Baixa no preço e adversário ‘desleal’ diminui rendimento de recicladores





A redução dos preços dos materiais recicláveis, a saída da Proposta Engenharia e a concorrência da “coleta seletiva pirata” fez com que a renda dos trabalhadores da Cooreta (Cooperativa de Recicláveis de Tatuí) reduzisse em 25% em um ano.

Os preços de produtos plásticos como PET (politereftalato de etileno) e PP (polipropileno), e embalagens de leite longa vida (“Tetrapac”) caíram e reduziram o rendimento dos trabalhadores. O preço da sucata, por exemplo, baixou de R$ 0,35 por quilo para R$ 0,15 em 12 meses.

A redução no salário dos catadores foi de um quarto em pouco mais de um ano. A renda mensal saiu de R$ 1.200 para R$ 900. Com as receitas minguando, o número de cooperados diminuiu no mesmo tempo. De 45 associados há pouco mais de um ano, caiu para os atuais 25.

A captação de materiais diminuiu quase pela metade, reduzindo de 110 toneladas mensais para 60 toneladas. O aumento de catadores autônomos – sintoma da crise econômica – reduziu a disponibilidade de recicláveis para coleta pela Cooreta.

Entretanto, o que tem dado maior problema aos recicladores é um caminhão “pirata” que está passando nos mesmos dias e horários da cooperativa, gerando prejuízo. Quando os cooperados passam nos bairros, o serviço já foi feito pelo “concorrente”.

De acordo com a presidente da cooperativa, Cíntia Regina Siqueira Leonel, o “pirata” está se aproveitando dos horários de coleta seletiva para adiantar o trabalho e “furtar” recicláveis. A vantagem do “concorrente” é o uso de um caminhão mais novo, que rende mais no trabalho.

“Eles não têm lugar adequado para guardar o reciclável, não têm espaço para isso. Eles estão pegando mais do que nós, pois têm caminhão novo, que anda mais. Não é gente pobre que está fazendo isso”, denunciou Cíntia.

A presidente da cooperativa afirmou que já foi ao Departamento do Meio Ambiente reclamar da ação clandestina do caminhão irregular. Os catadores regularizados reclamam que a concorrência está se beneficiando de um serviço implantado por eles.

Outro problema enfrentado pela Cooreta é a frota. Dois caminhões velhos pesam no orçamento da associação. Um dos veículos, que custou R$ 18 mil para os cooperados, precisou de R$ 12 mil para a manutenção do motor. Os valores foram divididos mensalmente e pesam nas contas dos trabalhadores.

Um dos caminhões da frota tem 58 anos. A idade avançada dos veículos faz com que as quebras sejam constantes e a manutenção fique cara. A lentidão dos veículos também faz o serviço render menos.

A renda poderia ser maior se a cooperativa tivesse mais um caminhão na frota, de acordo com Cíntia. Um terceiro veículo era utilizado até a saída da Proposta Ambiental.

Além do trabalho com o lixo domiciliar, a empresa cedia um caminhão para a coleta seletiva. Com a quebra do contrato, os trabalhadores perderam o “melhor caminhão”.

“Nosso caminhão é muito grande, e paramos de coletar porque o nosso tem lugares que não consegue entrar. Quando tinha o caminhão da Proposta, eles faziam o centro e trazia bastantes coisas para a gente, trazia até mais do que nós”, disse.

Quando o terceiro caminhão estava ativo, a maioria dos bairros da cidade estava coberta pelo serviço da cooperativa. Agora, bairros como a vila São Cristóvão, vila Angélica e Jardim Tókio ficaram sem atendimento.

A cooperativa chegou a entrar em contato com empresas de grande porte da cidade e multinacionais para conseguir algum caminhão usado. Porém, nenhuma das empresas respondeu os ofícios. “Disseram que nos iriam responder, mas não tivemos mais retorno nenhum”.

Os coletores da cooperativa atendem sete bairros diariamente. A coleta domiciliar é realizada até o horário do almoço. Depois do meio-dia, os cooperados realizam recolhimento de recicláveis em empresas.

Uma das principais fornecedoras de recicláveis, uma indústria de sistemas elétricos, doa diariamente o conteúdo de um caminhão de papelão.

A contribuição com a cooperativa também é com a doação de sacos “big bags” de olarias. Os sacos, utilizados anteriormente para carregar carvão, são aproveitados pelos cooperados para armazenar recicláveis pré-separados.

Os plásticos passam por duas separações. Na primeira, é separada de outros tipos de materiais, como papéis, papelões e caixas de leite; na segunda, mais específica, os objetos são separados conforme a composição. Os materiais de PET, PP e PVC (cloreto de polivinila) são separados por cor, o que facilita a venda.

Após o processamento, os materiais são prensados. A cooperativa possui uma prensa. A segunda máquina é emprestada de um cliente. O valor de uma prensa nova pode chegar a R$ 13 mil.

Os materiais que não podem ser vendidos ou reciclados são destinados ao aterro sanitário. Um caminhão da Prefeitura faz a coleta diária na usina de reciclagem da vila Cesp.

A modernização da cadeia de separação dos materiais poderia se beneficiar com a instalação de uma esteira, pela qual os separadores poderiam fazer o trabalho mais rapidamente. Com o processo mais rápido, a capacidade de absorver a demanda seria maior. O novo sistema, porém, esbarra no alto custo.

Enquanto o sistema não é realidade, a população pode ajudar a cooperativa separando previamente os tipos de recicláveis, como papéis, plásticos, vidro e metal.