimentos quer aumentar o número de parceiros para, com isso, melhorar a qualidade de vida de pessoas com carência alimentar. “Preciso de pessoas que nos doem alimentos ou que façam campanhas”, citou.

A unidade pretende incentivar – por meio das palestras motivacionais – o maior número de pessoas a disseminarem a proposta. O banco deve fornecer suporte para a realização de eventos como trotes solidários (que sejam revertidos em alimentos) em empresas e instituições de ensino, e arrecadações como pedágios (doações obtidas nos supermercados).

Por meio desse trabalho, a coordenação espera uma maior mobilização. A ideia é incluir, também, colaboradores “mais autônomos” – empresas e supermercados que possam não só doar, mas entregar os alimentos na unidade, localizada na rua Ernesto Lalau Amadei, sem número, na vila Paulina.

O motivo é que o órgão está sem veículo próprio. “Temos só um que, atualmente, está parado por conta de conserto”, disse Heloísa. De acordo com ela, há um defeito no cabeçote do motor do caminhão. A tampa de fechamento da parte superior do bloco de cilindros estaria “com sérios problemas”.

Além disso, o único meio de transporte da unidade está sem pneus. Para completar, um defeito na porta impede o uso do caminhão. Heloísa mencionou que ela não está fechando direito e precisa ser amarrada com arame.

Sem o veículo, o banco fica impossibilitado de buscar doações, ainda que haja oferta. Conforme ela, muitos colaboradores oferecem alimentos à unidade. Entretanto, não têm como realizar a entrega na unidade.

Como o banco também não conta com veículo próprio (está usando um emprestado da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social), a colaboração não chega.

A perua cedida será utilizada pelo órgão até que a Prefeitura tenha condições de realizar licitação para compra. A aquisição deve acontecer ainda neste ano. Até lá, a unidade precisará contar com a boa vontade dos colaboradores.

O panorama também obrigou o órgão a mudar a logística de entrega dos alimentos. Até pouco tempo, os assistidos recebiam cestas nas residências.

Em decorrência das dificuldades atuais da unidade, o banco leva as caixas com os produtos até os chamados pontos estratégicos. São centros de capacitação do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade), salão de igrejas, UBSs (unidades básicas de saúde) e centros de referência de assistência social.

“Agora, o banco encaminha os alimentos até os locais e as pessoas vão até eles para fazerem as retiradas”, descreveu. Todos os assistidos precisam assinar uma lista, para o controle das entregas. O novo método de atendimento está sendo “redobrado” desde março.

A assessora informou, ainda, que a unidade pretende estabelecer uma “parceria de fato” com as famílias. Isso significa que quem receber os alimentos assumirá uma contrapartida.

Os assistidos precisarão participar de atividades, como palestras sobre alimentação, aproveitamento de alimentos e outros temas. Também serão convidados a visitar o banco de alimentos.

A pretensão da coordenação é mobilizar o maior número de pessoas possível. Uma vez no espaço, as pessoas atendidas serão convidadas a colaborar com o trabalho. Heloísa explicou que a entidade busca novos voluntários.

“Se não auxiliar no trabalho em si, as pessoas poderão indicar novos parceiros, mais doadores. Quando as pessoas compreendem como funciona as coisas é que dão o valor exato daquilo que se é realizado”, complementou.

Na Câmara, Heloísa traçou um panorama sobre o funcionamento do órgão e pediu colaboração. A explicação fez parte das ações locais em comemoração à Semana Internacional da Alimentação Saudável, preconizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Missão

Os bancos têm como principais objetivos o recebimento e distribuição de alimentos. Os produtos são oferecidos para famílias em vulnerabilidade tanto social quanto nutricional.

Em Tatuí, a unidade tem trabalho considerado diferenciado: além de atender famílias em vulnerabilidade, contempla todas as entidades do município.

A equipe mantém, ainda, parceria com os mais diversos setores da administração municipal. “A meta é levar para as pessoas a saúde alimentar”, disse Heloísa.

O banco atua na captação de alimentos considerados impróprios para comercialização. Em geral, são hortifrutigranjeiros sem condições para venda, mas que ainda podem ser consumidos, uma vez higienizados e processados.

No município, o maior parceiro da unidade é a Coop (Cooperativa de Consumo). Além de frutas, verduras e legumes, a rede doa alimentos secos (farinha de trigo, grãos e outros). Nos próximos dias, o banco voltará a contar com apoio da Rede Barbosa. A parceria deve ter início a partir do dia 14.

Outra fonte de arrecadação é o PAA. Por meio dele, o alimento vem da agricultura familiar para o banco. “Infelizmente, o programa está sendo revisto pelo atual governo federal e não temos mais esta parceria”, ressaltou Heloísa.

Na outra ponta do trabalho está o atendimento às famílias, entidades assistenciais e os diversos setores da administração municipal. O “Zacharias Nunes Rolim” fornece alimentos para todos os centros de referência de assistência social da cidade.

Ele também contempla postos de saúde que oferecem atendimento a pacientes por meio do programa Hiperdia, voltado a hipertensos e diabéticos.

Nessas unidades, os profissionais servem saladas de fruta aos assistidos, seguidas de palestras nas quais se ensina a importância da educação alimentar.

Os alimentos cedidos pelo órgão são destinados, ainda, a entidades, como a Casa de Acolhimento Institucional, a cozinha municipal, o Fusstat, o Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) e a Santa Casa. Antes, passam por diversas etapas, que vão da higienização ao processamento.

Conforme Heloísa, o fluxo dos alimentos visa à política do “desperdício zero”. Nesse sentido, os que não podem ser destinados às famílias são reaproveitados para outras finalidades, como ração animal. “O que não tem nem como ser usado vai para compostagem”, contou.

A equipe do banco de alimentos emprega o mesmo princípio para as embalagens. Os plásticos que acompanham os alimentos são cedidos para a Cooreta (Cooperativa de Reciclagem de Tatuí). “Nossa meta é desperdício zero”, concluiu.